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O elefante na sala de estar – supermercado online, por Miguel Murta Cardoso (consultor retalho)

Por a 26 de Abril de 2016 as 12:11

Miguel Murta Cardoso consultorPor Miguel Murta Cardoso, Consultor especialista em Retalho

O ecommerce alimentar tem pouca presença nos lares portugueses. Segundo a Kantar WordPanel, apenas 6% da população comprou produtos de grande consumo pela internet em 2015.

Mesmo sendo o canal com maior crescimento no mundo, não é nem responsável por 1% das vendas do setor alimentar em Portugal. Muitas redes ainda se encontram reticentes quanto à viabilidade de desenvolver o canal. A verdade é que a rentabilidade não é apelativa.

As pessoas apontam o aspeto cultural como razão para a baixa representatividade do canal no nosso país. Porém, o ecommerce alimentar no seu estado embrionário, é uma novidade e um choque cultural em todas as sociedades. Se há casos de maior sucesso próximos de nós, como Reino Unido, Alemanha ou Itália, então o problema está mesmo do lado da oferta e não do lado da procura.

Já não faz sentido que o cliente tenha sempre de se deslocar para comprar algo. Os retalhistas têm de procurar os clientes e aproximarem-se deles colocando os seus produtos à distância de um click. As barreiras entre os clientes e os produtos/serviços têm de ser eliminadas. Não querendo entrar em discussões polémicas, o Uber é um excelente exemplo disso. Lembra-se quando tinha que se deslocar até uma praça de táxis para apanhar um táxi? E o tempo que demorava até encontrar um táxi disponível? Ou quando o taxista não tinha troco e tinha que procurar por lojas abertas para trocar o dinheiro? Ou mesmo atualmente, que chega ao final da corrida e tem de passar o cartão de crédito ou colocar um código no aplicativo do taxista? O que o Uber fez foi eliminar as barreiras entre os clientes e o serviço de transporte de passageiros.

O cliente está em constante mudança, priorizando cada vez mais a sua própria conveniência. Muitos clientes pensam duas vezes antes de se deslocar até às lojas, procurar estacionamento, procurar os produtos, ficar em filas, entre outros…

Claro que não se devem concentrar as forças todas no e-commerce. O online no setor alimentar não vai ultrapassar as lojas físicas nas próximas décadas. O objetivo é conjugar os diferentes canais e dar a devida importância e investimento a cada um deles.

Enquanto no Reino Unido o ecommerce alimentar é responsável por 6% das vendas do setor, Portugal ainda está muito aquém dos níveis de representatividade projetados há uns anos. E para atingir esses níveis depende muito da vontade e capacidade dos retalhistas a atuarem no nosso País para prestarem um serviço de qualidade a um preço justo.

O aspeto cultural está claro, oferece uma forte resistência, mas noutros países este foi moldado e as redes ganharam espaço nesse canal. Portugal seguirá o mesmo caminho, porque o cliente português também evolui e as suas necessidades acompanham essa evolução. Os clientes que a concorrência vai fidelizando serão mais difíceis de recuperar no futuro.

Mais de 30% da população portuguesa faz compras online, enquanto apenas 6% dos lares compram produtos de grande consumo? O potencial de crescimento é enorme. A evolução do canal está nas mãos dos retalhistas que devem procurar satisfazer a evolução das expectativas e necessidades dos portugueses. O ecommerce alimentar ainda é uma tendência em Portugal, mas já está bem presente noutros países.

Se o próprio retalhista não pretende operar o canal diretamente, então deve procurar parceiros fortes e soluções para levar os seus produtos até aos seus clientes que procuram essa conveniência. Porém, é bom ter em conta que essa experiência poderá ser um fator crítico de sucesso no futuro do retalho alimentar. E a experiência não se compra, ganha-se, vivenciando-a!

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