FMCG Marcas

Fatiados determinam consumo

Por a 10 de Janeiro de 2006 as 18:00

Estudo transformados

O consumo de transformados de carne está em alta em Portugal, revelando os dados da AC Nielsen subidas nos mais importantes segmentos de mercado. Destaque para os produtos fatiados no fiambre e presunto que, devido ao factor conveniência, registaram incrementos a dois dígitos, tanto em volume como em valor.

Ao contrário da análise efectuada no ano passado relativamente ao mercado dos transformados de carne em Portugal, em que foi possível verificar quebras em produtos como o fiambre embalado, na generalidade do presunto (excepto nos fatiados) e nas salsichas, os dados disponibilizados pela AC Nielsen referentes ao Ano Móvel Agosto/Setembro 2005 vêm indicar um crescimento em quase todos os segmentos de mercado.

Depois de analisados os diversos mercados percebe-se que a conveniência constitui um factor muito importante neste momento, admitindo Luís Fernandes, director comercial da Campofrio Portugal, que «uma das maiores tendências dos segmentos em que trabalhamos é a passagem para formatos cada vez mais “convenience”, quer em formato (por exemplo, de Produtos de Corte – comprados no balcão de charcutaria – para Livre Serviço – produtos já fatiados), quer em facilidade de elaboração (refeições refrigeradas pré-feitas). Por outro lado, é inegável a procura por parte dos consumidores de novos sabores, mesmo em produtos tradicionais».

As próprias exigências da vida moderna a isso obrigam, confirma Lúcia Gomes Carriche, gestora da Academia de Charcutaria (Nobre), referindo que «os hábitos de consumo dos portugueses têm acompanhado as alterações do seu ritmo de vida. Esse ritmo mais elevado em conjunto com um maior acesso à informação, faz com que qualidade e conveniência sejam requisitos principais» admitindo que «o peso do self-service é cada vez maior na estrutura das nossas vendas».

Contudo, no que diz respeito à realidade nacional, Luís Fernandes revela que «ainda existe um grande caminho a percorrer em termos de consumo per capita versus outros países europeus, tal como Espanha, França ou Reino Unido. Essa diferença é facilmente explicável quer pela maior oferta existente nesses países, especialmente no tocante a refeições pré-feitas e complementos de refeição, quer pelo muito maior espaço atribuído no ponto de venda nesses países a produtos cárnicos refrigerados (Livre Serviço), especialmente quando comparado com o espaço de produtos congelados».

Fatiados …

No fiambre, os dados do Índice Alimentar Nielsen apresentam um mercado em evolução, tanto em valor como em volume, exibindo crescimentos muito perto dos dois dígitos. A subida de 9,7 por cento em volume foi acompanhada por uma evolução de 8,9 pontos em valor, comportamento especialmente significativo ao espelhar um crescendo no consumo de fiambre, depois de, entre o período de 1998 a 2002, se ter registado descidas constantes na quantidade e valor vendidos. Este segmento de mercado aproxima-se dos 100 milhões de euros por exercício.

Ainda que o fiambre avulso continue a representar a grande maioria das vendas, detendo 87 por cento da quota de mercado em volume e 82 em valor, o grande destaque terá que ir para a evolução de quase 30 pontos percentuais sentida nas propostas fatiadas. Sem dúvida que a conveniência possui um papel fundamental para estas evoluções de 27,7 por cento em volume e 25,2 pontos em valor, confirmando assim os crescimentos de 29,8 (volume) e 24,2 (valor) registadas no Ano Móvel Outubro/Novembro 2004. Os fatiados de fiambre já valem 16 milhões de euros por ano e apresentam clara tendência para subir.

… e mais fatiados

No presunto, a situação é muito similar à do fiambre, destacando-se claramente o subsegmento dos fatiados, permitindo a esta categoria manter evoluções interessantes no mercado e recuperar dos resultados negativos apresentados ainda no ano passado. Na realidade, após o Ano Móvel Outubro/Novembro 2004 da AC Nielsen revelar decréscimos de 7,9 por cento em volume e 2,4 pontos em valor, o período aqui em análise (Agosto/Setembro 2005) indica uma recuperação significativa do mercado do presunto. Apresentando subidas de 3,8 pontos em volume e 5,1 pontos em valor, o Índice Alimentar Nielsen aponta o presunto com o segundo maior crescimento dentro do mercado dos transformados de carne, permitindo ultrapassar as 3,2 mil toneladas em quantidade e chegar bem perto dos 40 milhões de euros nas vendas em valor, quando, em 2004, estes números eram de três mil toneladas e 36,8 milhões de euros, respectivamente.

Mais equilibrado que o fiambre, no mercado do presunto não existe nenhum subsegmento que se destaque significativamente, aparecendo o presunto avulso com maior quota de mercado, tanto em volume como em valor, apesar de ser o único a registar evoluções negativas. Na realidade, os 4,1 pontos negativos em volume e os 1,9 por cento de decréscimo em valor, colocam o presunto avulso com 1,6 mil toneladas e bem perto dos 17 milhões de euros, respectivamente. Estes decréscimos ficam, no entanto, longe daqueles apresentados na última análise efectuada ao mercado do presunto pela Hipersuper (edição N.º 155), altura em que este subsegmento de mercado apresentava descidas de 11,6 pontos em volume e 6,9 por cento em valor.

