Não Alimentar

Duráveis resistem à crise

Por a 10 de Novembro de 2005 as 18:55

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O desenvolvimento tecnológico está na linha da frente para gerar valor no mercado de electrodomésticos. Muitos são os exemplos, quer na linha branca quer na castanha, de produtos que cresceram mais em valor do que em volume em 2004, o que significa precisamente uma procura por propostas mais modernas e com outras funcionalidades. Em resultado, e num cenário de contracção de consumo vivido durante o exercício, o sector conseguiu manter uma performance bastante interessante.

No universo da linha branca e castanha, as televisões são o produto que geram mais volume de negócios. Mesmo que a variação de vendas em volume face a 2003 registe um decréscimo de um ponto percentual – comercializaram-se no Índice Nielsen Duráveis 465 mil unidades – esta variação praticamente nula é expressiva no sentido em que a grande maioria das categorias de grande consumo, concretamente no ramo alimentar e no cuidado pessoal, registou decréscimos durante o exercício de 2004. Neste contexto de retracção, a descida de 1% reflecte que esta área de negócio conseguiu resistir à “pressão da crise”, tanto mais que em valor, e fruto do desenvolvimento tecnológico, a venda de televisões subiu 12%, um resultado francamente animador, originando montantes na ordem dos 125 milhões de euros.

Aliás, é de referir que esta tendência é comum aos três primeiros produtos deste Índice em análise, uma vez que os frigoríficos, na segunda posição com vendas anuais de 40 milhões de euros, também subiram sete pontos durante o período em análise. Contudo, neste caso verifica-se uma situação inversa, uma vez que os níveis de penetração (as vendas em volume) subiram 15%. Ou seja, o produto regista uma dinâmica muito interessante, mas com clara tendência para descida do preço, o que não acontece nas televisões, onde o preço médio por unidade foi mais alto do que em 2003.

O terceiro posto é ocupado pelas máquinas de lavar roupa, que representam por ano a comercialização de 33 milhões de euros, reflectindo um aumento de sete por cento nas vendas em valor. No volume, as cerca de 100 mil unidades vendidas geraram uma oscilação de 9%, o que reflecte um comportamento distinto das duas outras categorias já referidas, na medida em que, desta feita, as variações entre volume e valor são bastante semelhantes.

Poucos produtos a descer

Num ramo de actividade em que as subidas em valor caracterizaram o mercado do ponto de vista dos principais produtos, destaca-se, como elementos negativos, a descida de 11% nos micro-ondas e de dois pontos nas câmaras de vídeo. No primeiro caso, é de realçar que existe uma diferença de comportamento abismal entre o volume e valor de mercado. De facto, se em 2004 se venderam mais 10% de micro-ondas em volume, a variação em valor, como foi dito, reflecte uma quebra de 11pontos. Ou seja, verificou-se que as famílias continuam a adquirir estes electrodomésticos, mas o preço de venda desceu drasticamente.

Nas câmaras de vídeo, a descida de preços não é tão gritante, mas o facto de o segmento ter subido 11% em quantidade e descido dois pontos em valor também reflecte a comercialização das unidades por um preço médio mais baixo. Obviamente, e à medida que o grau de penetração destes produtos nos lares portugueses vai aumentando, os fabricantes são obrigados a baixar preço para manter a rotação de stock. A única alternativa possível seria o desenvolvimento tecnológico, como acontece no caso da televisão, onde o grau de penetração é quase total. Todavia, e face a estes números agora reportados pela Nielsen, tal não terá acontecido.

