Distribuição

Grupos nacionais nos dois dígitos

Por a 13 de Dezembro de 2005 as 15:00

Grupos Nacionais

Os resultados do terceiro trimestre reportados pelos dois grandes grupos de distribuição nacionais mostram a dinâmica que ambos conseguiram implementar nas suas operações, com oscilações de dois dígitos em vários indicadores. Tendo em atenção as licenças entretanto atribuídas, o próximo exercício deverá revelar uma performance ainda mais acelerada.

Começando pelo líder de mercado Modelo Continente, é de referir uma evolução de 12% ao nível das vendas brutas, comportamento que tem por base uma variação de quatro pontos “dentro de portas” e um acréscimo superior a 30% na actividade internacional, nomeadamente no mercado brasileiro. Naquele país, a Modelo Continente tem em conta «uma variação de 12% do volume de negócios da empresa em moeda local, que decorre de um aumento de 18% do universo de lojas e reflecte a alienação de unidades na área metropolitana de S. Paulo», concretizada em Junho deste ano após a venda de dez hipermercados aos franceses do Carrefour. Por outro lado, os resultados beneficiam ainda de uma apreciação de 18% na cotação média do Real face ao Euro.

Quantos aos resultados líquidos, os activos do grupo comandado por Nuno Jordão atingiram os 65 milhões de euros, em linha com o que se tinha verificado em 2004. Por sua vez, o cash-flow operacional acumulado totalizou 191 milhões de euros, ou seja, 6,8% das vendas líquidas, representando mais sete milhões de euros do que em igual período de 2004, resultado para o qual contribuiu a referida alienação da rede de lojas no Brasil.

Retalho especializado

A perspectiva do grupo face ao ambiente económico vivido em Portugal é clara: «A Modelo Continente tem vindo a operar num quadro de persistência de um sentimento económico muito negativo (…) o país tem vindo a perder posição competitiva (…) e este contexto tem tido reflexos muito concretos e imediatos no comportamento do consumidor nacional, que tem vindo a privilegiar gamas de produtos de preço médio mais baixo e desenvolvido uma forte apetência por acções promocionais».

Adicionalmente, «a empresa tem estado sujeita a um incremento da concorrencialidade do mercado, por via do aumento da área de venda disponível em mais de 7% ao longo dos dois últimos anos. Este acréscimo corresponde a cerca de 90.000m2 e traduz-se numa redistribuição da quota de mercado, antevendo-se que esta tendência se venha a agravar á medida que se concretizem as licenças de abertura atribuídas no âmbito do novo regime de licenciamento comercial», declarou a Modelo Continente.

Neste contexto, a estratégia passa por «ajustar a operação, aproveitando ainda a oportunidade do novo quadro regulador do sector para estender a cobertura nacional do seu parque de lojas. As opções definidas têm confirmado a resistência dos formatos de base alimentar e evidenciado o desempenho das insígnias de base não alimentar», revelou o grupo ao justificar a clara aposta nos conceitos de retalho especializado. Esta opção, aliás, é legitimada através dos números: o volume de vendas brutas em Portugal atingiu 2.186 milhões de euros, uma evolução de quatro pontos percentuais que, todavia, engloba uma variação de apenas dois pontos na área alimentar, ao mesmo tempo que as insígnias especializadas cresceram na ordem dos 10%.

Durante o período, a empresa abriu cerca de 40.000m2 de área de venda, o que corresponde a cinco novas lojas alimentares e 33 no retalho especializado No total, falamos de um universo de 320 unidades de venda, num total de 473.000 m2. Aliás, no âmbito das novas licenças concedidas ao grupo, também se destaca claramente a vertente não alimentar, o que pressupõe o reforço da lógica de expansão destas insígnias, particularmente fora dos principais centros urbanos.

Brasil em grande

Quanto ao Brasil, a Modelo Continente destaca o contexto de forte instabilidade política que se tem vivido no país, bem como a desaceleração dos níveis de crescimento económico para cerca de três pontos percentuais. Em acrescento, deve referir-se que o desempenho financeiro no “país irmão” está essencialmente alavancado pelas exportações – que continuam a crescer a bom ritmo – e não pela procura interna, a qual tem sido fortemente penalizada por taxas de juro na ordem dos 19%. De facto, o Brasil tem neste momento um dos referenciais de financiamento com maior disparidade face à inflação, que está calculada nos cinco pontos percentuais, factor penalizante para o investimento e para a própria procura em geral.

Ainda assim, as vendas brutas subiram para 3,4 mil milhões de reais, valor que representa um acréscimo de 12% em moeda local, e isto já incluindo a venda de dez lojas de grande dimensão, em meados do exercício. Face ao actual parque de lojas, a evolução situou-se nos 18%, o que representa variações acima da média de mercado. Além disso, fazendo o câmbio para a moeda europeia, o volume de vendas ascendeu aos 1.094 milhões de euros, ou seja, um aumento de 30% depois de incorporada a apreciação da cotação média do Real face ao Euro.

Por muito que se fale da possível venda de mais activos, nomeadamente aos norte-americanos da Wal-Mart, a verdade é que a Modelo Continente continua a evidenciar uma forte dinâmica no mercado brasileiro. Neste momento, e depois da alienação de dez unidades, como se disse, a empresa conta com uma parque de lojas de 160 espaços, correspondendo a 372.000 m2 de área de venda.

