Europeus cortam no Natal

Por a 13 de Dezembro de 2005 as 15:00

Natal

A poucos dias de começar a corrida às compras de Natal, os consumidores europeus estão mais sensibilizados para a relação qualidade/preço e apostam em brinquedos educativos. Embora a procura obedeça a critérios diferentes consoante o país, CD, DVD e livros estão no topo das preferências. Este é o cenário traçado para o Natal dos europeus pela empresa de consultoria Delloitte, que aponta uma redução média de 3% nos gastos desta quadra.

Por toda a Europa, vão registar-se reduções nas despesas de alimentação, presentes ou decoração para comemorar a quadra natalícia. O estudo indica que os europeus continuam muito ligados à tradição natalícia, mas os efeitos da crise que afecta o velho Continente vão reflectir-se na redução média de três por cento, relativamente ao ano passado, em gastos com o Natal. A excepção vai para a Irlanda e Espanha, países onde o orçamento natalício vai sofrer um aumento significativo.

Os gastos dos consumidores são influenciados por numerosos factores, como por exemplo o ambiente político. Em Portugal, para um universo de 400 indivíduos, 86% dos inquiridos revelam estar descontentes com a situação política actual, apontando esta razão como um dos factores para gastar menos. O grau de confiança na política económica do Governo é o motivo mais determinante para as decisões dos consumidores, logo após a subida do custo de vida e o rendimento familiar. No que diz respeito às questões económicas, a opinião dos países europeus é unânime: a grande maioria revela estar insatisfeito com as perspectivas da economia para 2006.

Por outro lado, a ocorrência de situações imprevistas, como é exemplo a recente pandemia da gripe das aves, também vão produzir alterações significativas nas intenções de compra. As aves vão ter menor presença na mesa dos europeus. O aumento do preço dos combustíveis também contribuiu para o emagrecimento do orçamento do consumidor. Assim como a falta de estabilidade profissional, que constitui outro factor destacado pelos inquiridos para justificar as reduções na compra.

Os portugueses são os que manifestam as piores perspectivas económicas. No inquérito em análise, realizado pela Internet, entre 10 e 25 de Outubro de 2005, 74% dos portugueses responderam acreditar que a economia vai manter-se em recessão. Os alemães, os franceses e os belgas também se revelam bastante pessimistas, com a força das respostas de 60% dos entrevistados. Em contrapartida, 86% dos irlandeses mostram-se bastante optimistas em relação à economia, assim como em relação ao provável aumento do seu rendimento familiar.

Mais marcas próprias

No que diz respeito às intenções de gastos com o Natal, é esperado um aumento de oito por cento na Irlanda e de seis na Espanha. Países como Itália, Alemanha e Holanda, assinalam uma redução significativa, que varia entre cinco a nove pontos percentuais. Portugal reduz em seis por cento as intenções de compra, com os inquiridos a indicarem o aumento do custo de vida como principal motivo para gastar menos (74,4%).

De acordo com o inquérito, os produtos inovadores levam os europeus a gastar mais nas compras, sendo este factor mais evidente entre os espanhóis e os franceses. Estima-se que a diversidade de produtos inovadores irá fomentar a procura neste Natal, sobretudo no segmento de presentes para crianças.

De salientar, a importância dos retalhistas apostarem nos preços baixos, dado que o orçamento familiar não cresceu o suficiente para compensar o aumento do custo de vida. Para poupar, a grande maioria dos europeus não hesita em mudar de produtos de marca para produtos genéricos, sendo que são os portugueses e os holandeses que mais optam pelas marcas próprias. O consumidor irlandês é o que mais se destaca na compra de produtos de marca. Mais de metade dos portugueses planeia gastar menos nos bens alimentares (74%) e presentes para familiares adultos (86%). Em contrapartida, a grande maioria dos europeus prefere cortar nos gastos com a decoração e presentes para amigos.

A Irlanda inverte, mais uma vez, a tendência. Apenas nove por cento de irlandeses planeia reduzir as despesas face ao ano passado. As razões da poupança prendem-se com a compra de nova casa e férias. O comportamento é idêntico em Espanha. Os presentes para os filhos e a alimentação são áreas onde os consumidores europeus não pretendem cortar com os gastos.

Portugueses oferecem mais livros

Considerando o leque de produtos analisados neste estudo, os CD/DVD e os livros lideram a lista de prendas mais desejadas pelos adultos europeus. Logo de seguida estão o vestuário, a cosmética, as viagens, os cheques prenda, a joalharia, o material electrónico, os computadores e os televisores plasma ou LCD, na última posição.

Os portugueses preferem, em primeiro lugar, receber roupa, depois livros. Na terceira e quarta posições, estão os perfumes e os CD e DVD. Nos últimos lugares da lista, as viagens, televisores plasma ou LCD, cheques de prenda, material electrónico, telefones móveis e computadores.

De salientar que os portugueses acrescentam os telemóveis à lista das dez prendas mais desejadas. No entanto, o inquérito estima que 64% dos portugueses vai oferecer livros neste Natal e 55% vai comprar peças de vestuário. No sapatinho dos portugueses vão também estar presentes os CD e DVD, perfumes, brinquedos e jogos tradicionais, comida e bebida, cheques prenda, jogos electrónicos, pequenos electrodomésticos e artesanato, pois os presentes dos portugueses registam algumas diferenças em relação aos europeus. Os alimentos, os pequenos-electrodomésticos e o artesanato entram apenas na lista de compras dos portugueses.

