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Conhecer Trás-os-Montes sem sair de Lisboa

Por a 22 de Dezembro de 2016 as 12:24

Por considerarem que a região de Trás-os-Montes não estava bem representada na capital do País, dois amigos de Mirandela criaram a Banca de Pau. O conceito “sui generis” que promove pequenos produtores regionais é, ao mesmo tempo, restaurante, loja grossista e retalhista e prepara-se para alargar ao ecommerce.

Passam já das cinco e meia da tarde e a Banca de Pau prepara-se para servir os petiscos tradicionais de Trás-os-Montes que nesta casa se confecionam. Lá fora, a fachada amarela faz o espaço aberto há cinco meses saltar à vista e destacar-se entre o restante comércio da Rua Nova de São Mamede, na zona do Rato, em Lisboa. Dentro, é em simultâneo mercearia, restaurante e loja grossista. Vende apenas produtos transmontanos, a maioria de pequenos produtores que, sem esta iniciativa, talvez nunca teriam oportunidade de dar a conhecer os seus produtos na capital do País.

“Trabalhamos diretamente com os nossos fornecedores, sabemos quase a sua história de vida, a qual fazemos questão de contar também aos clientes”, explica em entrevista ao HIPERSUPER Sérgio Figueiredo, que criou o conceito juntamente com o amigo de infância João Lopes. Naturais de Mirandela, os dois notaram que os típicos produtos que marcaram a sua meninice, muitos deles fabricados de forma artesanal, não chegavam à cidade que escolheram para estudar e trabalhar. “Em Lisboa encontramos um pouco de todo o País e achámos que a região de Trás-os-Montes não estava bem representada”.

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Decidiram então preencher a lacuna e construíram este conceito. “Talvez os produtos sejam muito diferentes e o espaço talvez seja muito específico, mas acho uma grande cidade vive disso, de lugares ‘sui generis’”, confessa o responsável.

Além de misturarem três áreas de negócio (venda a retalho e grossista e restauração), fazem também aqui sessões de prova para os clientes ficarem a conhecer melhor os produtos. Convidam ocasionalmente os fornecedores transmontanos a descer à capital para divulgarem o seu trabalho. “Queremos num curto espaço de tempo chegar às duas provas por mês e em janeiro começar a receber uma sessão por semana. A ideia é apresentar os produtos sem que os produtores tenham muita despesa. Não necessitam de espaço, nem têm outros encargos. Garantimos todas as condições”.

Loja online em Fevereiro

O investimento inicial na Banca de Pau – “nome inspirado nas bancas de madeira que suportavam os produtos à venda nas feiras de antigamente” – rondou os “40 mil euros”. Testaram o modelo de negócio em 2014 com a abertura de um espaço provisório em Alfama, concedido por uma “pessoa amiga”. A loja de experimentação fechou em janeiro deste ano mas decidiram manter a colaboradora do espaço, Sónia Dias, convidando-a a ingressar no projeto.  Mudaram-se para o Rato, em junho, com a terceira sócia-gerente e mais cinco colaboradores. Aqui, ao contrário do anterior ponto de venda junto ao Museu do Fado, “os clientes são mais portugueses que turistas”.

Sérgio Figueiredo, co-fundador Banca de Pau

Sérgio Figueiredo, co-fundador Banca de Pau

Sérgio Figueiredo conta que, apesar de o público agora ser mais nacional, “recebem por mail pedidos de encomendas dos quatro cantos do mundo”, motivo pelo qual vão lançar em fevereiro do próximo ano uma loja online. “Ainda ontem enviamos para a Dinamarca e hoje para a Irlanda”, lembra. O interesse do público estrangeiro nos produtos da loja faz os proprietários aspirarem expandir o conceito além-fronteiras. “Faz mais sentido do que abrir outra loja em Lisboa ou noutra cidade portuguesa. Mas, para abrir fora de Portugal, faria talvez mais sentido termos uma proposta mais abrangente, com produtos portugueses”, admite o responsável, ressalvando que, para já, a prioridade é colocar este primeiro espaço a funcionar a “velocidade de cruzeiro”.

Área de restauração é a que mais pesa 

A ideia inicial passava por dar aos consumidores lisboetas um “sítio perfeito” para descontrair no final de um dia de trabalho, ao sabor de um copo de vinho ou de um “Cibinho” (expressão transmontana para “tapa” ou pequeno prato). Porém, os clientes preferem o “Cibo” (nome dado às doses maiores), fazendo da área da restauração “a que mais pesa atualmente” no negócio. Um jantar para duas pessoas custa em média 25 euros.

Quanto à atividade de venda grossista, ainda apenas quatro restaurantes lisboetas são clientes regulares abastecendo-se aqui “todas as semanas”.

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A terceira área de negócio, a mercearia, desenha-se à entrada através de uma bancada branca atrás da qual se vêem os vários tipos de queijos, enchidos, presuntos, salpicões, entre muitos outros alimentos vendidos ao peso. Encontram-se produtos peculiares, como os enchidos “butelo”, que inclui carne e ossos de porco e que se come com “cascas” (feijão verde desidratado), ou o “azedo”. Este último é, “no fundo, a antítese da alheira, uma vez que é feito apenas com carne de porco, contrariando a tradicional alheira com carne de aves e pão criada pelos judeus no séc. XVIII para fugir à inquisição. Pelo menos, segundo a teoria mais aceite”.

Há também o “milho”, que “se assemelha à polenta italiana”, e o cuscus transmontano, que “reflete a influência árabe da Península Ibérica. Não há muita gente a fazer este produto porque dá muito trabalho”, sublinha o sócio-gerente. “Um dos nossos pratos é o cuscus com cogumelos selvagens”.

Marca própria para apoiar pequenos produtores

A história do interior norte do País conta-se em todos os pormenores da casa, desde as máscaras tradicionais da região e o Careto (personagem ligada ao carnaval transmontano) pendurados na parede aos livros que promovem autores da região e temáticas como a fauna, a flora, os hábitos e as tradições transmontanas. No centro da loja, nas bancas de madeira que servem de expositores, encontram-se os doces Puri da aldeia de Parambos, as ervas aromáticas e chás da produtora Mais Ervas, azeite, mel, frutos secos e desidratados e vinagres, entre outras iguarias. “Tentamos também ter frutas e legumes sazonais”.

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Oferecem ainda um vasto portefólio de vinhos, quer do Douro quer de Trás-os-Montes, região que “está agora a produzir néctares muito interessantes”, considera o sócio-gerente. Os mais vendidos são os vinhos ThyRo e Colheita Tardia, não fossem estas marcas detidas por João Lopes, o cofundador da loja, que se tornou produtor vinícola duriense em 2009. Vende também mel e vinagres diferenciadores, como o de mirtilo.

Os cerca de 60 metros quadrados da loja desvendam a riqueza gastronómica sobretudo do distrito de Bragança, de onde a maioria dos produtos chegam. O distrito de Vila Real “ainda não está tão bem representado como se pretende”, mas o sócio-gerente garante que estão à procura. “Muitos produtores que encontramos não estão habilitados para vender os produtos na nossa loja, porque não têm a atividade devidamente regularizada para entrarem no comércio. Uma das ideias que temos para o futuro é desenvolver uma marca própria para os ajudar com a certificação necessária, uma vez que são pequenos produtores e estão mais preocupados na produção e venda local. Podemos ajudá-los a certificar o negócio para os trazer depois para o mundo da comercialização mas, para isso, é necessário muito trabalho ao nível da logística, uma competência que ainda estamos a desenvolver”.

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Sérgio Figueiredo, co-fundador

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