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Retrato do setor do azeite: produção, consumo e exportação. Por: Mariana Matos (Casa do Azeite)

Por a 6 de Outubro de 2015 as 17:32

mariana_matos_casa_do_azeitePor Mariana Vilhena de Matos, secretária-geral da Casa do Azeite – Associação do Azeite de Portugal

O setor do azeite em Portugal conheceu na última década um crescimento notável. Impulsionado por um investimento massivo que conduziu a uma enorme revitalização deste setor tradicional da agricultura portuguesa, não só ao nível da produção mas também ao nível da qualidade do produto, da sua apresentação e comercialização, tem apresentado elevadas taxas de crescimento ao longo de toda a cadeia de valor.

Apresenta-se seguidamente um balanço (ainda provisório) da campanha oleícola de 2014/2015, analisando os principais fatores na origem do desempenho do setor, particularmente ao nível da produção, do consumo interno e das exportações.

PRODUÇÃO

Na campanha oleícola de 2014/2015 a produção portuguesa, segundo os dados do INE, atingiu as 60.944 toneladas, valor que representa uma quebra de cerca de 33,5% em relação à campanha anterior (Quadro 1).

Quadro 1 – Evolução da produção em Portugal, por região.                                                                                                                                                                        (toneladas)

   2006  2007  2008  2009  2010   2011  2012  2013  2014
Entre Douro e Minho 419 157 584 380 488 281 348 417 247
Trás-os-Montes 16.256 9.572 15.098 10.296 16.755 13.277 9.020 13.849 12.607
Beira Litoral 4.793 1.496 5.198 5.313 3.231 4.580 2.506 4.583 1.436
Beira Interior 6.113 3.029 6.108 5.407 5.949 4.676 3.525 5.115 3.205
Ribatejo e Oeste 4.125 2.692 3.264 7.343 4.231 4.761 3.963 5.729 2.629
Alentejo 14.878 14.566 22.998 32.664 31.591 47.278 39.436 61.220 40.561
Algarve 908 785 556 1.054 669 1.350 319 673 258
 
TOTAL: 47.492 32.297 53.808 62.457 62.914 76.203 59.117 91.587 60.944

 

Fontes: INE

A quebra de produção nacional resultou da conjugação de um ano de contra-safra (fenómeno característico da produção de azeite e em que a seguir a um ano de grande produção vem normalmente uma ano com produções mais baixas), e de condições meteorológicas e fitossanitárias particularmente adversas para a produção de azeitona, principalmente nos olivais tradicionais de sequeiro, que representam cerca de 80% da área de olival em Portugal. Apesar da quebra de produção verificada na presente campanha, o alargamento da base produtiva nacional (Quadro 2.) permitirá que a produção de azeite em Portugal continue a crescer até valores próximos das 100.000 toneladas, no horizonte de 2020, o que é, aliás, expectável em função do investimento que tem sido feito no setor produtivo nos últimos anos.

 

Quadro 2 – Evolução da área de olival em Portugal, por região.

   1999 ….  2009  2010   2011  2012  2013  2014
 Entre Douro e Minho 1.115 879 879 879 879 891 894
Trás-os-Montes 72.295 78.778 78.779 78.779 78.838 79.748 80.159
Beira Litoral 77.917 15.797 14.817 15.797 15.797 15.797 15.797
Beira Interior 49.017 49.022 49.022 49.127 49.127 49.142
Ribatejo e Oeste 36.831 25.585 25.585 25.587 25.587 25.589 26.402
Alentejo 138.083 165.391 165.386 166.868 168.295 171.829 171.140
Algarve 8.788 8.752 8.752 8.752 8.769 8.789 8.816
 TOTAL:  335.029    344.199  343.220  345.684  347.292  351.770  352.350

 

Fonte: INE (1999 – Recenseamento Geral Agrícola)

 

