FMCG Vinhos

Vinhos do Mundo

Por a 7 de Outubro de 2005 as 15:40

ed 162 txt 11

A realização da Vinexpo, a maior feira mundial de vinhos, superou as melhores expectativas da organização do evento. Com o clima de recessão vivido em todo o mundo e o consumo de vinho em queda, a adesão foi massiva. Portugal esteve presente com mais de 80 produtores/entidades, confirmando a importância deste evento no universo dos vinhos cada vez mais competitivo, onde no final, dois tintos do Douro ficaram entre os “dez melhores” da Vinexpo 2005.

Com o encerramento das portas da 13.ª edição da Vinexpo 2005, a organização contabilizou um total de 48.958 visitantes provenientes de 148 países, um recorde para a maior feira de vinhos do mundo, realizada bienalmente. De facto, os números apresentados pela organização liderada por Jean-Marie Chadronnier e Robert Beynat, confirmam o sucesso e a importância deste evento no universo vitivinícola internacional, com a primeira edição, realizada em 1981, a contar “somente” com 524 expositores – incluindo 96 internacionais – de 21 países e a visita de 11 mil profissionais de 50 países, para 24 anos mais tarde os números revelarem a participação de 2.400 expositores de 43 países.

A presença portuguesa contou com 84 participações, mais 20 que na edição anterior, entre produtores individuais e entidades que reuniam no seu espaço uma representação da respectiva região, casos da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Madeira Wine Institute, Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) ou Comissão Vitivinícola Regional da Estremadura, numa área total de exposição de 1.056 metros quadrados.

Feiras certas

Com a organização anual de inúmeras feiras (ProWein, London International Wine & Spirits Fair, ExpoVinis/VivaVinho), concursos (Concours Mondial de Bruxelles, Challenge International du Vin, Vinitaly, International Wine Challenge), provas e degustações pelos quatro cantos do mundo, a primeira questão que se poderá colocar, será o de saber se de facto vale a pena estar presente nesta feira. Várias foram as vozes que confirmaram a importância da Vinexpo, classificando-a como a maior feira de vinhos do mundo.

Para Vasco d´Avillez, presidente da ViniPortugal, esta confirmação veio ainda antes do final do evento. «Pelo número de agentes económicos que no último dia da feira pretendiam efectuar a inscrição para a Vinexpo 2007, parece que há interesse suficiente para continuar», adiantando o responsável pela Associação Interprofissional para a Promoção dos Vinhos Portugueses que é impossível para os produtores marcarem presença em todas as feiras realizadas anualmente, salientando que «por isso mesmo, no âmbito do projecto da ViniPortugal, temos vindo a marcar presença alargada e significativa em apenas três feiras internacionais – ProWein, London International Wine & Spirits Fair e Vinexpo».

Paulo Amorim, director comercial e marketing da Aveleda e presidente do G7 – grupo que reúne as sete maiores empresas de vinho de Portugal, representando cerca de 75% das exportações nacionais de vinhos de mesa engarrafados na origem – refere que «vale, sem dúvida, a pena continuar a investir na Vinexpo». Quanto à rendibilidade da presença em diversas feiras mundiais, adianta que «de facto os produtores de vinho têm de começar a seleccionar de forma muito rigorosa as feiras em que participam durante o ano», indicando como mais importantes a Vinexpo, ProWein, London International Wine & Spirits Fair, Vinitaly, ExpoVinis/São Paulo, ViiniExpo e a Vinordic.

Também António Soares Franco, presidente da José Maria da Fonseca, é da opinião que vale a pena continuar a investir na feira de Bordéus, «mas só com um profissionalismo muito grande», salientando que é caro e difícil ir a todas as feiras, «mas que as empresas maiores têm de fazer esse esforço. Quem não aparece, esquece…, no entanto, no futuro, não sei se há lugar para todas. Nem compradores, nem exportadores têm tempo, nem dinheiro para ir a todas estas feiras e outras que se estão a querer lançar».

Posição algo crítica quanto ao investimento na Vinexpo possui Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV, referindo que a continuação desta presença é «viável para produtores que integrarem a sua participação numa estratégia mais vasta. Ir a Bordéus com a esperança de conquistar clientes a partir do zero é uma perda de tempo». Paulo Russell Pinto, coordenador dos mercados internacionais do marketing do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, refere que «as feiras são montras do portfólio das empresas e um local privilegiado para contactos imediatos. Quer a situação da empresa seja de arranque ou de consolidação de mercados, a presença em feiras costuma revelar-se como muito positiva, desde que preparada com algum cuidado, quer em termos de produtos, quer em termos de mercados. No caso da Vinexpo, dada a sua visibilidade e interesse por parte dos compradores, estes aspectos adquirem uma importância maior». Para o responsável pelos mercados internacionais do IVDP, «dado o interesse na exportação dos Vinhos do Porto e do Douro, as empresas devem escolher os mercados em que pretendem investir no futuro próximo. Ao utilizar as feiras como porta de entrada ou de manutenção dos mercados, as diversas feiras contarão com a presença de empresas diferentes».

