Bebidas

Unicer cumpre promessa

Por a 17 de Fevereiro de 2006 as 10:11

Unicer

O «Ano XL» prometido pela Unicer está já em marcha, depois da apresentação das Super Bock Abadia e Mini, da sidra Decider e da gama de sabores Pedras. Ao mesmo tempo, e com base no projecto de produção de cevada nacional, a empresa pretende reforçar posição no Alentejo e no Ribatejo, regiões onde os níveis de implementação são ainda reduzidos por comparação com a penetração no resto do país.

O mercado de bebidas está ao rubro. Depois da surpreendente aquisição da Compal por parte da Sumolis, está aberta uma verdadeira guerra entre a Unicer e a Central de Cervejas, a qual tem resultado directo num ritmo de inovação e apresentação de novos produtos nunca antes visto. Desta feita, a empresa de Leça do Balio acaba de dar a conhecer ao mercado as primeiras novidades daquele que já foi categorizado como o ano XL, numa referência ao recente lançamento da garrafa de meio litro.

A Unicer tem neste momento três formatos de embalagem diferenciados em garrafa: a tradicional 33 cl, a XL e a Mini, uma novidade apresentada recentemente e que constitui a âncora para o objectivo de reforçar a posição da empresa no Alentejo e no Ribatejo, num projecto extremamente interessante que articula uma lógica de apoio à produção com a racionalização dos custos logísticos e com o natural interesse comercial, o qual será potenciado pela ligação afectiva que a Mini irá certamente conseguir naquelas duas regiões do país.

A ideia é simples: no âmbito do projecto de cevada nacional, lançado em 2001 e que em 2006, quando se atingir 9.000 hectares, irá satisfazer metade das necessidades de abastecimento da Unicer (o objectivo é ter todo o fornecimento “dentro de casa”), surge a Super Bock Mini como um «tributo» aos produtores que participam nesta iniciativa, precisamente localizados no Alentejo e no Ribatejo, onde a quota de mercado é mais fraca. Nesse sentido, e tendo também como pano de fundo os hábitos de consumo, muito focalizados no formato mini, a Super Bock lança uma referencia exclusivamente produzida com malte de cevada oriunda dos produtores agregados, o que também irá gerar por certo um sentimento emocional capaz de inverter a histórica tendência para as dificuldades nas vendas.

Tradições ancestrais

O lançamento da Abadia é outro dos momentos de elevado interesse na Unicer. Comparando com o principal rival, Joana Queiroz Ribeiro, directora de comunicação, assegurou que esta proposta «vai ser colocada no mercado com toda a força, ao contrário do principal concorrente, que apenas terá um milhão de garrafas no segmento». Esta é uma cerveja de receita artesanal, com 6,4º de teor alcoólico e inspiração monástica, cujo lançamento tem por base «um estudo de mercado exaustivo desenvolvido pela Unicer em 2003, respondendo à existência de um franco potencial de crescimento no mercado cervejeiro português, nomeadamente em relação a alternativas originais».

A Abadia será acompanhada por uma forte campanha publicitária nos diversos suportes e chegará ao mercado nos formatos 33 cl (tara perdida e retornável) e em barril de 30 litros. O nível de distribuição em canal Horeca, segundo nos confidenciaram responsáveis da marca, deverá rondar os 60%, o que também contribui para reforçar a ideia de que estamos perante uma proposta para a qual as expectativas são elevadas. No Alimentar, estarão disponíveis os já tradicionais 6Pack.

Para quem não gosta de cerveja, a Unicer deu também a conhecer a Decider, uma sidra que pretende conquistar uma nova faixa de consumidores. De facto, e segundo estudos realizados pela empresa, o mercado nacional divide-se em três tipologias de consumo: um milhão e 200 mil pessoas que bebem regularmente cerveja, e que representam 75% do consumo total, outra fatia exactamente igual de pessoas que bebem de forma ocasional (responsáveis por 25% do consumo) e quatro milhões e trezentas mil pessoas que não optam, pela bebida. Decider, disponível em 33 cl tara perdida (caixa 24 e 4 Pack) e barril de 30 litros, destina-se a todos que apreciem bebidas com álcool – tem 4,7 graus de teor alcoólico – mas que não gostam de cerveja: O lançamento será apoiado por uma campanha publicitária orçamentada em três milhões de euros.

Pedras naturais

Já no segmento de águas gaseificadas com sabor, foi apresentada a gama Pedras, constituída pelas referências Limão & Chá Verde, Pêssego & Chá Branco e Framboesa & Ginseng. Esta é a primeira linha no segmento totalmente produzida com ingredientes naturais e sem conservantes, destacaram responsáveis da Unicer, trazendo para este mercado um posicionamento premium e uma clara diferenciação (ao nível da combinação de sabores) que se justifica pelas elevadas taxas de crescimento destes produtos, na ordem dos 50%.

Este será um mercado bastante difícil de conquistar, razão pela qual a Unicer o aborda com uma postura de clara diferenciação. De facto, apesar de ser líder nas águas com gás standart, com uma quota de 42,8% em volume, a Unicer combate com a força da Compal no segmento sabores, pois a marca Frize detém actualmente uma participação de 70% do mercado, também em volume. A empresa de Leça do Balio, mesmo assim, e através da Vidago sabores, conta com 21,5% deste segmento, revelou Ferreira de Oliveira, presidente do conselho de administração.