CONSUMO

O consumo de azeite em Portugal apresenta-se relativamente estável ao longo dos últimos anos e, segundo os dados do INE, situa-se em cerca de 78.000 toneladas, ou seja, cerca de 7,8 kg per capita. No entanto, e segundo a A.C. Nielsen – que representa sobretudo o consumo na distribuição moderna – o consumo de azeite em Portugal está em decréscimo, tendo sofrido uma quebra em 2014 de cerca de 5% em volume e um decréscimo de quase 20% em valor. O preço médio de venda de azeite ao consumidor final, no ano de 2014 e segundo a mesma fonte, foi de cerca de €3,28/kg. Mais recentemente, e por causa da já má produção de azeite na campanha, que também se verificou nos principais países produtores europeus e levou a uma certa escassez de produto no mercado, os preços do azeite na origem tem sofrido aumentos muito significativos, razão pela qual se prevê que em 2015 o consumo de azeitcasa-do-azeite1.jpge em Portugal possa sofrer novas quebras.

EXPORTAÇÕES

O segmento exportador revela o comportamento mais dinâmico de toda a fileira, colocando atualmente Portugal no TOP 5 dos países que mais exportam a nível mundial. Nos últimos anos, as exportações nacionais têm aumentado a um ritmo muito acentuado e prevê-se que este crescimento continue a ocorrer nos próximos anos, pese embora o impacto negativo que pode ter para as exportações nacionais o aumento significativo do preço do azeite que se tem verificado, particularmente no último ano, e que decorre da quebra da produção verificada em 2014/2015.

Portugal exportou em 2014 cerca de 135 mil toneladas de azeite, ou seja, mais que quadruplicou as suas exportações em relação ao ano de 2008 (30,6 mil toneladas). Os principais mercados de destino do azeite nacional são Espanha, Brasil e Itália e Angola, mas o tipo de exportações para Itália e Espanha é maioritariamente a granel, com menor valor acrescentado, enquanto as exportações com destino ao Brasil e Angola são maioritariamente de azeite de marca, embalado, de elevada qualidade e valor acrescentado.

 

Quadro 3 – Exportações nacionais de Azeite Virgem e Azeite, por destino

                                                                                                                                                                                     (valores em toneladas)

 2008  2009  2010   2011   2012  2013  2014
Brasil 21.885,5 24.655,2 32.600,2 34.086,4 42.385,1 41.702,0 44.818,7
Angola 1.687,6 2.251,9 2.173,0 3.407,4 4.276,5 4.339,7 5.367,3
EUA 1.493,8 1.500,6 1.813,0 1.957,9 1.540,1 1.122,0 1.093,5
Venezuela 1.068,2 830,0 1.037,6 1.225,3 1.116,3 631,0 755,8
França 131.8 276,0 793,4 833,6 1.986,2 5.782,7 4.284,5
Cabo Verde 386,1 690,7 733,1 833,9 722,9 842,9 896,2
Reino Unido 386,8 290,2 305,5 194,3 81,1 112,8 216,2
Países Baixos 39,7 391,6 74,1 71,7 190,9 295,2
Coreia do Sul 419,2 696,0 100,5 183,5 3,3 42,2 20,3
Espanha* 1.536,9 18.501,1 19.852,6 32.611,6 38.167,9 42.570,6 55.897,2
Itália* 1.279,8 901,4 5.881,0 6.865,2 5.503,6 15.565,7
Outros 1.510,2 2.383,3 2.767,9 4.225,3 4.497,0 4.162,2 6.142,1
 TOTAL:  30.658,9  53.394,5  63.469,8  85.514,3  101.713,3  108.792,9  135.352,7

 

Fonte: Eurostat (Dados relativos a exportações de Azeite embalado + Azeite a granel, em toneladas)

* Espanha e Itália – exportações maioritariamente a granel

Em termos de saldo da balança comercial, não podemos também deixar de assinalar o excelente resultado obtido nos últimos anos, com particular destaque para o saldo positivo de 141,6 milhões de euros obtido em 2014, numa evolução que traduz claramente o atual excelente momento do setor exportador nacional.

Quadro 4 – Evolução do Saldo da Balança Comercial (milhões de euros)

exportações

 

 

 

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