Como foi referido, o top ten dos produtos duráveis apenas regista a descida em valor das duas categorias de produto acima citadas. Todos os outros “líderes” assinalam comportamento positivos durante o exercício de 2004, com particular destaque para os auto-rádios, que subiram nada mais nada menos do que trinta pontos percentuais. Mais uma vez, esta varição deve-se sem dúvida ao desenvolvimento tecnológico, e nomeadamente com a integração dos leitores de CD e de mp3 nestes equipamentos, o que levou muitos consumidores a trocarem de auto-rádio. Porém, o segmento, que vale anualmente 10 milhões de euros, também sentiu necessidade de baixar os preços de venda ao público, já que em volume a variação atingiu uns impressionantes 82 pontos que confirmam precisamente o fenómeno de actualização que se viveu no segmento.

Ano globalmente positivo

Dos electrodomésticos mais conhecidos, mesmo que alguns não façam parte dos dez maiores produtos, registam-se comportamentos mais moderados em valor. Concretamente, a venda de fogões cresceu quatro por cento, para cerca de nove milhões de euros, enquanto os esquentadores desciam dois pontos (8 milhões de euros). Os aspiradores, na sexta posição deste ranking em valor, oscilaram três pontos positivos, enquanto as máquinas de lavar loiça reflectem um aumento de vendas de 8%, mesmo assim já bastante significativo. Os ferros de engomar, com vendas de 16,5 milhões de euros e na quinta posição, oscilaram já em dois dígitos, nomeadamente 13%. Ou seja, e como é possível observar no quadro anexo, o mercado de duráveis conseguiu um ano globalmente positivo, com crescimentos na maior parte das categorias mais importantes, e isto num cenário claro de dificuldades financeiras das famílias e consequente retracção de consumo.

No que diz respeito ao comportamento dos principais electrodomésticos em volume, as máquinas de lavar loiça e os fogões assinalam variações positivas de nove e sete pontos, respectivamente, sensivelmente em linha com as variações em volume, o que mostra um aumento consolidado do sector, em oscilações que têm que ser encaradas como bastante animadoras. Os esquentadores também registam comportamentos semelhantes, desta feita com uma quebra de cinco por cento em volume, contra uma descida de dois pontos em valor.

Em alta estão os exaustores, que representam vendas anuais de três milhões de euros, após uma variação em valor de 14% e um crescimento em volume de nove pontos. Inversamente, a categoria de gravador de vídeo, sofrendo com a crescente penetração dos leitores DVD, assinala uma impressionante quebra de 49% em volume, correspondendo igualmente a um decréscimo de 50% no valor de vendas, para negócios na ordem dos 3,7 milhões de euros. De 2003 para 2004, portanto a categoria perdeu metade do seu valor, antecipando claramente a sua reforma por via da substituição por outros equipamento mais modernos e tecnologicamente desenvolvidos.

A análise da Nielsen para este mercado é ainda completada com os produtos de iluminação, considerando as categorias pilhas e lâmpadas. Ambas desceram oito pontos percentuais em quantidade, com a primeira a quebrar igualmente em valor, desta feita seis por cento, enquanto a segunda mantinha, neste indicador, uma variação zero. São, todavia, duas importantes categorias de produtos, uma vez que anualmente as vendas de pilhas ascendem aos 26 milhões de euros e em lâmpadas comercializam-se montantes na ordem dos 15 milhões de euros.

Em suma, apesar de 2004 ter sido caracterizado por enormes dificuldades no Grande Consumo, a verdade é que esta área de negócio conseguiu claramente resistir à crise instalada. Há segmentos em franco crescimento, com as vendas em volume aumentarem significativamente, o que mostra a propensão do consumidor para a sua aquisição. E há outros que, não estando a alargar tanto o grau de penetração, acabam por conseguir gerar valor no mercado, através do desenvolvimento de produtos com outro tipo de funcionalidades e mais desenvolvidos tecnologicamente, o que permite, obviamente, puxar os preços para cima.

O futuro do mercado será certamente decidido na capacidade de inovação das marcas, pois são precisamente os avanços tecnológicos que criam novas necessidades, gerando mais consumo e, acima de tudo, a possibilidade de acrescentar valor às referências disponibilizadas ao cliente final.