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Guia para pôr um negócio entre rodas

Por a 13 de Março de 2017 as 16:20

Uma análise do Comparajá.pt

As food trucks (“carrinhas de comida”) têm dominado as paisagens urbanas portuguesas, mostrando que são uma tendência que veio para ficar. Consoante a Associação de Street Food Portugal, o setor foi avaliado em 5,7 milhões de euros em 2015, um acréscimo de 81% face ao ano anterior. Na senda da implantação desta área de negócio no nosso País, a plataforma gratuita de comparação financeira ComparaJá.pt elaborou um guia essencial para todos os empreendedores (ou até mesmo grandes empresas) que queiram pôr os seus restaurantes “em movimento”.

Desde hambúrgueres e cachorros gourmet, passando pelos gelados de iogurte e sumos de fruta até às opções de gastronomia local, a moda dos food trucks em Portugal veio para ficar, para todos os gostos e feitios. São veículos adaptados para produzir e servir refeições e diferenciam-se das tradicionais roulottes de bifanas ou farturas através de um conjunto de inovações.

Desde logo, os food trucks vieram acabar com a conceção das refeições baratas e de baixa qualidade. Sendo mais acessível manter um camião do que um estabelecimento comercial, muitos chefes optaram por esta via, levando os seus pratos de alta qualidade para as ruas movimentadas das grandes urbes a um preço muito mais acessível para o consumidor.

A venda ambulante de refeições não é novidade. Mas a prática da mesma com comida de alta qualidade é. Os perfis de investidores neste tipo de negócio tanto podem ser jovens desejosos de lançar o seu primeiro negócio, como chefes já reconhecidos no mercado que pretendem explorar outras formas de testar novos conceitos, como ainda marcas que pretendem disponibilizar uma alternativa móvel ao seu já existente espaço físico (é o caso, por exemplo, de A Brasileira, que no ano passado levou o seu famoso café do Chiado para as ruelas e vielas de Lisboa a bordo de uma Piaggio APE 50).

Estes negócios vêm satisfazer necessidades de consumidores apressados no seu dia-a-dia de trabalho e que procuram refeições de qualidade a preços take-away. Poupar tempo e dinheiro são, portanto, fatores-chave inerentes a esta atividade.

Como podem os empreendedores entrar neste negócio?

Há mercado em Portugal para os food trucks porque existe uma nova geração de amantes da chamada street food que se encontra nos ambientes cosmopolitas. E os empreendedores desta área beneficiam de uma publicidade (especialmente nas redes sociais) sobre este modelo de negócio que nunca foi tão intensa.

Recorrendo ao perfil do Simão, um jovem de 26 anos que trabalhava numa multinacional, mas que decidiu iniciar o seu próprio negócio neste ramo, vejamos o “kit de iniciação” de que necessita para pôr o seu restaurante mexicano ‘on-the-go’ sobre rodas.

1. Plano de investimento

O primeiro elemento deste negócio é, obviamente, a viatura. No caso do Simão, este empreendedor adquiriu uma carrinha FIAT Ducato. Em termos de modificações, é necessário colocar bancadas em inox, tratar do sistema elétrico, pintar, decorar e afins.
Na tabela abaixo é possível encontrar uma estimativa de todos os custos que o Simão terá com a aquisição dos equipamentos e com a transformação do veículo:

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No total, conforme as estimativas de encargos recolhidas pela equipa do ComparaJá.pt, o investimento inicial em equipamento pode rondar os 40 mil euros. Depois existem obviamente os custos com a manutenção do equipamento, mas, para começar, isto é tudo o que o Simão precisa.
Já relativamente ao retorno do investimento num food truck, de acordo com a Street Food Portugal, pode ser recuperado entre nove meses a três anos.
Em Portugal já existem empresas especializadas na conceção de food trucks, as quais facilitam todo o processo de modificação do veículo, pintura e decoração, disponibilizando ainda as bancadas em inox e o sistema elétrico e de refrigeração.

2. Licenciamento

Depois de adquirido todo o equipamento necessário, é preciso passar pelo licenciamento obrigatório. No caso deste setor em específico, são precisos dois tipos de licenciamento.  Por um lado, o chamado Licenciamento Zero, um regime simplificado para a instalação, modificação e encerramento de estabelecimentos de restauração ou de bebidas, de comércio de bens, de prestação de serviços ou de armazenagem, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 48/2011 de 1 de abril.  Por outro lado, é ainda preciso uma licença de exercício de atividade para venda ambulante, que é sempre tratada junto da respetiva Câmara Municipal do local onde o food truck estará instalado.

