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A vida de um vinho, por José Pinto Gaspar (CVR Tejo)

Por a 27 de Agosto de 2012 as 16:21

Por José Pinto Gaspar, presidente da CVR Tejo

 

Somos muitas vezes confrontados com a questão de sabermos até quando podemos ou devemos guardar um vinho.

Embora legalmente não seja obrigatória a fixação na embalagem da data de validade dos vinhos, todos nós sabemos que, na prática, já nos confrontamos com abertura de garrafas de vinho que já não se encontravam nas melhores condições de consumo.

Este tema não pode ser abordado com linearidade, pois nenhum produtor de vinho pode informar o consumidor acerca da longevidade do vinho no geral.

Existem uma multiplicidade de factores que, directa e indirectamente, influenciam a vida de um vinho. Vamos tentar equacionar.

As regiões vitivinícolas em si apresentam características distintas de solo, clima e orografia que influenciam a longevidade dos vinhos. Embora não se possa nem deva generalizar, sabemos que as regiões mais a Sul estão geralmente associadas a vinhos menos acídulos e mais propícios a serem bebidos enquanto jovens.

Por outro lado, as regiões centrais, de influência marítima e as situadas mais a Norte, por originarem vinhos mais acídulos e/ou encorpados, geralmente estão associadas a vinhos difíceis enquanto muito jovens e com características de guarda.

As regiões centrais mais interiores, em função dos tipos de solos e disponibilidades hídricas, geralmente associam ambas as características de juventude e capacidade de envelhecimento.

As castas em si, se considerarmos a grande divisão entre Brancas e Tintas, têm também uma palavra a dizer. Todos sabemos que, genericamente, os Vinhos Tintos envelhecem melhor que os Vinhos Brancos.

No entanto, quase sempre essa característica está mais associada à tecnologia de fabrico do que às castas em si. Veja-se por exemplo, o caso dos Vinhos Rosés, que produzidos, tal como os tintos, a partir de Castas tintas, são de consumo jovem, envelhecendo geralmente mal.

São no entanto conhecidas castas que induzem a maior longevidade umas que outras. Não posso deixar de referir o caso da Casta Branca “ Arinto”, que quando bem vinificada, origina Vinhos favoravelmente ao envelhecimento durante décadas.

A tecnologia tem evoluído exponencialmente de há duas décadas a esta parte. Pode hoje considerar-se como sendo um dos principais factores que influencia a característica de envelhecimento dos Vinhos.

Dentro da mesma região e Casta, o Enólogo pode hoje utilizar um conjunto de tecnologias que lhe permitem, a partir de uma mesma matéria-prima, produzir um vinho para consumo em jovem ou para guarda.

Tudo começa com a marcação da data de vindima, influenciando o teor em açúcar, taninos, matéria corante, polifenois e outros. Segue-se depois todo o trabalho em adega, onde recorrendo a um maior contacto da película das uvas com o mosto, tempo, temperatura de fermentação, prensagem, envelhecimento em madeira e outras práticas tecnológicas, permitem dar mais ou menos corpo e estrutura aos vinhos. Associado a esse corpo e estrutura está invariavelmente a sua capacidade de envelhecimento.

E se isto é válido para os Vinhos Tintos não o é menos para os vinhos brancos.

O tipo de embalagem, a sua dimensão e os cuidados de higienização associados ao engarrafamento em si têm também uma importante palavra a dizer.

Começando pelo tipo de embalagem em si, o vidro é tradicionalmente a mais usual para o Vinho, estando normalmente associada à vedação com cortiça.

No entanto, outro tipo de embalagens têm ultimamente surgido no mercado, igualmente com um bom desempenho, embora associadas a Vinhos de consumo mais rápido, ou seja, mais adaptadas para vinhos de consumo em jovem.

De qualquer forma, a regra de que quanto maior é o volume da embalagem mais apropriada esta é para o envelhecimento, mantém-se válida quer para as garrafas quer para os outros tipos de embalagem entre si. Uma garrafa Magnum (1,5 litros), para o mesmo vinho, pode guardar-se mais tempo do que uma de 0.75 litros. As ditas meias garrafas e as miniaturas têm um tempo de vida mais limitado.

Em conclusão, há vinhos para beber muito jovens, como alguns Vinhos Brancos de menor teor alcoólico e frutados, cujo consumo deve preferencialmente fazer-se no ano seguinte à sua produção. O mesmo se passa com alguns tintos menos encorpados, que embora possam suportar algum envelhecimento, nada ganham com isso.

No outro extremo estão os Vinhos Tintos com mais estrutura, corpo e teor alcoólico, mais propícios a serem guardados, alguns durante décadas e que são quase imbebíveis na sua juventude.

Pelo meio ficam alguns Vinhos Brancos elaborados e mais encorpados, estagiados em madeira, bem como a grande maioria dos vinhos tintos, que influenciados pela Região produtora, se podem guardar durante parte de uma década.

 

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