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Se Maomé não vai à Amazon…, por Pedro Fernandes (DISPLAX)

Por a 5 de Maio de 2015 as 12:33

Pedro Fernandes_EdigmaPor Pedro Fernandes, Director de Marketing da DISPLAX Multitouch Technologies

Aqui há tempos fui jantar a casa de uns amigos. Boa disposição, boa comida, enfim… um jantar típico de um povo do Sul da Europa. O problema surgiu quando passamos à fase do café. O anfitrião tinha-se esquecido de comprar cápsulas! Pânico! Mas lá se resolveu, ou não estivéssemos em Portugal onde há sempre um café num raio de 100 metros. Alguém aproveitou para comentar que lhe tinha acontecido exactamente o mesmo, mas com o detergente da roupa, ou seja, carregou a máquina e quando foi buscar o detergente reparou que a embalagem estava no fim.

Lembrei-me deste episódio quando recentemente a Amazon lançou o Amazon ‘Dash Button’. Este novo serviço consiste num objecto do tamanho de um isqueiro, que inclui um botão. Este pequeno aparelho é fixado, por exemplo, na máquina de lavar, e sempre que o detergente estiver a terminar, carrega-se no botão e a Amazon traz-nos o detergente a casa. E quem diz detergente, diz café, água, fraldas, papel absorvente, etc. Ou seja, se Maomé não vai à Amazon, vai a Amazon a Maomé!

Com o ‘Dash Button’ acabou a procrastinação. Excepto, talvez, para os procrastinadores profissionais, que quando reparam que a embalagem está a acabar pensam “eu depois carrego no botão”. Mas estes serão a excepção. Para os restantes mortais este botão é uma benesse, exceptuando, talvez, aqueles que vendem produtos concorrentes aos disponibilizados pela Amazon e que, neste momento, devem estar a coçar a cabeça e a fazer contas à vida. A dimensão e o alcance da Amazon fazem desta iniciativa uma ameaça séria a essas empresas. Resta saber se o mercado vai aderir. Independentemente de vir ou não a ter sucesso, devemos reconhecer o mérito da empresa em arriscar iniciativas inovadoras.

Do ponto de vista tecnológico, estamos perante uma interessante aplicação inserida no paradigma da “Internet of Everything” (IoE). Num futuro (bastante) próximo, (quase) todos os objectos do quotidiano serão inteligentes, no sentido em que estarão ligados em rede. Esta inteligência permite que possam contribuir com informações específicas sobre o seu funcionamento ou actividade para ajudar a construir uma camada de informação mais rica sobre a realidade que nos rodeia.

A Amazon está a distribuir estes botões físicos naquela que é a primeira fase desta iniciativa. A fase seguinte já está em preparação e passa por uma integração mais elegante dos botões. Estão a trabalhar com um conjunto de fabricantes de electrodomésticos para que o botão ‘DASH’ venha incluído de fábrica no equipamento.

Em termos estéticos o consumidor sai a ganhar com essa melhoria. Os fabricantes desses equipamentos também, uma vez que acrescentam mais valor ao seu produto. Por outro lado, reduz-se ainda mais a fricção no processo uma vez que os consumidores mais conservadores têm menos uma barreira à adopção, pelo que os produtores desses consumíveis saem a ganhar. Com esta inovação, a Amazon consegue bloquear, pelo menos temporariamente, retalhistas concorrentes e servir o mercado de uma forma mais prática e simples. Já sabemos que a Amazon toma decisões estratégicas com uma perspectiva de muito longo prazo, sempre com o intuito de reduzir margens de custo para poder reduzir o preços e, consequentemente, aumentar o volume de vendas. Resta saber como poderão reagir os retalhistas e produtores de consumíveis que ficam de fora desta iniciativa. Partindo do princípio que esta iniciativa terá sucesso, ao fim de algum tempo teremos, provavelmente, um processo por práticas monopolistas para que os consumidores possam ter a liberdade de escolher qual o retalhista e produtor de consumível que querem. Até isso acontecer, algumas empresas irão sofrer.

 

 

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