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Moderna Distribuição domina arroz

Por a 10 de Novembro de 2005 as 18:46

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De acordo com a Associação Nacional dos Industriais de Arroz, a Moderna Distribuição domina os canais de venda de arroz, detendo uma quota de 75 por cento. Com as vendas em volume e valor a apresentarem uma descida nos principais segmentos, o domínio pertence claramente ao “agulha”.

As vendas de arroz têm vindo a decair em Portugal desde 1994, atingindo um valor de 65 milhões de euros, de acordo com os dados referentes ao ano móvel JJ 2005 da AC Nielsen. Registando uma quebra de quase dez por cento em valor, face a período homólogo, esta é a maior descida da última década. É preciso recuar até ao ano de 1994 para se encontrar a última evolução positiva. A subida de três pontos percentuais verificada nesse ano, foi a última de uma série que vinha sendo conseguida desde do início da década de 90, constituindo a evolução de 17 por cento assinalada, em 1993, a maior dos últimos 15 anos.

No que diz respeito ao volume de vendas, a situação é ligeiramente melhor, mas também negativa, apontando a AC Nielsen uma descida de 1,1 por cento no ano móvel JJ de 2005, fixando a quantidade de arroz vendida no período em análise muito próxima dos 85 milhões de quilos. Embora a situação em volume não se apresente tão negativa como nas vendas em valor, os dados da consultora revelam que, nos últimos dez anos, só existiram três períodos com evoluções positivas (1997, 2001 e 2003).

A produção de arroz, por sua vez e de acordo com o balanço efectuado pela Associação Nacional dos Industriais de Arroz (ANIA), tem conhecido oscilações significativas, cabendo à campanha de 2002/2003 a maior descida, perdendo mais de 13 mil toneladas face ao exercício anterior. A produção na campanha de 2003/2004 fixou-se nas 158 mil toneladas, uma subida de 1,1 por cento face ao exercício homólogo, contudo, ligeiramente abaixo da média das últimas sete campanhas. De registar há ainda o facto de na superfície plantada, a situação acompanhar a produção, verificando-se uma recuperação dos hectares plantados de arroz na última campanha.

Moderna Distribuição com 75% de quota

Uma análise efectuada pela ANIA ao mercado nacional do arroz revela que, em termos das vendas em volume, em 1998, os supermercados já lideravam com 37%, os tradicionais tinham 35% de quota e os hipers 28. Em 2004, os supermercados viam a sua supremacia evoluir favoravelmente para 51%, enquanto os hipermercados ascendiam ao segundo posto com 27%, por troca com os tradicionais, que se afundavam nos 22% de quota de mercado. Quanto às quotas em valor, em 1998, os tradicionais lideravam com 37%, seguidos dos supermercados com 36, aparecendo em último lugar os hipers com 27%. Em 2004, o cenário alterou-se drasticamente e em apenas seis anos os supers passaram a dominar com 49% e os hipers com 26 pontos, ficando os tradicionais com apenas 25% de quota em valor. A Moderna Distribuição conseguiu, principalmente através dos supers, ir buscar quota de mercado aos tradicionais, porque devido à semelhança destes dois canais, em proximidade e dimensão, «os baixos preços dos supers ditaram as regras do jogo e o tradicional ou se adapta às novas regras do mercado ou ainda perderá mais quota», salienta a ANIA.

De acordo com os dados do relatório de contas do exercício de 2004, a Associação Nacional dos Industriais de Arroz revela que as marcas da distribuição tinham em 1998 uma quota de mercado de 17,6% contra os 82,4% das marcas dos fabricantes, enquanto que em 2004 as marcas dos grupos de distribuição subiram para os 25,5% e as marcas dos fabricantes caíram para 74,5%.

Comparando os três canais de distribuição – hiper, supermercados e tradicionais –, a ANIA revela que os preços médios nos primeiros foram muito idênticos em 2004, enquanto que no último canal, os preços foram mais elevados. A associação aponta a «falta de dimensão ou escala e de agrupamento das lojas mais pequenas a praticarem preços mais elevados, o que influencia directamente a sua perda de quota. Quando o factor decisivo do mercado é o preço e a luta pelo marketing dos preços mais baixos, estas lojas, devido à sua inércia em termos de planos de marketing ajustados, por falta de fundos e por falta de formação da maioria dos agentes económicos, vêem o seu mercado diminuir por falta de políticas agressivas e adaptativas às necessidades dos consumidores».

A ANIA apresenta o arroz agulha como líder na Moderna Distribuição, beneficiando de consistentes campanhas de marketing, conseguindo, assim, melhores margens de comercialização e permitindo ao mesmo tempo maior rotação de stocks, factor que interessa à gestão moderna da mesma distribuição. Quanto ao comércio tradicional, é o arroz carolino que domina, não só em termos de distribuição, mas também em termos de «consumidores mais tradicionais».