Nesta área das áreas gaseificadas, a Unicer beneficia do projecto turístico Aquanattur, o qual considera ser «a âncora» para a promoção das marcas Pedras Salgadas e Vidago. Num processo que foi sendo negociado ao longo dos anos, a empresa acaba de assinar um protocolo de cooperação com o Governo português, o qual irá permitir relançar esta vertente de actividade com outra dimensão e impacto.

Barril a crescer

Uma das vertentes em que a Unicer mais aposta é o barril, uma vez que Ferreira de Oliveira considera ser esta a «área mais difícil de trabalhar», sendo ao mesmo tempo «determinante e estruturante para as empresas, razão pela qual foi alvo de um forte investimento ao nível do apoio técnico ao cliente». De facto, esta foi uma preocupação permanente das cervejeiras durante o exercício, apostadas na melhoria das condições em que a fresquinha de pressão é servida.

Segundo adiantou o administrador, no ano móvel Outubro/Novembro, e falando ao nível do volume, a quota de mercado Unicer em barril situa-se nos 75% a Norte e nos 47,4% a Sul, dados estes em volume de vendas. O ano móvel Outubro/Novembro 05 mostra uma evolução em ambas regiões, pois no ano anterior as quotas estavam em 71,8% no Norte e em 45,2% no Sul. Em termos globais, Ferreira de Oliveira referiu igualmente uma evolução, com a participação a subir de 57,7% para 60,3 pontos. Contudo, estes são dados que representam uma média ponderada do ano. Nesta óptica, o administrador salientou o facto de os últimos meses registarem já quotas a rondar os 62 por cento.

O mercado é totalmente dominado por duas grandes empresas, que inclusivamente têm vindo a acentuar a sua participação, em todas as vertentes de negócio. O mesmo acontece no barril, onde a quota de outras companhias desceu de 4,0 para 3,1%. A tendência parece ser clara, até porque no bimestre Agosto/Setembro essa participação situava-se apenas nos dois pontos, o valor mais baixo do ano, e em Outubro/Novembro registava 2,9 pontos, ou seja, abaixo da média ponderada face ao exercício completo.

Motivo de orgulho para a Unicer é o facto de ter ascendido à liderança na área I Nielsen (Lisboa) no que diz respeito ao barril, o que nunca antes tinha acontecido. O principal concorrente detém uma quota de 44,4 por cento, contra os 51,2 da Unicer, adiantou Ferreira de Oliveira, assinalando igualmente que a empresa também ocupa a primeira posição no Algarve, ainda que quando olhamos a Área V (juntando o Alentejo), a Central de Cervejas assuma o primeiro posto, com 48,8% por comparação com os 47,7 pontos da Unicer.

Mercado global

O sucesso no barril, contudo, não invalida uma realidade: a Unicer perdeu quota no mercado total, passando de 57,1 para 55,7 por cento. O administrador desdramatizou a situação, salientando que variações desta ordem são pouco expressivas e apenas demonstram alguma estagnação, reflectindo pequenas oscilações que são sempre inevitáveis. De qualquer forma, a Central de Cervejas evoluiu de 37,8 para 40,4 por cento, enquanto a Drinkin (cerveja Cintra) descia para 0,8%, contra 1,8 pontos registados um ano antes. Outras empresas de cerveja conseguem 3,1% do mercado.

Outra justificação apontada por Ferreira de Oliveira é o facto de a tara perdida ter evoluído 24,8% no canal Alimentar, enquanto a tara retornável descia 6,5%. Ora tradicionalmente a Unicer é mais forte na tara retornável, que segundo o administrador é a melhor solução de embalagem do ponto de vista ambiental. O Canal Alimentar registou uma evolução de oito pontos positivos no ano móvel em análise, impulsionado pela tara perdida, mas também aqui Ferreira de Oliveira considera os números falaciosos, uma vez que este comportamento tem por base a guerra de preços que se verificou no canal, a qual fez com que o Horeca fosse comprar ao Alimentar, distorcendo a verdadeira evolução de mercado, justificou. A quota da Unicer no INA baixou para 54,9% em volume, contra 57,4 no ano anterior. No INCIM, dispõe agora de uma participação de 56,2 pontos, contra 57 no ano anterior.

Certo é que o ano XL está em marcha, começando da melhor forma ao nível de lançamentos estruturados e com a sempre exigível dose de inovação capaz de fazer gerar valor no mercado. Da parte da Unicer, segundo Ferreira de Oliveira, a estratégia vai manter-se ao longo de todo o ano, como aliás já aconteceu em 2005: «O nosso concorrente diz que vai lançar uma novidade por mês. Estão atrasados. Isso já nós fizemos o ano passado», ironizou.

É de esperar uma animação particularmente dinâmica durante 2006 no mercado de bebidas. A começar pelas cervejas, mas estendendo-se a uma lógica de portfólio alargado, que aliás constitui a actual filosofia da Unicer. A empresa, por exemplo, está também a desenvolver os vinhos e os cafés, áreas onde, todavia, ainda não há novidades.