Colher os frutos

No fundo, a participação numa feira como a Vinexpo só é válida se os produtores tirarem proveito dessa presença, afirmando Paulo Russell Pinto que «a visibilidade e a presença no certame mais reputado do mundo para a fileira dos vinhos são as duas grandes vantagens desta feira em particular. Enquanto outras feiras têm um carácter mais regional integrado nos mercados em que se situam, a Vinexpo é uma feira onde é possível contactar com actores de todo o mundo». Da mesma opinião é Paulo Amorim, indicando que a presença nesta feira «permite o contacto com os principais players da indústria, a nível mundial», adiantando António Soares Franco que «é uma óptima ocasião de, em cinco dias, encontrarmos grande parte dos nossos agentes do mundo inteiro. Poupa-nos tempo em múltiplas viagens e dá-nos também uma perspectiva do mercado global do vinho».

Quanto ao balanço final, quase todos são da mesma opinião: correspondeu ou excedeu as expectativas. Para Pedro Mansilha Branco da Quinta do Portal, «esta foi a feira que mais e melhor trabalhámos, fruto de uma cuidado planificação da feira», enquanto para o director comercial e marketing da Aveleda o evento deste ano «excedeu as expectativas, o que se deveu sobretudo a um investimento muito grande na preparação da feira», facto também salientado por Rui Ribeiro, administrador das Caves Arcos do Rei, indicando que «é sempre necessário um trabalho prévio de modo a conseguir obter o maior número de contactos».

Quanto à participação de Portugal na Vinexpo 2005, as opiniões são bastante favoráveis, destacando Paulo Russell Pinto que «a imagem dos vinhos portugueses foi consistente, de qualidade e com boa visibilidade Estes três factores só podem ser positivos para imagem de Portugal na feira. Existem também empresas que participaram com stands individuais, fora dos espaços colectivos do Porto/Douro e Portugal, o que demonstra que a internacionalização é uma realidade, embora muito ainda tenha que ser feito». Paulo Amorim salienta o pavilhão da parceria ViniPortugal/Icep, «bem localizado e bem concebido», embora como o próprio revela «a minha opinião é altamente suspeita nesta matéria pois sou um dos responsáveis pela sua concepção». Dirk Niepoort, por sua vez, refere que a participação lusa «atraiu mais visitantes do que é habitual», destacando o presidente da José Maria da Fonseca a presença digna, «com muitos produtores a apresentarem stands com uma imagem mais moderna que habitual, mas muito pouco funcional e incómodo».

Do lado negativo, as queixas ficaram reservadas para a organização, com os pontos negativos a continuarem a ser já habituais e recorrentes: deficiente oferta hoteleira na zona de Bordéus, o trânsito e a falta de conforto a nível de infra-estruturas.

Para finalizar, um apontamento deixado por Jean-Claude Cretu, destacando a falta de acções paralelas à feira, que podiam melhorar a imagem do nosso país: «deixo uma pergunta: porquê que uma pessoa como o José Mourinho, jogadores conhecidos ou outras personalidades não foram convidadas para a abertura de uma LIWTF? Não tinha trazido mais-valias a um custo reduzido?», dando como exemplo a deslocação dos Príncipes das Astúrias de Espanha para a inauguração da Vinexpo.

Um mundo de visitas

Os números apresentados pela organização para o evento realizado este ano, indicam resultados tão positivos quanto inesperados. Com aproximadamente 50 mil visitantes de 148 países, este número representa um aumento de 3,5 por cento em relação à edição de 2003. Também o número de visitantes estrangeiros registou uma evolução, com 30 por cento dos profissionais que visitaram o centro de exposições de Bordéus a virem de fora de França. Durante os cinco dias da feira e de acordo com os dados fornecidos pela organização da Vinexpo 2005, ao maior número de visitantes veio da Europa Ocidental, com o Reino Unido (mais sete por cento de visitantes que na edição de 2003, Alemanha (mais 14 por cento), Suíça (mais nove por cento) e Finlândia (com mais 59 visitantes que na edição anterior) a colocarem-se como os quatro países com maior evolução no número de visitas.

