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“A grande oportunidade em Portugal está na comodidade da compra”

Por a 13 de Janeiro de 2020 as 9:50

Oracle-João Borrego-1A afirmação é de João Borrego, diretor de Soluções de Engenharia da Oracle para Portugal. Ao Hipersuper, cedeu uma reflexão sobre a utilização de dados nas cadeias de abastecimento. O pretexto foi a recente inauguração, no Porto, do mais recente Centro de Inovação, dedicado ao retalho, da gigante de Tecnologias de Informação

“As operações tradicionais de retalho, e a tecnologia que as suporta, são cada vez mais standard e menos diferenciadoras, por isso, fáceis de adotar e generalizar. A tendência, hoje, passa por otimizar cadeias de abastecimento para se fazer frente a padrões mais exigentes dos clientes, no que diz respeito a compras móveis, prazos e facilidade de entrega e devoluções. As margens dos retalhistas estão sob pressão por causa dos custos que incorrem quando se tenta satisfazer as novas necessidades dos clientes. E é aí que está o novo campo de batalha no mercado do retalho”, considera João Borrego, diretor de Soluções de Engenharia para Portugal, da gigante de Tecnologias de Informação Oracle, em declarações ao Hipersuper.

Fundada em 1977, a multinacional norte-americana, dona do sistema de codificação Java, inaugurou em outubro, em Matosinhos (Porto), um Centro de Inovação e Tecnologia para o setor do retalho. O investimento justificou a reflexão, concedida pelo responsável, sobre as Tecnologias de Informação utilizadas atualmente no retalho. Afinal, os dados são considerados o novo “ouro” do século XXI e são cada vez mais imprescindíveis para a competitividade dos retalhistas. A questão está em como construir a estrutura certa, tirando partido dos dados recolhidos ao longo das operações, de forma a aumentar a eficiência na corrida pela satisfação do consumidor final.

Padrão de investimento diverge

“A nível internacional, é visível a tendência para comoditizar os processos de retalho tradicionais. Soluções como Software como Serviço (SaaS) ou Plataforma como Serviço (PaaS) são, por isso, cada vez mais aceites e procuradas”, dá conta João Borrego.

O atual padrão de investimento dos retalhistas, a nível mundial, diverge entre “simplificar o que é standard e investir em tecnologias diferenciadoras no que diz respeito a marketing, preço e mobile, alavancando a inteligência extraída da informação que cada retalhista detém”, explica. Neste sentido, soluções de “machine learning” e inteligência artificial “têm um grande papel a desempenhar”.

Focando no mercado português, no que toca à potencialidade dos dados há ainda “uma avenida muito grande a explorar, centrada no cliente e no seu comportamento”, observa o responsável, sublinhando, no entanto, que em Portugal faz-se um “bom trabalho” na utilização dos dados, “tendo em conta as restrições legais” às quais as empresas estão sujeitas (nomeadamente o RGPD).

Assim, para os retalhistas portugueses, “a grande oportunidade está na oferta da comodidade da compra, que vai desde as entregas no próprio dia à política e facilidade de devoluções”.

Consumidores ainda contra recolha de dados

João Borrego nota evoluções “diferentes” em termos de padrões de compra. “Em Portugal, ainda há muito a necessidade de ver, tocar e experimentar, enquanto noutros mercados é mais apreciada a comodidade de escolher entre ofertas entregues no telefone”.

Por outro lado, lembra que “há ainda uma parte muito significativa de clientes que não apreciam ser invadidos com ofertas personalizadas ou que o retalhista saiba o que estão à procura ou onde estão”. No entanto, estes são “cada vez menos”.