É fundamental ainda consultar o regime jurídico da instalação e funcionamento dos estabelecimentos de restauração ou de bebida através do Decreto-Lei n.º 234/2007 de 19 de junho. Já em matéria de higiene e segurança é imprescindível o Decreto-Lei n.º 67/98 de 18 de março.

3. Seguros

Além dos equipamentos, existe uma panóplia de seguros que também faz parte das despesas de investimento, sendo essencialmente quatro: automóvel, acidentes de trabalho, multirriscos e responsabilidade civil para exploração (setor alimentar).

O Simão é de Lisboa e tem carta de condução desde 2009. Com base nestes pressupostos, o seguro automóvel que ele precisará para a sua Fiat Ducato, versão 30 MH2, com cilindrada 2.3, Multijet, a diesel e com 120 CV de potência rondará um prémio de 1.500 euros anuais.

É importante que um seguro automóvel para um food truck tenha um conjunto de coberturas essenciais, nomeadamente: garantia de responsabilidade civil, proteção jurídica, quebra de vidros, assistência em viagem e ainda, no âmbito de uma proteção mais alargada para danos próprios, cobertura de choque, colisão e capotamento, contra incêndio, raio ou explosão e fenómenos da natureza, atos maliciosos, furto ou roubo.

No que diz respeito ao seguro de acidentes de trabalho, assumindo que o mesmo se aplicará ao Simão e ao funcionário que ele contratará para ajudar na confeção da comida, e tendo como referência um salário base de 700 euros para cada um, o prémio deste seguro será de aproximadamente 450 euros por ano.

Importa ainda segurar o mobiliário e equipamento que o Simão irá colocar dentro da carrinha (a arca frigorífica, a bancada em inox e afins) como forma de prevenção contra incêndios ou explosões, queda de raios, tempestades, inundações, danos por água, avaria de máquinas, danos em bens refrigerados, riscos electricos, derrame de sistemas de arrefecimento/aquecimento, furto ou roubo. Uma proteção como esta – i.e., um seguro multirriscos – custará a este jovem empreendedor 190 euros anuais.

Por último, terá ainda de ser contratado um seguro de responsabilidade civil para exploração de estabelecimento no setor alimentar que terá um custo de cerca de 250 euros por ano.

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4. Financiamento

Por último, mas não menos importante, para tornar o food truck na sua “galinha dos ovos de ouro”, o Simão precisa de financiamento, pois não dispõe do montante total necessário. Vejamos as opções que lhe assistem nesta era tão propícia à criação de startups.

Em primeiro lugar, pode recorrer a business angels, que são investidores privados que, face a projetos que considerem ter viabilidade, investem capital próprio com a contrapartida de ficarem como sócios ativos da empresa ou através de royalties, disponibilizando toda a sua rede de contactos e os seus (valiosos) conhecimentos de gestão e marketing.

Outra possibilidade é o crowdfunding (financiamento colaborativo). Se o Simão colocar o seu projeto online, pode angariar fundos através de plataformas onde se encontram estas comunidades que investem em novos negócios. Pode também recorrer aos chamados empréstimos peer to peer (P2P) realizados em plataformas online através das quais se pode receber financiamento de particulares a taxas muito atrativas.

Existem também alguns apoios estatais destinados a estas iniciativas. O Startup Portugal Momentum, por exemplo, é um programa para recém-licenciados que queiram abrir o seu próprio negócio. Para o perfil do Simão, o mais adequado provavelmente seria algo como o programa Portugal 2020 que, na senda da promoção da internacionalização e competitividade, financia empresas de acordo com o seu desempenho.

Já se o Simão optar por um crédito pessoal para pequenos negócios, beneficia do facto de poder investir em tudo o que precisa de uma só vez e ir pagando o financiamento em prestações mensais. Se solicitar 40 mil euros com um prazo de 72 meses, de acordo com as simulações do ComparaJá.pt, a sua mensalidade ao banco rondará os 750 euros.

Para quem não tem acesso a crédito bancário pela via regular ou se encontra desempregado (ou em vias de ficar), há ainda o microcrédito, uma solução com apoio do Estado.

Entre o investimento inicial no veículo e equipamentos, o processo de licenciamento e de contratação de seguros, passando pelo financiamento, o segredo para o sucesso reside na avaliação de várias opções. Pedir orçamentos, informar-se devidamente sobre todo o procedimento legal, efetuar diversas simulações para seguros e financiamento são meio caminho andado para atingir altas velocidades nos caminhos da street food. Mas esta é a parte “fácil”, sendo necessário adicionar à equação, além de capacidade de fazer diferente e da visão de negócio, muito dedicação e trabalho. Resta-nos desejar boa sorte ao Simão.

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