Distribuição

Retalho perde 29 mil milhões

Por a 10 de Novembro de 2005 as 18:38

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Num período de doze meses, as perdas no retalho europeu cifraram-se nos 29 mil milhões de euros, o que representa 1,25% do volume de negócios total do sector. Em Portugal, quarto país mais afectado por esta circunstância, o valor fixou-se nos 205 milhões, ou seja, 1,36% da facturação.

De acordo com a quinta edição do Barómetro Europeu de Roubo no Retalho (ERTB), maior estudo a nível mundial a ser efectuado sobre as perdas por dano ou roubo e a segurança no retalho, as quebras no retalho totalizaram os 28.938 milhões de euros, no período de Junho do ano transacto a Junho de 2005. O estudo, efectuado pelo Centre for Retail Research, veio comprovar, pelo terceiro ano consecutivo, uma descida nas perdas médias no sector retalhista europeu em relação à facturação global, correspondendo este decréscimo à passagem de 1,34 para 1,25 pontos percentuais de 2004 para 2005.

Com um valor total de 205 milhões de euros – 1,36 pontos percentuais do volume de negócios – Portugal é dos países mais afectados pelas perdas. A taxa apresentada por Portugal é superada unicamente pelo Reino Unido (1,38%) na Europa Ocidental e pela República Checa, Eslováquia – ambos países com 1,40% – e a Hungria (1,36%) na Europa de Leste.

Leste em contra-ciclo

Naturalmente, é nas principais economias europeias onde se verificam os valores mais altos referentes à quebra no retalho, com o Reino Unido a apresentar quase seis mil milhões de euros de quebra face à facturação total, ficando a França com 5,3 mil milhões e a Alemanha com cinco mil milhões de euros, nos lugares seguintes. Suíça e Áustria, com 0,89 e 0,95 por cento, respectivamente, apresentam as taxas de perda desconhecida sobre a facturação mais baixas. Saliente-se o facto de todos os países da Europa Ocidental revelarem descidas das respectivas taxas de quebra no retalho, mostrando o sucesso das políticas de segurança implementadas e também a melhoria dos sistemas de gestão de stocks.

Quanto aos países pertencente ao bloco de Leste, o destaque vai claramente para a Polónia, único país a registar, em 2005, uma taxa de perdas no retalho inferior à registada em período homólogo. A este facto não deverá ser estanha a aposta feita por algumas cadeias internacionais – com a portuguesa Jerónimo Martins em primeiro plano – com políticas de gestão de lojas mais modernizadas e eficientes. Os países bálticos (Letónia, Estónia e Lituânia), por sua vez, apresentam, em conjunto, as mais elevadas taxas de perdas de todos os países analisados, fixada nos 1,27 por cento durante o período analisado e em crescendo face ao ano anterior.

Curiosa não deixa de ser a análise comparativa entre os mercados da Europa Ocidental e de Leste quanto à evolução das taxas de perdas. Enquanto a Europa Ocidental registou uma descida das taxas de quebra de 7,8 por cento, os sete países de Leste em análise mantiveram essa mesma taxa inalterada nos 1,32 pontos, com alguns deles a registarem subidas na percentagem face ao volume de negócios, ao contrário do Ocidente, onde a tendência aponta para uma descida em todos os países.

Distribuição menos afectada

A quinta edição do Barómetro Europeu de Roubo no Retalho apresenta o sector alimentar da Distribuição Moderna (hiper e supermercados) como um dos menos afectados pelas quebras, fixando-se a taxa face à facturação global nos 0,79 pontos. Este facto indica claramente a aplicação de uma estratégia de segurança e política de controlo de perdas por parte do sector da Distribuição a nível europeu, com a introdução de vários equipamentos e sistemas de modo a evitar as perdas e erros internos. Esta realidade é também perceptível na Distribuição nacional, com os vários grupos a realizarem fortes investimentos nesta área. A aposta tem sido contínua não só em termos de equipamentos, como em formação de pessoal, levando a que as perdas devido a mau manuseamento de produto, erro de etiquetagem e vigilância, entre outros, sejam reduzidas de ano para ano.

Ainda no mesmo ramo, as unidades especializadas em comida registam uma taxa bem mais alta, calculada em 1,45% do negócio, enquanto o segmento discount consegue uma performance particularmente assinalável, pois apenas 0,74% da facturação se perde. As lojas de departamento, tipo El Corte Inglês, estão mais sujeitas a estas debilidades, com taxas na ordem dos 1,35 pontos percentuais.

Entre os segmentos analisados pelo Barómetro Europeu de Roubo no Retalho, os sapatos e peles, bem como os artigos de electrónica, vídeo e música apresentaram as maiores subidas das taxas de quebra. Os sapatos e peles registaram um crescimento de 9,7 por cento, colocando este segmento com uma taxa de quebra de 0,68 por cento, embora esta seja a taxa de quebra mais baixa de todos os tipos de negócio em análise. Também com uma evolução da taxa de quebra aparecem os artigos electrónicos, vídeo e música, encontrando-se entre estes produtos, alguns dos mais sujeitos ao roubo, com os CD´s e DVD´s a liderarem o “ranking”. Em relação a estes artigos, a Distribuição Moderna tem ainda algum trabalho a realizar, pois são estes os produtos mais cobiçados pelos “ladrões” nas diversas lojas. Também os pequenos “gadgets” ligados à música têm muita procura, com os leitores MP3, pen´s, software e consumíveis informáticos a despertarem grande interesse.