A abordagem da Oracle Retail passa, neste sentido, por identificar em que áreas pode acrescentar valor ao retalhista do ponto de vista das soluções ou serviços. “Tradicionalmente somos envolvidos porque há um problema ou um desejo do retalhista em ser mais eficaz ou prestar melhor serviço em determinada área de operação. A partir daí, e após um trabalho detalhado de análise com o cliente, conseguimos recomendar qual o conjunto de ações que são necessárias para atingir o objetivo, que podem ser desde a alteração ou inovação em processos de negócio, ou a adoção de uma nova tecnologia e/ou aplicação. Também nos encarregamos de transformar uma ideia em ação e resultados. Somos capazes de executar e medir o impacto, o que é fundamental para o cliente e também para as parcerias de longa duração que estabelecemos com os mesmos”, destaca.

Exemplo no setor do vestuário

E como tudo isto se aplica, em termos práticos? “Um retalhista do segmento do pronto-a-vestir queria saber qual o desempenho e as vendas de determinada coleção. Para responder a esta necessidade, a Oracle Retail Consulting desenvolveu uma solução simples e eficaz, designada de Lifecycle Inventory Planning (LIP), que amplia e integra soluções de previsão e planeamento. A LIP vai muito além dos parâmetros de gestão correntes como item/loja/dia ao recorrer a um método revolucionário para definir parâmetros do sistema acoplados ao machine learning. O modelo de data science foi capaz de ajudar este retalhista a obter uma projeção do fim do stock com base na previsão e na disponibilidade do stock, reconfigurando as regras do reabastecimento e melhorando o planeamento a nível mundial. Esta é apenas uma das muitas inovações criadas pela equipa do nosso novo Centro de Inovação e Tecnologia”, explica o responsável.

Novo centro de Inovação para Retalho

Produzir soluções customizadas para retalhistas de todo o mundo e explorar, sobretudo, as mais recentes tecnologias de inteligência artificial e machine learning. Foi com este propósito que a Oracle inaugurou, a 10 de outubro, o seu mais recente Centro de Inovação e Tecnologia. O Porto, mais concretamente o centro empresarial Lionesa, no concelho de Matosinhos, foi a localização escolhida para este empreendimento – o segundo que a multinacional instala em Portugal. O primeiro funciona há 30 anos no Lagoas Park, em Oeiras.

A partir do norte de Portugal, a multinacional norte-americana, que atua em várias áreas da indústria, vai fornecer especificamente o segmento do retalho. Otimizar as cadeias de abastecimento, de clientes espalhados por todo o mundo, é a missão da nova equipa de programadores.

O talento e as opções logísticas, que permitem estar mais próxima dos clientes, foram os fatores-chave para a escolha da localização, entre as muitas opções a nível global. “A região do Porto é uma zona vibrante que conjuga uma herança cultural e histórica muito forte e rica, com um movimento de inovação contínua. (…) Concentra um elevado número de talentos na área das TI [Tecnologias de Informação], cobiçados pelos maiores empregadores do setor, que estão, por isso mesmo, a abrir operações em Portugal. Também por isto fazia sentido expandirmos a nossa equipa de especialistas” ao Porto, explica João Borrego, citando ainda o estudo da CBRE “EMEA Tech Cities: Opportunities in Technology Hotspots”, no qual o Porto surge entre os maiores clusters de tecnologia na região EMEA (Europa, Médio Oriente e África).

A região EMEA seria, aliás, o foco deste novo centro da Oracle em território nacional. No entanto, este encontra-se já a desenvolver ferramentas para um leque mais abrangente de retalhistas, de países como Estados Unidos, México, Reino Unido, França, Kuwait ou Arábia Saudita, dá conta o responsável. Entre os clientes portugueses está a Sonae.

Segundo dados apresentados em outubro, a Oracle obteve, a nível global, receitas de cerca de 9,2 mil milhões de euros, no primeiro trimestre do seu ano fiscal, que corresponde ao período entre junho e agosto. O valor traduz um crescimento de 4%. Em Portugal, a faturação da empresa registou uma evolução positiva “de dois dígitos”, disse Bruno Morais, country manager da empresa no País.

* Texto publicado originalmente na edição 375 do Hipersuper

 

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