Distribuição

Retalho especializado em expansão

Por a 17 de Março de 2006 as 16:12

Retalho especializado em expansão

Os últimos dados disponíveis da Direcção-Geral da Empresa relativos aos licenciamentos no âmbito do novo regime legal para construção de superfícies comerciais, com a última actualização datada de 20 de Agosto, confirmam a dinâmica imprimida pelos diferentes operadores ao sector não alimentar, e muito particularmente pela Sonae Distribuição.

Nesta área de negócio, sem dúvida que o grande dinamizador é a Sonae, que explora várias insígnias e conceitos de retalho especializado em Portugal. Inclusivamente, diz-se que a recente alienação dos activos alimentares no Brasil à Wal-Mart poderá criar a necessária alavanca financeira para internacionalizar esta área de negócio. Compreende-se a opção estratégica da companhia, pois de acordo com os últimos indicadores da APED o ramo não alimentar evolui a ritmos bem mais altos do que o alimentar.

E as perspectivas são animadoras, na medida em que, mais uma vez com uma clara liderança da Sonae, o número de aberturas previsto para esta tipologia de loja é elevado. Nesse sentido, e sem prejuízo das unidades que entretanto podem ter entrado em funcionamento, destacam-se as 26 autorizações Worten, 22 Modalfa, 11 Sport Zone, oito Vóbis, oito Max Mat e ainda uma Zippy Kidstore, o que constitui, nesta fase, o plano de investimento e expansão definido pela Sonae para as suas marcas.

Nas restantes insígnias fortes no ramo alimentar, os números são bem mais modestos. A Auchan teve autorização para abrir quatro lojas Box – acopladas a hipermercados – a Jerónimo Martins apenas um Electic Co e os Mosqueteiros, que têm sido particularmente agressivos na diversificação da sua actividade, obtiveram licença para oito Vêtimarché, uma Stationmarché e sete unidades Bricomarché. O sector de bricolage, como se confirma pelo ambicioso plano da Leroy Merlin, o qual passa por 12 unidades em sete anos, irá ser alvo de investimentos, mas por enquanto apenas encontramos um Aki na listagem da DGE. Estas duas marcas são dos mesmos accionistas da Auchan, mas a gestão é totalmente diferenciada.

Em relação a outras insígnias de retalho especializado, destaque para o segundo Ikea do País, a que se junta ainda uma fábrica, quatro Decathlon, duas Fnac, sete Media Markt (os alemães da Metro mostram a sua força) e dez Office Centre, num projecto ambicioso que prevê um total de 40 unidades em território nacional. O El Corte Inglês inaugura em Gaia a segunda loja, mesmo que o conceito seja algo distinto do “tradicional” retalho especializado.

Ritmos elevados

No decurso de 2005, abriram 52 novas lojas não alimentares considerando o universo APED – exactamente as mesmas do que as alimentares – em grande parte por esforço da Sonae, responsável por 38 dos novos pontos de venda. A mesma associação revelou ainda estarem já licenciados 81 novos pontos de venda dentro do conjunto de operadores seus associados, o que demonstra de facto o dinamismo desta área de negócio, tanto mais que teremos ainda que juntar os activos dos Mosqueteiros.

Recorrendo ao último ranking APED, que terá que ser actualizado com os números acima descritos, verificamos que a liderança no ranking do retalho especializado pertence claramente à Sonae, que coloca cinco insígnias no top ten da facturação. O primeiro posto é pertença da Worten, com um volume de negócios a rondar os 380 milhões de euros, mais 100 milhões do que o El Corte Inglês, ainda que neste caso também sejam contabilizadas as vendas da loja alimentar. A insígnia espanhola, todavia, deverá impactar fortemente este mercado quando abrir a segunda unidade, projectada para Gaia e com inauguração prevista para este ano.

No terceiro posto surge a FNAC (200 milhões de euros), seguida da Office Centre, com 117 milhões de euros de facturação. Os especialistas em material de escritório dispõem de 17 lojas mas pretendem alargar o parque até às 40, o que também fará com que sejam candidatos a disputar os lugares cimeiros ao nível de facturação por insígnia. Muito perto surge a Aki, com uma facturação praticamente igual à Office, mas desta feita no conceito de bricolage.

A partir daqui até ao décimo classificado apenas encontramos insígnias da Sonae, com excepção da Ikea, ocupando a 7ª posição com negócios na ordem dos 80 milhões de euros. Sportzone (100 milhões), Modalfa (78), Vóbis (64) e Max Mat (58) completam o leque de marcas mais importantes dentro do negócio do retalho especializado a operar em Portugal. Como se viu acima, com a Sonae a liderar claramente no número de aberturas durante o exercício de 2005, a empresa de Belmiro de Azevedo reforçou ainda mais aquela que já é uma hegemonia clara de mercado.

