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Especial Bacalhau. Supermercados “vendem com prejuízo”

Por a 16 de Dezembro de 2016 as 11:49

bacalhau da Noruega

Apesar do aumento da matéria-prima, o consumidor quase não sentiu o aumento do preço do bacalhau. Algumas empresas absorveram a subida esmagando a margem e “duas cadeias de distribuição estão a vender o produto com prejuízo

A tradição já não é o que era. Os portugueses têm vindo a substituir nos últimos anos o consumo do tradicional bacalhau seco pelas convenientes propostas congeladas e prontas a cozinhar. A categoria de bacalhau congelado alcançou até novembro um volume de negócios de 61 milhões de euros, um crescimento de 10% face a igual período do ano anterior, segundo dados da consultora Nielsen, que têm em conta o negócio do canal da distribuição moderna e dos supermercados tradicionais. Em volume, acelerou 12% para 7,3 milhões de quilos. Ao contrário da categoria de bacalhau seco, que perdeu 5% das vendas para 37 milhões de quilos, mas conseguiu igualar a faturação do ano anterior (244 milhões de euros).

Ao contrário do que se poderia pensar, o canal tradicional pesa mais na venda de bacalhau congelado (10%) do que de bacalhau seco (6%), de acordo com a mesma fonte. Os ‘shoppers’ que antes se deslocavam ao comércio tradicional comprar bacalhau seco preferiram, no período analisado pela Nielsen, adquirir o fiel amigo nos supermercados da moderna distribuição, já que os hipermercados não apresentam diferenças substanciais nas duas categorias (seco e congelado) e representam 23% das vendas deste peixe no comércio.

O segmento de “bacalhau demolhado ultracongelado” nasceu há cerca de 20 anos. Desde então tem vindo a conquistar cada vez mais consumidores, sobretudo aqueles que não têm tempo para demolhar o tradicional bacalhau seco, e optam por opções mais fáceis e rápidas de confecionar. Mas também tem vindo a ganhar terreno nas cozinhas dos cafés, restaurantes e hotéis pela sua versatilidade e conveniência. Chegou, conquistou os portugueses e hoje dita a estratégia das empresas no que diz respeito à inovação e lançamento de novos produtos. Ricardo Alves, administrador da Riberalves, revela em entrevista ao HIPERSUPER que o mercado português de bacalhau representa vendas acumuladas de 65 mil toneladas, em média, por ano e que o bacalhau ultracongelado vale já 30% daquele valor. É neste segmento que as marcas especialistas na tradicional cura portuguesa apostam para recrutar novos consumidores, sobretudo os mais jovens, mas também para fidelizar, convertendo os tradicionais ‘shoppers’ à conveniência de um produto pronto a cozinhar.

Desde sempre presente à mesa dos portugueses, que consomem, per capita, 57 quilos de peixe por ano, este produto selvagem encontra, no entanto, na época natalícia o seu período de vendas por excelência. Os últimos três meses do ano representam para algumas empresas mais de 30% das vendas anuais.

bacalhau

Distribuição “vende com prejuízo”

Apesar da subida do preço da matéria-prima, que se fez sentir a partir de junho e se refletiu nos preços ao consumidor, que pagaram mais 10% pelo fiel amigo, segundo as contas de Ricardo Alves, o consumo manteve-se relativamente estável e é assim que os produtores preveem que feche o ano.

As vendas em volume no mercado português deverão fechar o ano em linha com 2015, no entanto, em valor, “deverão crescer ligeiramente, repercutindo, parcialmente, o aumento de preço da matéria-prima. Dizemos parcialmente porque alguns players absorveram esse aumento em detrimento da margem, enquanto outros, concretamente dois grupos da grande distribuição, vendem bacalhau com prejuízo”, revela ao HIPERSUPER Ana Gamelas, do Marketing e Comunicação da Rui Sousa e Irmão, que comercializa a marca Sr. Bacalhau.

A responsável considera ser essa a principal dificuldade para fazer crescer as vendas no mercado interno. “A massificação da venda à custa da qualidade e as vendas com prejuízo por algumas cadeias de distribuição confundem o consumidor que nunca sabe qual é o preço real do bacalhau e fica sempre à espera de comprar melhor noutro dia”. A moderna distribuição pesa 80% no negócio da empresa e o canal food service 20%.

Na opinião daquela profissional, o mercado português está bipolarizado, com uma classe média empobrecida e uma classe alta com poder de aquisição. “Registamos um aumento da procura por bacalhau mais barato e unidades de venda mais pequenas, a par de uma diminuição de vendas na gama média e aumento da procura por produtos mais nobres e de maior exigência de qualidade”.

bacalhau_receita

Exportar para mercado da saudade

A exportação tem sido a arma de arremesso para contornar as dificuldades de crescimento no mercado interno. As oportunidades estão, sobretudo, fora da União Europeia. Talvez por isso, a dona da marca Sr. Bacalhau está a aproximar-se cada vez mais do mercado brasileiro. A Brascod Brasil tem delegações em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, dotadas de “modernos armazéns frigoríficos, que acompanham as vendas no terreno em tempo real”, explica Ana Gamelas. O mercado brasileiro é o mais importante para a empresa sedeada em Póvoa de Santa Iria, que exporta 55% do volume de negócios para mais de 30 países.

Na Noruega, país onde adquire matéria-prima, o Grupo Rui Costa adquiriu este ano a totalidade do capital da estação de receção de pescado e passou a deter em 100% duas unidades industriais. “Impusemos um modelo de gestão que permite uma otimização dos custos, mas, sobretudo, garante a máxima qualidade de matéria-prima, que se reflete no equilíbrio qualidade-preço e num crescimento moderado mas sustentável”.

Por sua vez, a Riberalves comercializa os seus produtos em mais de 20 países. As exportações representam 40% das vendas da empresa de Torres Vedras. Brasil, Angola e França são pesos pesados no negócio internacional, mas a empresa está atenta a novos mercados. “A estratégia de exportação passa desde logo pela presença no mercado da saudade, porque os portugueses são os melhores embaixadores do bacalhau de cura tradicional portuguesa, mas apostamos muito na inovação e no desenvolvimento de novos produtos que possam abrir novos mercados.

 

 

 

 

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