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Café baixa consumo

Por a 17 de Março de 2006 as 16:15

Café baixa consumo

Já no exercício transacto, as principais empresas do sector do café em Portugal previam uma estagnação numa das bebidas favoritas dos portugueses. Os dados da AC Nielsen vêm agora reforçar a ideia de dificuldades, registando mesmo uma redução do consumo, tanto no canal Alimentar como no Horeca.

Os portugueses estão a beber cada vez menos café. Esta é a conclusão a que se chega, quando analisados os dados apresentados pela consultora AC Nielsen relativamente ao Índice Nielsen Alimentar (INA), bem como ao Índice Nielsen Consumo Imediato (INCIM). Ambos os canais apresentam quedas nas vendas no ano móvel Outubro/Novembro 05, ainda que mais significativas no canal Alimentar, o qual, inclusivamente, também viu descerem os preços de venda, situação que já não se verificou no Consumo Imediato. Se porventura alguns culpam a passagem do escudo para o euro para justificar os aumentos ontrade, o que em boa da verdade não deixa de ser uma realidade, também acontece que passados quatro anos da adesão de Portugal à moeda única europeia os preços continuam a subir no canal Horeca, enquanto no Alimentar a situação é inversa. Neste último, as descidas em valor são mais pronunciadas do que em volume, enquanto no Horeca, apesar da quebra em quantidade (ligeira) regista-se uma evolução positiva em valor.

Café em baixa no Alimentar

A Moderna Distribuição testemunha pela segunda vez neste século uma quebra nos cafés torrados, tanto em volume como em valor de vendas. Se o ano de 2004 ainda representou uma subida, ainda que ligeira, 2005 veio dar razão aos que vaticinavam uma estagnação, senão mesmo uma redução no consumo de café. Na globalidade, o café e misturas torrados, registaram uma quebra de 2,5 por cento no volume de vendas durante o Ano Móvel Outubro/Novembro 2005 da AC Nielsen, colocando a quantidade de café vendida na Moderna Distribuição em Portugal (ressalvando que os dados da consultora não compreendem a cadeia Lidl) abaixo das oito mil toneladas. Se a quebra em volume poderá ser considerada ligeira, em valor de vendas a redução foi, contudo, mais acentuada, cifrando-se nos 5,9 pontos percentuais, levando este dado a baixar de 57,2 para 54 milhões de euros no mesmo período, revelando que os portugueses estão a comprar menos café e a preços mais baratos.

Relativamente aos segmentos analisados pela AC Nielsen, o destaque vai claramente para a queda dos cafés torrados, não tanto em volume, mas em valor de vendas. Apresentando uma redução nas vendas em quantidade marginal de 0,1 por cento, não se poderá dizer o mesmo quanto à quebra em valor, já que o decréscimo de 5,6 pontos, revela que os portugueses compraram praticamente a mesma quantidade de café que em período homólogo, mas a preços bem mais baixos.

Em termos de números, as quebras aqui assinaladas fixam o volume de vendas no universo de torrados (inclui cafés, misturas e sucedâneos) nas 6,37 mil toneladas (6,41 mil toneladas em 2004), enquanto o valor desceu para os 49,9 milhões de euros (52,7 milhões em 2004). De referir que o café torrado é, de longe, o segmento com maior quota de mercado dentro deste universo, possuindo no período em análise cerca de 80 por cento do mercado em volume e cerca de 92 em valor de vendas. Note-se que este subsegmento de mercado tinha, ainda no exercício transacto, registado evoluções positivas de 4,6 e 3,2 por cento em volume e valor de vendas, respectivamente.

Queda generalizada

As descidas em INA registam-se em todos os segmentos de mercado. A longa distância do domínio do café torrado, vêm as misturas torradas, apresentando reduções bem mais significativas que os seus antecessores. Se a quebra em volume leva este subsegmento a baixar pela primeira vez neste século a fasquia do milhão de quilos, sofrendo uma baixa de 9,2 por cento, em valor, o decréscimo de 9,4 pontos faz as misturas fixarem as vendas nos 3,28 milhões de euros. Também aqui, embora numa tendência inversa ao verificado no caso anterior, as misturas mostram um comportamento contínuo, já que em 2004 os dados da consultora revelaram quebras de 5,6 por cento em volume e seis pontos em valor.

Mantendo a queda registada no exercício transacto, os sucedâneos torrados mais uma vez apresentam um decréscimo na Moderna Distribuição, relegando a respectiva quota de mercado para números pouco significativos. Assim, a juntar à descida de 16,3 por cento registada no ano de 2004, o Ano Móvel Outubro/Novembro 2005 vem mostrar uma queda de 13 pontos, colocando a quantidade comercializada nos super e hipermercados portugueses pouco acima dos 677 mil quilos. Já no capítulo do valor de vendas, a situação não é melhor, uma vez que a juntar à redução de 13,2 por cento do ano passado, os 12,9 de evolução negativa vêm baixar ainda mais a quota de mercado deste subsegmento.

Este comportamento do mercado dos cafés torrados obriga-nos a concluir que o consumo de café em Portugal é cada vez menos take-home, embora tenham surgido recentemente novos conceitos Premium associando marcas de café a máquinas expresso, mas que actualmente representam ainda muito pouco na globalidade deste mercado. As quebras na Moderna Distribuição, contudo, representam uma inversão da tendência de mercado, pois verificava-se uma transferência do ontrade para o offtrade, algo que no último ano móvel já não aconteceu.