O poder destas marcas, bem como o seu potencial, fica bem expresso na medida em que a Worten ocupa, em termos das insígnias de retalho em geral a operar em Portugal, o oitavo posto, superando muitas das históricas insígnias alimentares. Por outro lado, nas vinte maiores marcas ao nível da facturação encontramos 12 do ramo não alimentar, mesmo que boa parte delas estejam na esfera da Modelo Continente.

Assim sendo, e tendo em atenção que estes formatos estão a evoluir mais rapidamente e não são alvo de tantas objecções ao nível dos planos de investimento – é certo que a lei para as insígnias alimentares mudou, mas quatro anos de bloqueio e tudo o que foi dito entretanto tem obviamente que deixar as suas marcas – é de esperar um crescimento sustentado do retalho especializado nos próximos tempos, até porque são conceitos onde as margens e rentabilidade são especialmente atractivas.

Formatos rentáveis

O potencial para os formatos de índole não alimentar é actualmente perfeitamente reconhecido no mercado. Com as insígnias alimentares perto da saturação, particularmente se falarmos dos principais pólos urbanos, o retalho especializado assume-se como uma forte possibilidade de crescimento para os diferentes operadores, como se comprova pelas opções estratégicas da Sonae ou o cada vez maior interesse de outros grupos de distribuição.

Do ponto de vista da rentabilidade, é interessante verificar que os conceitos de retalho especializado conseguem performances assinaláveis em alguns indicadores. É o caso do volume de vendas por metro quadrado, onde a Fnac lidera, a Vóbis ocupa o terceiro posto e a Worten o quinto, considerando um universo de insígnias que inclui igualmente o ramo alimentar. Na mesma linha de raciocínio, mas analisando agora as vendas face ao número de check outs, verificamos que o retalho especializado está em grande, pois Vóbis, Fnac, Decathlon, Ikea e Conforama, por esta ordem, lideram o ranking. No top ten surgem ainda Aki, Worten e Office Centre. Apenas o Carrefour e a Auchan, com os seus hipermercados alimentares, se intrometem nesta tabela, ocupando respectivamente a 6ª e 7ª posições.

Já no que diz respeito aos volumes de venda por empregado, verifica-se aqui uma maior penetração dos conceitos de desconto alimentar, mas Worten (2º posto), Vóbis (3º) Modalfa, Office Centre e Fnac também entram nas dez insígnias mais rentáveis neste capítulo. Apenas no que diz respeito à área de venda – e não metros quadrados da superfície comercial – os formatos alimentares revelam melhores indicadores, uma vez que só a Worten entra no ranking, e mesmo assim no 10º posto.

Expansão geográfica

Voltando aos números da Direcção-Geral da Empresa, contabilizam-se nada mais nada menos do que 64 unidades Worten, sendo esta claramente a insígnia não alimentar com maiores níveis de penetração no território nacional. Tal facto leva a que as dimensões de superfície para superfície sejam bastante díspares, podendo variar entre 250 e 1.500 metros quadrados. Há mesmo uma Worten que tem 2.750 m2, mas constitui claramente um caso isolado na medida em que é a única que ultrapassa os 2.000 metros quadrados, área que obriga ao encerramento aos domingos à tarde.

Das restantes marcas com expressão em termos de número de lojas, destacam-se ainda as 51 Modalfa, 25 Sportzone, 14 Vobis e 14 Max Mat, todas insígnias da esfera Sonae, bem como 15 Aki, 16 Bricomarché e 18 Office Centre. Dado os altos índices de rentabilidade face ao investimento em loja, como vimos acima, os níveis de margem elevados e a facilidade de implantação destes formatos, sem grandes restrições por parte das entidades governamentais ou autárquicas, é de esperar que continuem a ser, dentro do universo do retalho, aqueles que evoluem de forma mais significativa.

Para o mercado português, o retalho especializado constitui uma clara oportunidade de crescimento, atendendo até à receptividade que o consumidor tem demonstrado. Os casos de sucesso sucedem-se, o que prevê a sua expansão para zonas mais interiores do país, onde existe ainda muito para fazer nesta área. Da mesma forma que o ramo alimentar se vê estrangulado nos principais pólos urbanos, rapidamente chegará a altura em que estas marcas sentirão necessidade de diversificar dimensões, procurando abranger mais clientes numa lógica de expansão territorial e fugindo aos níveis de saturação das grandes cidades.