Distribuição

Subida do IVA agita Distribuição

Por a 2 de Setembro de 2005 as 18:34

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Desde o dia 1 de Julho que a taxa do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) está nos 21 por cento, traduzindo o aumento de dois por cento decido pelo Governo de José Sócrates. Poucos dias antes, as principais empresas de distribuição reagiram: umas, suportando o aumento dos preços, outras, reflectindo directamente a nova taxa, embora avançando com a garantia de que os preços continuaram baixos.

primeira reacção coube ao grupo Carrefour, pela voz do seu administrador, António Baptista. «Para todos os produtos alimentares, de higiene pessoal e de limpeza da marca Carrefour não repercutiremos o aumento do IVA sobre os preços desses produtos no período de 1 de Julho até final do ano de 2005», declarou o responsável. A medida, que abrange 737 produtos, 500 dos quais na área alimentar, representa um investimento mínimo de 500 mil euros, podendo chegar ao milhão de euros. Para suportar esta decisão, a empresa aposta na eficiência operacional e na racionalização de custos. «No ano passado, nós lançámos o projecto da factura electrónica, desmaterialização que nos permitirá poupar até um milhão de euros por ano. Actualmente, estamos em teste com três fornecedores (Unilever, Pescanova e Kraft Foods), mas até final do ano esperamos alargar a um total de 25% dos fornecedores, que representarão mais de 60% do número de facturas que tratamos», afirmou António Baptista. As marcas Carrefour em Portugal representam 20% das vendas totais (447 milhões de euros, em 2004).

No mesmo dia, o Pingo Doce, insígnia do grupo Jerónimo Martins, também tornou pública a sua posição de suportar o aumento do IVA e manter os preços. «A clara aposta do Pingo Doce numa política de preços sempre baixos, capaz de responder às necessidades do consumidor, fundamentou esta nossa decisão. (…) decidimos absorver o aumento do IVA, não passando este ónus ao consumidor. Esta é claramente a decisão mais consistente com a nossa estratégia», afirmou, em comunicado, o director-geral do Pingo Doce, Eduardo Cid Correia. A empresa não revelou os custos da medida nem o seu prazo de aplicação. «Nós temos vindo a financiar essa redução de preços de diversas formas, internas, nomeadamente através da optimização e simplificação de processos. Tem sido possível conquistar poupanças internas que possibilitam reinvestir em preços e passar esse benefício para o consumidor, sem pôr em causa a rentabilidade da empresa», indicou Sandra Silva, porta-voz da companhia. Quanto aos hipermercados Feira Nova, a opção é diversa. «Apesar de serem insíginias do grupo Jerónimo Martins, são companhias (Pingo Doce e Feira Nova) com estratégias diferentes. No caso do Feira Nova, pela especificidade do próprio formato e pelo seu posicionamento, são usadas campanhas, promoções, portanto, é diferente do Pingo Doce. Para além disso, o esforço do Feira Nova na redução de preços tem vindo a acentuar-se desde o início deste ano», afirmou a responsável.

Outras reacções

Reagindo aos anúncios de suportar o IVA por parte da concorrência, a Modelo Continente, à semelhança de outros grupos, optou por defender que, independentemente da subida do imposto, continuará a praticar os preços mais baixos do mercado. Em comunicado, a empresa do grupo Sonae, salienta que a subida do IVA «em nada irá alterar a sua posição de campeã de preços baixos, reafirmando o seu compromisso de ser sempre a melhor opção de compra». «A Modelo Continente introduziu há 20 anos o conceito de “discount” em Portugal, quando lançou o primeiro hipermercado, garantindo, desde essa altura, a liderança no sector através de uma política de preços imbatível», pode-se ler no documento.

O grupo Auchan, detentor dos hipermercados Jumbo, reafirmou também o seu compromisso de ser a loja mais barata da sua região ou zona de influência em todos os artigos. «No caso da alteração do IVA prevista, mais uma vez será essa a nossa posição. Através do acompanhamento diário que fazemos em todas as lojas a mais de 10.000 artigos iremos actualizar os preços em função do comportamento do mercado, garantindo sempre o preço mais baixo em todos os artigos», afirmou Eduardo Igrejas, director-geral do grupo. O impacto económico desta política está previsto nas contas da Auchan. «Não prevemos alterações nos nossos objectivos de vendas líquidas ou nas margens», salientou Eduardo Igrejas.

Pelo mesmo diapasão alinhou o grupo Os Mosqueteiros, ao anunciar que, «independentemente das medidas anunciadas por alguns grupos de distribuição e a da pressão concorrencial, existe um compromisso do grupo Os Mosqueteiros de garantia de preços mais baixos. Esta promessa será sempre cumprida, qualquer que seja o valor do IVA anexado à comercialização dos produtos presentes nas superfícies comerciais». João Magalhães, responsável de comunicação de Os Mosqueteiros, considerou mesmo que «as declarações vindas a público têm apenas uma finalidade, comercial, de carácter populista e onde está subjacente alguma demagogia, uma vez que não esclarecem na totalidade o consumidor, nomeadamente sobre quais os produtos que não vão ser sujeitos a aumento e por quanto tempo essa absorção vai ser mantida». O administrador garantiu ainda que quando a empresa actualizar os seus preços, e passarem a incluir 21% de IVA, «continuará a concretizar os preços mais baixos do mercado e/ou irá equiparar-se aos preços actualmente praticados pela concorrência».

O grupo Tengelmann, detentor da rede de lojas de hard discount Plus, também decidiu aborver o aumento do IVA. Assim, em 50% dos produtos comercializados pela empresa não existirá qualquer subida de preço até final do ano, ficando em aberto como será em 2006. A cadeia Minipreço/Dia, por seu lado, indicou que não irá alterar os preços dos produtos abrangidos pelo aumento do IVA, medida que será seguida, pelo mês, no curto prazo.