Carolino na produção

Em relação à produção, não deixa de ser curiosa a realidade das duas variedades mais plantadas em Portugal, verificando-se que esta é totalmente contrária à que encontramos na comercialização. Enquanto nos dados da AC Nielsen, o destaque quanto ao volume e valor de vendas pertence ao arroz agulha, com cerca de 50 por cento de quota de mercado, a produção dita um domínio absoluto por parte do arroz carolino, o que demonstra também que grande parte do arroz agulha disponível no mercado tem origem em países estrangeiros. De facto, a comparação de forças é desproporcionada, cabendo ao arroz carolino mais de 90 por cento da produção total em Portugal, com mais de 142 mil toneladas, em 2004, enquanto o arroz agulha apresenta somente 15,5 mil toneladas. Também na superfície plantada, a desigualdade de forças é enorme, cabendo mais de 23 mil hectares dos 26 mil de área total cultivada em Portugal ao arroz carolino.

De interessante análise são, igualmente, os dados referentes às importações/exportações divulgados pela ANIA. No que diz respeito ao mercado extra União Europeia, as importações têm vindo claramente a perder terreno, decaindo na última campanha perto de 23 por cento, fixando-se nas 32,5 mil toneladas. No capítulo das exportações, e apesar destas terem registado um aumento de 300 por cento na campanha de 2003/2004, não ultrapassaram as 850 toneladas. Já no mercado intra-europeu, a situação é inversa, registando-se um aumento tanto das importações como nas exportações. Os dados divulgados pela ANIA apresentam uma balança claramente desfavorável no sector, com uma evolução de mais de 37 por cento, fixando-se estas no último exercício em análise (2003/2004) nas 25,5 mil toneladas. Em alta assinalável estiveram também as exportações, apresentando uma variação superior a 270 por cento, colocando o volume muito próximo das 3,3 mil toneladas. Estes números significativos, todavia, explicam-se porque a base de partida era praticamente nula.

Agulha com 50%

Quanto aos tipos de arroz analisados pela AC Nielsen, o destaque vai para o arroz agulha, tendo atingido no ano móvel JJ 2005 vendas superiores a 33,3 milhões de euros em valor, o que apesar de uma descida de 1,6 por cento face a período homólogo, coloca este tipo de arroz como responsável por mais de metade das vendas em valor. No capítulo das vendas em quantidade, o subsegmento do arroz agulha registou uma evolução positiva de 5,4 por cento, fixando o volume comercializado no ano móvel em análise nos 41,6 milhões de quilos, ou seja, tal como no quadro do valor de vendas, responsável por quase metade do arroz comercializado em Portugal.

Como segunda categoria mais comercializada, apesar da sua forte queda, aparece o arroz carolino/extra longo, apresentando um valor de vendas muito próximo dos 24 milhões de euros, significando a descida de 21,5 por cento uma perda de aproximadamente cinco milhões de euros face a período homólogo. Apresentando, igualmente, uma descida, neste caso de “apenas” 10,6 pontos, a quantidade de arroz extra longo/carolino comercializado no período em análise fixou-se nos 35,2 milhões de quilos, colocando este subsegmento como o único a registar quebras nos dois campos – volume e valor. O subsegmento de mercado denominado “outros arroz” analisado pela AC Nielsen, cabendo aqui categorias como o Basmati, Vaporizado ou Estufado, possui uma quota de mercado muito próxima dos nove por cento, com o valor de vendas a fixar-se no período em análise nos 7,6 milhões de euros, representando uma subida de 2,8 por cento. Mais evidente foi a evolução no volume de vendas, onde os 16,1 por cento de crescimento fizeram este subsegmento aproximar-se dos oito milhões de quilos comercializados.

Evolução bastante positiva foi registada pelo arroz integral, correspondendo esta tendência a uma clara preocupação por parte da população portuguesa com questões ligadas à saúde. Apesar de se apresentar como um “outsider”, tendo em vista os números revelados para o nosso país, o arroz integral registou uma subida de 14,1 por cento nas vendas, fixando nos 349 mil euros o valor comercializado no ano móvel analisado pela AC Nielsen. A subida de 14 pontos no capítulo do volume de vendas, coloca a quantidade de arroz integral vendido em Portugal muito perto das 200 toneladas, não chegando, contudo, para atingir um por cento de quota de mercado em Portugal.