Custos elevados

Os custos associados ao crime representam uma fatia muito significativa do total de perdas. De facto, face a um universo estimado em 29 mil milhões de euros, estes estão calculados em quase 25 mil milhões, ao que se acrescentam custos de sete mil milhões de euros de investimento em segurança. Ou seja, esta questão custa directamente à Distribuição cerca de 32 mil milhões de euros por exercício.

Com a maior parte do investimento a ser direccionado para a segurança contra o roubo interno e se a este total se juntar as despesas com processo judiciais e tribunais, perda de impostos e violência, os custos, de acordo com o barómetro agora divulgado, poderão elevar-se a 46 mil milhões de euros. Só para se ter uma ideia da escala que estas perdas representam para o retalho europeu, o barómetro revela que estas equivalem a cerca de 90 por cento do orçamento para o desenvolvimento agrícola e rural da UE (Política Agrícola Comum da União Europeia).

Depois de ouvidos 440 grandes retalhistas europeus, o barómetro refere que a maioria planeia ser bastante rígida quanto ao crime interno durante os próximos dois anos, num esforço para diminuir as taxas relacionadas com este tipo de furto, um dos mais preocupantes por se encontrar em crescimento. No que diz respeito à tecnologia aplicada, 76 por cento dos entrevistados apontaram o investimento em equipamento de segurança como a principal causa para a redução das quebras verificadas no retalho, denotando-se cada vez mais a preocupação no lançamento de medidas com fortes avisos anti-roubo, passando por controlos nos armazéns, maior utilização de etiquetas EAS para inibir a fraude interna e aplicações de bónus e incentivos aos empregados.

Em contrapartida, os retalhistas reconhecem também que existem razões que levam ao aumento do crime no retalho, apontando a falta de treino adequado do pessoal como um dos factores a ter em conta, bem como os cortes orçamentais para a segurança, levando muitas vezes a que as lojas fiquem mais expostas ao roubo. Também a diminuição do pessoal de segurança competente, a ineficiência dos tribunais, o aumento de criminosos e gangs e a falta de assistência por parte das forças policiais foram apontadas como algumas razões para o aumento do crime no retalho na Europa.

Segurança precisa-se

A redução das perdas no retalho a nível nacional foi confirmada por Paulo Borges, country manager da Checkpoint Meto Portugal, empresa fornecedora de produtos de identificação por radiofrequência e soluções de segurança para o retalho e patrocinador do estudo, afirmando que «a redução da taxa de quebra em Portugal deve-se à crescente importância que os retalhistas lhe têm dado, adoptando sistemas de segurança e estratégias anti-roubo abrangentes. Mas o combate ao crime no retalho não pode diminuir por termos conseguido alcançar um decréscimo na quebra.

Os resultados do barómetro realizado pelo Centre for Retail Research só enfatizam que é possível colmatar este problema através das soluções cada vez mais inovadoras, tais como a etiquetagem na origem e outras tecnologias de segurança, responsáveis por uma diminuição de 6,7% na quebra europeia». O responsável afirma ainda que é notório, através da análise efectuada aos dados do Barómetro Europeu de Roubo no Retalho, que o aumento do investimento em soluções de prevenção de perda desconhecida, está directamente correlacionado com a diminuição do furto. Não apenas devido ao facto dessas situações passarem a ser detectadas, e por isso evitar-se que os artigos sejam desviados, mas também porque funcionam como um elemento inibidor de qualquer acto menos lícito. Desta forma, o retorno do investimento nestes sistemas anti-furto é facilmente recuperado através das percentagens de perda que passam a ser resgatadas.

Os custos de roubo no retalho português (excluindo os erros internos) equivaleram a 171 milhões de euros, representando uma descida de 5,53 por cento, em relação aos 181 milhões de euros registados no ano transacto. Esta situação leva Paulo Borges a admitir que, «apesar do aumento do número de espaços comerciais levado a cabo pelos principais retalhistas portugueses, foi possível diminuir a quebra, devendo-se isto a uma maior sensibilidade para a importância dos sistemas de prevenção de perda desconhecida. Este valor bate todas as nossas expectativas que apontavam para uma diminuição da taxa, mas para um aumento do valor absoluto da perda».

O country manager da Checkpoint Meto Portugal acrescenta ainda que «estes valores não deixam de ser preocupantes, especialmente se, ao já elevado valor do furto, somarmos os erros internos», salientando que o impacto económico do roubo no retalho é muito significativo, especialmente se tivermos em conta que a rentabilidade das empresas é directamente afectada por este factor, mas os resultados sociais e as repercussões que tem na vida do consumidor, também não devem ser esquecidos. É neste sentido que as estratégias anti-roubo se apresentam como soluções cada vez mais adoptadas, visto que os retalhistas de qualquer área pretendem aliar bons resultados à segurança do cliente».

Paulo Borges conclui que não se deve apostar apenas nos sistemas de vigilância electrónica, «mas que o desafio é sensibilizar as pessoas, nomeadamente os empregados dos espaços comerciais não só para a importância de inibir comportamentos ilícitos de pessoas externas à empresa, mas igualmente de pessoas internas. A formação é por isso um vector de grande relevo na luta contra o furto».