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Americanos preferem vinho

Por a 10 de Novembro de 2005 as 19:03

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A divulgação de um estudo, recentemente efectuado nos Estados Unidos da América, vem apresentar uma mudança nos hábitos de consumo dos norte-americanos. O vinho é, pela primeira vez na história das estatísticas deste país, a bebida preferida dos consumidores americanos, constituindo este facto uma excelente notícia para os produtores de vinho nacionais… e estrangeiros.

De acordo com o estudo anual “Consumption Habits” – Hábitos de Consumo – realizado pela Gallup, uma empresa norte-americana de estatística, em Julho deste ano, o vinho ultrapassou a tradicional cerveja nas preferências dos consumidores de álcool adultos no território dos Estados Unidos da América. Até ao ano passado, a cerveja sempre manteve a liderança nas estatísticas norte-americanas. Os papéis, no entanto, inverteram-se, com 39 por cento dos consumidores norte-americanos a referirem que consumem habitualmente vinho, enquanto “somente” 36 revelaram preferência pela cerveja.

Esta inversão nos hábitos de consumo de bebidas alcoólicas nos EUA, vem revelar uma óptima oportunidade de negócios para os produtores de vinho em Portugal, mas também de todo o mundo vitivinícola. Falta agora saber, se os nossos produtores e organismos responsáveis pela promoção dos néctares portugueses conseguirão concorrer com os “multimilionários” investimentos em marketing e promoção que países como a França, Austrália, África do Sul ou Itália poderão vir a fazer num mercado tão apetecido a todos os agentes do Reino de Baco.

América enófila

Segundo o estudo apresentado pela Gallup, 63 por cento dos norte-americanos referiram que consumem álcool. Este valor tem-se mantido consistente com a taxa de consumo de álcool registada ao longo de mais de seis décadas durante as quais a empresa tem vindo a colocar a questão aos consumidores norte-americanos. A excepção foi o período entre 1976 e 1981, em que os valores registaram uma subida, com 69 a 71 por cento dos norte-americanos a revelarem consumir bebidas alcoólicas com frequência.

A maior alteração registada nos recentes hábitos de consumo nos Estados Unidos da América está, contudo, no aumento da menção do vinho como bebida preferida, com os números dos últimos anos a ditarem uma clara evolução. Quando, em 1992, a Gallup questionou os norte-americanos sobre as suas preferências em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, a cerveja liderava confortavelmente com 47 por cento, enquanto somente 27 por cento dos consumidores referiram o vinho. Os números, contudo, têm estado a favor do vinho, registando-se um aumento ao longo dos últimos dez anos, com os valores a subirem dos já referido 27 pontos percentuais em 1992, para 29 em 1994, 32 em 1997, 34 em 1999, 33 em 2002 e, finalmente, 36 por cento em 2005, contra as respectivas descidas da cerveja – 45 por cento em 19997, 42 em 1999, 44 em 2002 e os actuais 36 por cento.

Analisando as tendências globais até poderíamos pensar que os consumidores de cerveja mudaram simplesmente os seus hábitos de consumo para o vinho, mas uma análise mais pormenorizada dos dados sugere um padrão mais complicado no consumo de álcool desde 1992. Analisando o quadro referente às tendências de consumo, verifica-se que o consumo de cerveja está a dar lugar aos licores, enquanto a tradicional “loira” está a perder claramente terreno para o vinho. Comparando a evolução entre os licorosos e o vinho, nota-se, igualmente, que os licores estão a decrescer e o vinho está a subir. Tomando como referência os anos de 1992 e 2005, o consumo de cerveja passou de 47 para 36 por cento, os licorosos mantiveram os seus valores em 21 por cento e o vinho subiu de 27 para 39 pontos percentuais no período em análise.

Confronto de gerações

De acordo com os números apresentados pelo estudo efectuado pela Gallup, constata-se que a cerveja perde em todas as faixas etárias em análise. Entre os jovens adultos – faixa etária dos 18 aos 29 anos – parece que a cerveja começa a ficar fora de moda, com muita da juventude americana a trocar o copo ou caneca de cerveja, por diversas bebidas licorosas. É certo que a cerveja continua a ser a preferida da juventude norte-americana, mas de 1992 a 2005, os números desceram de 71 para 48 por cento, enquanto no vinho, após uma subida de 13 para 20 pontos percentuais de 1992 para 1999, os números voltaram a descer para 16 por cento. Em contraponto, as bebidas licorosas registam uma subida significativa, passando de uns “meros” 13 por centos, em 1992, para os actuais 32.

Na faixa etária seguinte – 30 a 49 anos – a descida verificada no consumo de cerveja é menor que na faixa etária mais jovem, mas também aqui todos ganham, menos a cerveja. Enquanto o vinho subiu nas preferências dos norte-americanos, passando de 31 para 37 por cento (de 1992 a 2005) e as bebidas licorosas cresceram de 17 para 21 por cento, a tradicional cerveja, registou uma descida de oito pontos percentuais, colocando-se actualmente nos 40 por cento.

Por fim, o estudo da Gallup revela que: ao caminhar-se para “velho” (faixa etária com idades superior a 50 anos), mais se gosta de vinho. Esta é a conclusão a que se poderá chegar olhando para os números apresentados pela empresa de estatística norte-americana, já que no período em análise, a preferência dos consumidores no mercado dos EUA sempre recaiu sobre o vinho, registando uma subida de nove pontos percentuais de 1992 para 1999, decaindo um por cento em 2005. A cerveja, por sua vez, manteve os 30 por cento de 1992, enquanto os licorosos, após uma descida de 28 para 16 por cento de 1992 para 1999, voltaram a registar uma subida de quatro por cento.

Mulheres enófilas

Os homens preferem cerveja e as mulheres, vinho. Esta é a conclusão a que se chega depois de uma análise dos números apresentados pela Gallup. Mesmo em 1992, quando o rácio se situava em dois para um, a favor da cerveja, somente 27 por cento do sexo feminino referiu a cerveja como sua bebida preferida, enquanto 43 mencionou o vinho. Desde então, o vinho ganhou popularidade em ambos os sexos, com especial destaque para os homens. Enquanto no vinho, os números, relativamente às mulheres, subiram de 1992 para 1999 – de 43 para 50 por cento -, esse valor desceu para os 47 pontos percentuais, em 2005. Por oposição os números relativos ao sexo masculino apresentam um curva ascendente, destacando-se a evolução registada de 1992 para 2005, passando os valores de 17 para 25 por cento.

Este estudo da Gallup parece vir dar razão aos que em Portugal apostam nos Estados Unidos da América como um dos mercados prioritários para a exportação dos vinhos portugueses. Falta saber se em termos de investimento, os valores destinados ao mercado de “uncle Sam” são suficientes para combater a restante concorrência internacional.