Uma visão do sector

Jorge Parreira, director comercial da Orivárzea, refere que o sector do arroz está há algum tempo em mudança, havendo um decréscimo do consumo da variedade carolino e um aumento da variedade agulha. «O carolino é um arroz com características mais vincadas para a nossa gastronomia, sendo a variedade que há centenas de anos se produz em Portugal». O responsável pelo departamento comercial da empresa de Salvaterra de Magos admite ainda que «esta alteração deve-se à entrada de certas marcas em Portugal que, não possuindo arroz carolino de qualidade para se impor, entraram pelo agulha, fazendo massivas campanhas publicitárias, aproveitando também a alteração dos modos de vida. Dado as pessoas, principalmente nos grandes centros, não disporem de muito tempo para estar na cozinha e como a variedade agulha não necessita de muita atenção, esta tem vindo a ser escolhida em detrimento do carolino, um arroz muito mais apaladado, mas que necessita de mais atenção».

Na opinião de Jorge Parreira, também o arroz vaporizado tem registado um crescimento assinalável, referindo que «as outras variedades não têm expressão, até porque o consumidor português continua a ser muito tradicional, ou seja, a querer cozer a sua comida, dando-lhe um sabor tradicional». Quanto à actividade da Orivárzea, é destacada a inovação, congratulando-se a empresa de ser «a primeira do ramo do arroz a nível europeu com uma marca com a denominação de Produto Certificado (Bom Sucesso). Quanto ao futuro, «temos algumas surpresas», levantando o responsável comercial um pouco do véu, revelando que «iremos lançar um arroz com características únicas no mundo», adiantando que, quanto ao volume de negócios «temos vindo a crescer de ano para ano, com as nossas marcas a terem já vendas bastante aceitáveis, mesmo não entrando na “guerra” dos preços que é feita pela industria do arroz».

Quanto à temática relacionada com a Distribuição Moderna, Jorge Parreira admite que «esta tem muita importância na distribuição do arroz, não só em termos de quantidade como também de notoriedade das próprias marcas. A sua importância estende-se também à redução de preços do produto, ganhando, neste aspecto, o consumidor». Outro assunto abordado é o das marcas próprias, onde «as cadeias de supermercados colocam as suas marcas com preços muito competitivos, de modo a terem sucesso no mercado. Claro que estas têm aumentado as vendas em termos de quantidade, tornando-se com isto uma solução interessante para o escoamento da produção, se bem que esmagam a rentabilidade das indústrias» conclui Jorge Parreira.

O factor das marcas próprias

A situação de mudança vivida pelo sector do arroz em Portugal é, aliás, confirmada pela Associação Nacional dos Industriais de Arroz (ANIA), apontando como causa para estas quebras sucessivas, o encerramento de algumas unidades de menor dimensão nos últimos 20 anos, assistindo-se à tendência para o sector se tornar menos heterogéneo, centrando-se em dois pólos: empresas de maior dimensão e empresas familiares. Este processo teve como principais consequências o desaparecimento de numerosas unidades de pequena dimensão, de gestão familiar e em alguns casos complementares à actividade agrícola.

De acordo com a análise efectuada pelo relatório de contas de 2004 da Associação Nacional dos Industriais de Arroz quanto aos preços praticados em Portugal, «verificamos que têm sido as marcas da Distribuição as que mais têm puxado os preços para baixo». No entanto, mesmo as marcas dos fabricantes, apesar da sua grande notoriedade e qualidade, também têm caído, fruto da grande concorrência deste mercado. Assim, em 1998, altura em que as marcas da Distribuição despontaram em força no mercado, o preço médio de um quilo de arroz era de 0,83 euros, passando, em 2004, para 0,71 euros. Esta quebra de 0,12/kg (-14,5%) demonstra, de acordo com a ANIA, «a forte propensão destas marcas para a baixa dos seus preços, muitas vezes feita à custa de alguma qualidade no acabamento do produto final».

Neste mesmo período, as marcas dos fabricantes tiveram que responder a este ataque das marcas da Distribuição e baixaram os seus preços de 0,92 para 0,87 euros, um decréscimo 5,4%). De acordo com a associação, «não há duvida que as verdadeiras “Marcas”, ou seja, aquelas que investem bastante em marketing para a fidelização dos seus clientes, são as marcas das empresas fabricantes. Estas são responsáveis pela notoriedade do seu produto junto do consumidor final e sabem que é vital para elas defenderem as suas “Marcas”».

Já as chamadas marcas de distribuição, que normalmente funcionam em regime de subcontratação às empresas das marcas dos fabricantes, «como não têm os mesmos investimentos em termos de marketing e como pretendem obter os preços mais baixos possíveis, pois é o factor preço a sua principal bandeira concorrencial, conseguem assim margens de penetração bastante interessantes neste mercado».