Solúveis ainda mais baratos

No caso dos cafés solúveis a descida de preço é ainda mais significativa. Na realidade, a subida de 0,2 por cento registada em quantidade em Outubro/Novembro 2005 face a período homólogo, representa uma evolução marginal, colocando o volume total comercializado na Moderna Distribuição nas 2,97 toneladas. Marginal não foi, no entanto, a descida verificada no valor de vendas no período em análise, uma vez que os 4,9 pontos de evolução negativa, representam menos 2,1 milhões de euros, baixando assim o valor total para os 41,4 milhões de euros.

Dentro deste mercado, e no que diz respeito ao volume, o domínio é repartido entre as misturas e os sucedâneos solúveis, com resultados bem distintos no capítulo do valor de vendas, embora a posição de ambos seja equivalente no que respeito à quantidade vendida. Como se verifica, nesta categoria o comportamento é totalmente distinto dos torrados, onde quer misturas quer sucedâneos representam uma fatia muito pequena do mercado.

As misturas solúveis registam quebra em volume e valor de vendas, 4,3 e 6,7 por cento respectivamente, enquanto os sucedâneos solúveis apresentam uma descida somente no quadro nas vendas em valor (-1,8%), com a quantidade a evoluir 2,3 pontos percentuais. Estes dados colocam ambos os subsegmentos a pouca distância um do outro ao nível do volume (misturas 1,13 mil toneladas contra 1,11 mil toneladas dos sucedâneos), embora, em valor de vendas, a diferença seja mais significativa, já que aos 14,7 milhões de euros das misturas, os sucedâneos “respondem” com 9,5 milhões de euros.

Curiosos não deixam de ser os dados apresentados pelos cafés solúveis, uma vez que, representando somente 16 por cento do mercado global de solúveis, em volume, o peso em valor sobe para uns significativos 32 por cento, ficando a pouco mais de quatro pontos da quota de mercado dos misturas solúveis, apesar de este subsegmento representar mais do dobro em volume. No segmento cafés solúveis, os dados da AC Nielsen vêm revelar uma subida de 3,6 por cento em quantidade, fixando o total vendido nos 485 mil quilos, enquanto em valor, a descida de 7,5 pontos colocou o segmento como segunda força neste mercado “solúvel”.

Por fim, o subsegmento do capuccino parece estar a atrair cada vez mais consumidores, sendo a inovação a grande responsável por este comportamento, com o aparecimento de vários produtos, principalmente ao nível de sabores que levam os portugueses a preferir esta bebidas ao café tradicional. Embora o seu peso na globalidade do mercado seja ainda muito reduzido, os seis pontos de evolução em volume e os 5,9 por cento de crescimento em valor não deixam de indicar uma clara tendência para os capuccino, ainda para mais quando em período homólogo este subsegmento registou igualmente subidas, embora que um pouco mais ligeiras.

Horeca mais caro

Se o café está mais barato na Moderna Distribuição, no canal Horeca encontramos precisamente a situação inversa. Apresentando-se ainda como a forma preferida do consumidor português beber o seu café (quem não dispensa a sua bica pela manhã), o canal Horeca vende quase o dobro do café torrado, quando comparado com a Moderna Distribuição. O diferencial, naturalmente, é mais sentido em valor do que em volume. Aliás, a este propósito refira-se que o sector movimenta praticamente 308 milhões de euros, divididos em 213 milhões para canal Horeca e 95 milhões no INA (54 em torrados e 41 em solúveis).

Não deixa no entanto de ser uma realidade que o volume de vendas do café torrado no INCIM tivesse registado uma ligeira quebra de 0,5 por cento face a período homólogo, fixando a quantidade total abaixo das 16 mil toneladas. No capítulo das vendas em valor, o quadro é o inverso, apresentado o INCIM uma evolução de dois pontos percentuais no Ano Móvel Outubro/Novembro 2005 da AC Nielsen face a período homólogo. Assim, a subida representa mais dois milhões de euros que em 2004, fixando o valor total ligeiramente acima dos 213,1 milhões de euros.

Estes dados parecem querer revelar que, apesar da conjuntura económica actual vivida em Portugal não ser a mais favorável, o consumidor português prefere ainda beber o seu café fora de casa, sendo de destacar a importância que alguns conceitos de franchising especializado têm vindo a ganhar no espaço comercial português, oferecendo produtos e serviços mais inovadores e modernos que os tradicionais cafés.

Outro aspecto importante neste mercado, que é dominado por duas grandes empresas como a Delta e a Nestlé, apesar de haver outros players que querem ganhar força, é o facto de haver hoje em dia muito mais sinergias ao nível da distribuição com outros produtos. Nesse sentido, empresas de bebidas estão progressivamente a incluir café nos seus portfólios, como acontece com a Unicer ou com a Sumolis, após a recente aquisição da Nutricafés. Em resposta, e aproveitando igualmente a excelência do sistema implantado, o café, por exemplo através da distribuição da Heineken por parte da Nabeirodist (na esfera da Delta Cafés) também tem vindo a alargar o ramo de actividade.