Até final do ano, a companhia vai inaugurar mais duas unidades Modelo e ainda um Continente na Covilhã integrado no Serrashopping, isto após abertura em Loures, no final de Outubro. Em 2006, o processo de expansão vai sofrer, como referido, alguma aceleração. A Modelo Continente, de acordo com a última actualização da DGE, dispõe de autorização para 23 unidades Modelo, o que vem confirmar a intenção estratégica de desenvolver os médios formatos em detrimento dos hipermercados, para os quais, no âmbito do novo enquadramento, a Continente não tem qualquer licença, limitando-se a prosseguir os projectos já antes autorizados. Em grande estarão as insígnias de retalho especializado, onde a empresa já lidera e constitui o operador com maior número de licenças, com um total de 77 espaços onde se destacam as 25 Worten.

Recuperação nacional

Já o grupo Jerónimo Martins continua a divulgar resultados muito satisfatórios, especialmente tendo em atenção as dificuldades vividas há alguns anos atrás. Assim, no terceiro trimestre do ano as vendas aumentaram 9,7% por comparação com os primeiros nove meses de 2004, atingindo 2,8 mil milhões de euros. Os resultados líquidos situaram-se nos 64,2 milhões de euros, o que também revela uma evolução muito assinalável, desta feita de 10,5% face ao período homólogo. Segundo o grupo, e apesar do ambiente fortemente competitivo, «esta performance tem por base o sucesso das estratégias implementadas».

A Pingo Doce tem sido a principal alavanca em termos internos e, considerando a comparação dos terceiros trimestres de 2004 e 2005, voltou a crescer 5,2%. Alvo de uma intensa redefinição estratégica que passa por um maior selectividade de sortido, reforço da marca própria e deflação de 3% por exercício, a cadeia passa agora por uma fase ascendente ao dispor de sete autorizações, mesmo assim bem atrás da concorrente Modelo e das insígnias classificas como discount que superam as 30 unidades. De qualquer forma, falamos de um parque de lojas muito maior, pois já existem 179 lojas da insígnia.

Por outro lado, o reposicionamento do Feira Nova, apostando agora nos médios formatos, também é classificado pelo Jerónimo Martins como um «sucesso» com reflexo directo nas vendas, uma vez que o volume subiu seis pontos percentuais. Numa base comparativa face ao parque de lojas, e ainda por comparação com o terceiro trimestre de 2004, os hipermercados cresceram 0,9%, enquanto os médios formatos confirmam a oportunidade da inversão estratégica definida para a insígnia, depois de uma evolução de 2,7%. Em Setembro, após a inauguração de Viseu, existiam em funcionamento 29 unidades Feira Nova, sabendo-se que o grupo dispõe de 14 licenças para a insígnia.

Quanto à Recheio, o grupo salienta «os crescimentos negativos da generalidade dos operadores grossistas», facto que eleva ainda mais os «sinais de recuperação» da Recheio, que segundo comunicado do grupo regista uma evolução das vendas para o canal Horeca de 3,6%, as quais, contudo, «não conseguiram compensar totalmente a pressão que continua a persistir sobre o canal de retalho tradicional». Assim sendo, os resultados dos primeiros nove meses revelam um decréscimo de 2,5% nas vendas.

Neste foco de análise – os primeiros nove meses do ano – a insígnia Feira Nova também decresceu 0,6%, sofrendo os efeitos da evolução negativa verificada nos grandes formatos (1,5%) e que não foi compensado pelo crescimento de 0,9 pontos nos denominados mini-hipermercados.

Polónia prossegue expansão

Na Polónia continua o excelente desempenho. As vendas evoluíram 29% em euros e 13% em zloty, registando-se também, numa base like for like, uma evolução de cinco pontos percentuais, declarou o grupo, que adiantou ainda considerar estes valores «particularmente relevantes tendo em conta o panorama da distribuição alimentar polaca, caracterizado pelo abrandamento generalizado das vendas na distribuição moderna».

O volume de negócios nos primeiros nove meses do ano ascendeu a 964 milhões de euros por comparação com os 749 milhões registados em igual período de 2004. No final dos nove meses em consideração, o parque ascendia a 760 espaços, quando em Setembro de 2004 se situava nos 700. O objectivo passa por fechar o exercício com 790 unidades e ultrapassar a simbólica fasquia das 1.000 até 2008, com base num processo de expansão particularmente ambicioso e que prevê a inauguração de 80 a 100 lojas por exercício. Aliás, a confiança é tal que estes planos foram mesmo revistos em alta, pois inicialmente o ritmo estava calculado em “apenas” 50 unidades ao ano.

Noutra frente de batalha, o grupo aguarda o resultado da fase de pedidos de licenciamento efectuada em Abril, que deverá ter resposta até final do ano e que permitirá reforçar a presença das duas insígnias retalhistas em Portugal, para as quais tem já 21 espaços abrangidos pelo novo regime de aberturas, sete na esfera Pingo Doce e 14 Feira Nova. Certo é que, tal como havia anunciado há dois anos, o grupo Jerónimo Martins continua em «fase de aceleração», o que significa a vontade de investimento e planos de expansão ambiciosos, depois de reorganizada toda a estrutura de activos e definidas as políticas comerciais de acordo com critérios mais pragmáticos face à realidade do grande consumo.