A segunda região com maior visibilidade em termos de visitantes foi a Ásia, com cerca de 1.700 profissionais – mais 37 por cento que em 2003. Entre estes, os tailandeses aumentaram o seu interesse pelo vinho, com o aumento do número de profissionais a visitarem a maior feira de vinho do mundo a registar uma subida de mais de 177 por cento, enquanto as visitas provenientes da China aumentaram aproximadamente 136 por cento, justificando, assim, o investimento que muitos produtores – internacionais e nacionais – estão a levar a cabo em terras chinesas.

Da América do Norte e após o receio existente na última feira, devido ao boicote feito pela França à invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América, o número de visitantes subiu cinco pontos percentuais, fixando-se nos 1.546. A maior surpresa para a organização constituiu, contudo, o fluxo de visitas profissionais provenientes da Europa central e de Leste. Mais de 1.300 profissionais efectuaram a viagem até terras gaulesas, com o número a registar uma subida de 58 por cento em relação à 12.ª edição da Vinexpo, com a maior evolução a vir da Rússia, com mais de 73 por cento de visitas. Embora em menor número, também os países do chamado “Novo Mundo” mantiveram as suas visitas em alta, com a Nova Zelândia a registar uma manutenção, enquanto a África do Sul (com mais 24 por cento) e o Chile (com mais 20 por cento) a revelarem o interesse que este evento possui para o reino de Baco.

Entre as visitas, destaque ainda para os membros do “Club Vinexpo”, composto por 1.500 grandes compradores de vinhos, representando um terço dos compradores mundiais identificados pela organização da feira e cujo o número aumentou em 26 por cento em relação ao evento realizado em 2003. Também ao nível da cobertura jornalística, a Vinexpo 2005, a organização revelou no final que marcaram presença mais de 1.200 jornalistas de mais de 50 países. Para o mês de Maio de 2006, os responsáveis pela maior feira de vinhos do mundo já apresentaram a Vinexpo Ásia/Pacífico a realizar em Hong Kong. Esta feira, a decorrer entre os dias 23 e 25, vem na sequência da aposta feita pela organização do evento em alargar e apoiar os operadores da indústria vitivinícola nos mercados emergentes, tal como o Japão e China, depois dos eventos realizados nos EUA – Nova Iorque (2002) e Chicago (2004) – não terem alcançado o sucesso esperado, muito devido às dificuldades de carácter económico vivido na altura.

Descobertas da Vinexpo

Durante a realização da Vinexpo 2005 foi organizado um concurso, com o objectivo de encontrar os dez vinhos mais surpreendentes da feira que vieram distinguir dois néctares portugueses provenientes da região do Douro – Casa de Casal de Loivos 2003, Douro da Lemos & Van Zeller e Xisto 2003, Douro de Roquette & Cazes. Intitulado “As descobertas do Júri”, 14 dos mais reputados opinion makers, sommeliers e jronalistas do mundo, tiveram a tarefa de encontrar o top ten dos vinhos mais inovadores e intrigantes presentes neste evento. Divididos em três categorias – tintos, brancos e rosé – foram escolhidos inicialmente 40 vinhos de todo o mundo durante as primeiras 24 horas da feira.

Os 40 néctares foram então sujeitos a uma prova cega, de modo a escolher os dez melhores, tendo o júri nomeado quatro vinhos franceses – dois rosés e dois brancos –, dois néctares portugueses na categoria dos tintos, um tinto argentino, um rosé espanhol, um branco suíço e outro proveniente da Alemanha. Na realidade, o destaque vai claramente para os dois vinhos portugueses. Entre as três escolhas efectuadas para a categoria dos tintos, Portugal colocou dois néctares, tendo sido atribuído a ambos a estrela de “Coup de Coeur”.

A Vinexpo em números

Área total de exibição: 91.785 metros quadrados Área útil de exibição: 41.000 metros quadrados Número de visitantes: 2.400 Números de países: 43 Número de visitantes: 48.958 Maiores áreas de exposição:França – 25.312 metros quadrados Itália – 3.488 metros quadrados Espanha – 3.153 metros quadrados Chile – 1.089 metros quadrados Alemanha – 1.084 metros quadrados Portugal – 1.056 metros quadrados Eventos paralelos: mais de 60 eventos entre degustações, concursos, conferências e debates Número de produtos expostos: 30.000 Número de garrafas abertas: entre 60.000 e 70.000 Retorno gerado: 70 milhões de euros