Alteração profunda foi registada no presunto embalado. Na verdade, passar de decréscimos de 7,5 pontos em volume e 4,9 em valor, no Ano Móvel Outubro/Novembro 2004, para subidas de 10,7 em quantidade e 8,2 em valor de vendas no período agora em análise, manifesta um comportamento bem diferente do mercado de presunto embalado. As evoluções agora registadas permitem ao presunto embalado colocar-se mais perto do seu “concorrente” avulso, apresentando quotas de 35 pontos em volume e 30 por cento em valor, correspondendo a 1,1 mil toneladas e 11,8 milhões de euros, respectivamente.

Destaque merecem, tal como no fiambre, os fatiados de presunto, apresentando evoluções na casa dos dois dígitos, mantendo o comportamento registado no exercício transacto. De facto, os 19,8 pontos de subida registados em volume de vendas permitem a este subsegmento chegar muito próximo das 500 toneladas, aumentando a quota de mercado para 15 por cento. No que diz respeito ao valor de vendas, a subida de 16,1 pontos percentuais colocou o presunto fatiado acima os dez milhões de euros, aumentando mais de 1,4 milhões de euros a facturação nesta categoria. Numa altura em que a conjuntura económica vivida em Portugal condiciona as compras efectuadas pelos consumidores, não deixa de ser curioso verificar que a preferência vai para produtos geralmente mais caros, sobrepondo-se a conveniência ao preço.

Salsichas acompanham evolução

Acompanhando a tendência geral de subida dos outros dois mercados de transformados de carne – fiambre e presunto -, também as salsichas demonstram uma evolução no Ano Móvel Agosto/Setembro 2005. De acordo com os dados da consultora, o mercado das salsichas registou crescimentos de 3,8 por cento em volume e 0,9 pontos em valor de vendas, colocando este segmento de mercado acima dos 30 milhões de euros. As salsichas em lata continuam a dominar este mercado com quotas de volume próximas dos 84 por cento, enquanto no capítulo das vendas em valor este número baixa para os 62 pontos percentuais. Apresentando um crescimento de 2,6 por cento, as salsichas em lata ultrapassam no Ano Móvel Agosto/Setembro 2005 as 34,6 milhões de unidades, enquanto em valor, a descida de 0,1 pontos mantém este subsegmento acima dos 19 milhões de euros, constituindo esta a única evolução negativa no mercado das salsichas.

Em frasco, as salsichas demonstram uma evolução significativa, apresentando crescimentos de 10,7 por cento em volume e 2,7 pontos em valor. Estes dados permitem uma quota de 16,5 pontos, enquanto em valor os 38 por cento de quota de mercado representam vendas em valor superiores a 11,7 milhões de euros.

Contabilizadas em quilos, ao contrário dos restantes segmentos, aparecem as salsichas embaladas em vácuo. Tal como nos outros casos, também aqui se registam evoluções positivas, apresentando o volume de vendas um crescimento de 8,3 pontos. Acentuado foi o aumento no valor de vendas, com evolução de 20% que faz o subsegmento atingir três milhões de euros em vendas.

Canal moderno decisivo

No que diz respeito à importância da Moderna Distribuição, a máxima na Nobre é: «ouvir o consumidor e antecipar as suas necessidades», adiantando Lúcia Gomes Carriche que «este ano novos lançamento se avizinham, sempre na mesma filosofia de conveniência e inovação», seguindo os últimos lançamentos realizados pela marca «a lógica de uma evolução de hábitos/necessidades do consumidor». A empresa tem sido uma das grandes impulsionadoras deste mercado, como o provou com o lançamento, há alguns anos, de uma linha Júnior, ajudando a segmentar o mercado. Mais recentemente, a Nobre apresentou a gama Naturíssimos e criou um novo segmento através da linha de produtos Nobre Viva.

Do lado da Campofrio Portugal, Luís Fernandes admite que «a Distribuição Moderna ocupa um lugar bastante importante nas categorias por nós trabalhadas, a par da chamada Distribuição Tradicional, especialmente em categorias mais tradicionais que se encontram presentes em praticamente todos os lares portugueses. Nas novas categorias, de consumo mais jovem e urbano, aí a importância da Moderna Distribuição é mais elevada».

Quanto a novidades, «a Inovação é um dos vectores chave. Procuramos, através de um forte departamento de Investigação e Desenvolvimento, trazer novidades regulares para o mercado que aportem dinamismo e valor acrescentado e façam crescer o valor das categorias. Exemplos claros dessas inovações são – Pizzas refrigeradas, Salsichas em Vácuo, Fiambres de Perna Extra e Peru feitos em Forno Lenha, Hamburgueres Pré-Assados Refrigerados, Fatiados e Enchidos de Aves».

Em suma, estamos perante um mercado que recuperou os índices de crescimento, muito impulsionado pelo sucesso dos fatiados e pelo esforço de inovação das empresas, o qual tem sido particularmente pronunciado nos últimos anos. Ainda que estes sejam segmentos de mercado que oscilam bastante de ano para ano, registando-se por vezes variações completamente inversas ao registado no exercício anterior, é de esperar que a dinâmica verificada no último ano móvel possa ser mantida durante 2006.