As diferenças entre a lista de desejos e as prendas efectivas é mais ténue este ano, sendo mais evidente em algumas categorias, como, por exemplo, nos livros. O segmento da cosmética é o que apresenta maior disparidade. De acordo com os números, os consumidores comprarão mais perfumes e cosméticos do que os contemplados na lista de desejos. Também no que diz respeito às jóias e cheques-prenda há diferenças. Os pedidos são em maior número do que aqueles que o pai Natal realmente entrega.

Brinquedos educativos em alta

Na maioria dos países, os adultos já sabem o que vão oferecer às crianças, embora uma parte significativa, 41% da população, assuma desconhecer o que as crianças possam precisar. Este número sugere, segundo a Delloite, que os fabricantes devem incluir os adultos como alvo da sua comunicação e que os retalhistas têm um papel mais importante a desempenhar no processo de vendas deste período de ofertas sazonal, onde a tendência para a inovação e introdução de novos produtos é mais evidente.

Quando questionados sobre a natureza dos presentes infantis, os inquiridos do Sul da Europa respondem preferir brinquedos educativos, enquanto os britânicos, irlandeses e alemães pretendem oferecer presentes com funções lúdicas. Para responder a esta diversidade de atitudes estimam-se alterações na natureza dos produtos comercializados em cada mercado, assim como na comunicação e argumentação de venda dos retalhistas. Para crianças com idade inferior a doze anos, os brinquedos tradicionais são ainda o número um na Europa, embora na maioria dos países os jogos electrónicos ocupem a segunda posição, com uma média de 20%. Os livros e vestuário surgem em terceiro e quarto lugar, respectivamente.

Mais de metade dos europeus revela interesse em conhecer a origem dos produtos. No acto da compra, 59% dos portugueses manifesta esta preocupação, nomeadamente se forem produzidos por crianças, um interesse superior à média europeia (48%). A preocupação crescente com a natureza e dimensão ética dos produtos trata-se de uma importante indicação para retalhistas e fabricantes, inclusive para a forma como devem comunicar com os consumidores em cada mercado.

Menos aves à mesa

A decoração das casas é outro indicador a comprovar as raízes da tradição natalícia por toda a Europa. Um total de 88% dos entrevistados vão decorar a casa este ano. Os inquiridos revelam que guardam grande parte das peças decorativas dos anos anteriores, no entanto renovam-nas ou adicionam novos acessórios com regularidade. À pergunta «Com a chegada da gripe aviaria irá diminuir as suas compras de Natal?», 20% dos inquiridos europeus respondem que esta situação afectará a compra de carne de aves. Os consumidores mais preocupados são os italianos, já que 60% declara intenções de alterar os hábitos de consumo. Por outro lado, no Reino Unido, onde o peru é o tradicional prato de Natal, apenas 14% dos britânicos vai alterar o seu padrão de consumo.

Actualmente, os consumidores indicam o factor valor como o mais importante na escolha da loja. Numa escala de um a dez, classificam com oito a relação qualidade/preço. Seguem-se a ampla escolha e o preço baixo, com sete pontos. De salientar, que o preconceito de baixo preço ser indicador de má qualidade está cada vez mais esbatido. A globalização permitiu aos consumidores perceber que bens com preço baixo podem ter boa qualidade. O serviço e acompanhamento no ponto de venda, assim como a qualidade pós-venda, constituem o quarto e quinto factores, respectivamente, para a escolha da loja.

Compras à última hora

Antes de fazer as compras de Natal, 31% dos europeus confessa que irá perder tempo a comparar preços. Os franceses são os inquiridos que declaram ir gastar muito mais tempo nas compras, seguidos dos espanhóis, que aumentam moderadamente o tempo das comparações. Os consumidores “smart” encontram-se agora mais amadurecidos e construíram um forte “know how” de identificação das melhores propostas, de modo a conseguirem levar mais produtos para casa por menos dinheiro.

Por outro lado, a grande maioria dos consumidores europeus ainda não decidiu onde comprar os presentes. Apenas 20% dos inquiridos já sabem onde vão às compras. Quanto a Portugal, 22% dos consumidores já decidiram onde fazer as compras de Natal. No entanto, já apontaram o comércio preferido para comprar alimentos e bebidas: o hipermercado, sendo que as lojas de desconto não aparecem nas preferências dos portugueses.

De notar que, entre os 80% dos europeus que ainda não fizeram a sua escolha, metade decidiu realizar as compras nos últimos dias, para beneficiar de promoções de ocasião. O desafio do retalho consiste em conquistar este “grande” mercado de indecisos. O Natal revela-se um período chave, pois além de ser uma época de grande consumo, os consumidores perdem mais tempo na descoberta de novas lojas. Trata-se, assim, de uma oportunidade para os retalhistas seduzirem e fidelizarem clientes.

Comprar na Internet

A utilização de pontos de fidelização está a crescer face aos números do ano passado, revela ainda o estudo. Um total de 40% dos europeus tenciona usar pontos nas compras deste ano. França, Reino Unido e Irlanda são os países onde esta prática se verificará com especial incidência. No entanto, em todos os países os pontos serão utilizados com maior frequência em relação ao ano passado. O maior aumento desta prática verificar-se-á em Portugal e Irlanda.

Por outro lado, o amadurecimento da Internet é claro quando 75% dos entrevistados responde ter feito compras através deste canal nos últimos doze meses. Para as compras de Natal, percentagem igual irá fazê-lo para pesquisar produtos e lojas, e 54% utilizará esta tecnologia para comparar preços entre diversos produtos, na sequência de um posicionamento cada vez mais táctico e inteligente por parte do cliente final. A grande novidade é que quase metade dos consumidores vai utilizar a Internet para comprar produtos e serviços este Natal, assinala igualmente o estudo. Admitem fazê-lo sobretudo para poupar tempo, como é óbvio, mas também dinheiro.