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Trump, o TTIP e o retalho: Crise ou Oportunidade?

Por a 9 de Dezembro de 2016 as 11:27

Por Sérgio Pereira, diretor geral da plataforma gratuita de simulação de produtos financeiros ComparaJá.pt

A palavra “crise”, em chinês, tende a ter outro significado: também pode querer dizer “oportunidade”. E embora esta interpretação tenha sido criticada por alguns linguistas, a metáfora por detrás de tal associação mantém-se. Uma crise pode ser uma ameaça, mas por detrás dos perigos há oportunidades que podem ser agarradas.

Esta interpretação assenta como uma luva na eleição para a presidência dos Estados Unidos do magnata Donald Trump. Cavalgando uma onda populista, o bilionário prometeu, durante a campanha eleitoral, “Make America Great Again”. Isso, grosso modo, significa trazer de volta os empregos industriais perdidos na “rust-belt” (faixa de Estados norte-americanos em que outrora a indústria teve bastante peso) devido à concorrência advinda da globalização.

Ora, esta turbulência populista (a que os países europeus não são alheios, tanto à esquerda como à direita) apanhou os EUA e a União Europeia em plena negociação do TTIP. Ora o TTIP – o Transatlantic Trade and Investment Partnership – é um acordo de comércio que estes dois blocos estão a negociar e que pretende harmonizar regulações entre estes dois blocos económicos e assim facilitar o acesso aos mercados por parte das empresas de ambas as regiões. Para Portugal, as projeções de crescimento encomendadas pela Comissão Europeia em relação tratado comercial, preveem um crescimento de 0,4% no PIB do país. Pode não parecer muito, mas com o mercado interno a crescer anemicamente, a abertura de outros mercados pode afigurar-se como uma tábua de salvação para muitas empresas.

E o retalho? Para este setor as oportunidades podem ser bastantes. Em primeiro lugar, os vinhos. O vinho português tem cada vez mais procura no mercado norte-americano. Entre Janeiro e Maio de 2015, a exportação de vinho português para os EUA aumentou 19,5%. Durante esse período foram compradas, nos EUA, 420 mil garrafas. Os retalhistas que negoceiem este produto podem ter no TTIP uma oportunidade para ter acesso ainda mais facilitado a um mercado com 300 milhões de consumidores. Outro exemplo, já estudado, é o da pêra-rocha. Portugal não a pode exportar para os EUA porque o acordo bilateral existente não o permite, enquanto – por exemplo – a Itália já o faz. Com o TTIP este produto – tipicamente nacional – pode finalmente conquistar o mercado norte-americano.

Além do mais, a localização de Portugal é privilegiada como “hub” no transporte de mercadorias entre estes dois blocos económicos. E para tal devemos contar com Sines, o porto europeu de águas profundas com melhor localização para receber este tipo de cargueiros. Também aqui a economia portuguesa pode sair beneficiada pelo dinamismo comercial que o TTIP irá criar.

Mas será que passa pelos planos do próximo Presidente dos Estados Unidos cancelar a negociação no tratado de livre-comércio com a UE? É difícil prever. É verdade que Trump assumiu um discurso protecionista durante a campanha, mas a maioria era direcionado ao México e à China e à NAFTA e ao TPP. Mas uma coisa é quase certa, as negociações do TTIP sob a batuta da Administração Trump podem sofrer uma guinada.

Mas, verdade seja dita, a Administração Trump promete algumas oportunidades para empresas que queiram investir nos EUA e as empresas de retalho não são exceção. Em primeiro lugar, Trump prometeu baixar o IRC das empresas sediadas nos EUA para 15% (atualmente pode chegar a 35%, o maior do mundo industrializado). Também garantiu que vai diminuir o “encargo” imposto pelas regulações económicas. Como prometeu trazer empregos de volta para os EUA, é expectável que Trump procure criar condições económicas para que novas empresas criem postos de trabalho no mercado norte-americano.

Por outro lado, se Trump levar avante a parte do programa que promete mais protecionismo económico é bem possível que as empresas portuguesas que exportam (ou querem exportar) para os Estados Unidos vejam os custos tarifários aumentados. Em suma, com Trump tudo o que podemos esperar é um “wait and see”.

 

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