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Fipa debate desafios do sector agro-alimentar

Por a 13 de Dezembro de 2010 as 12:25

Relações (entre produtor e distribuidor), endividamento e internacionalização. Estas são as três palavras-chave da terceira conferência da Fipa que procura ajudar as PME a serem mais competitivas


O desafio está na venda

O principal desafio para as indústrias portuguesas do sector agro-alimentar está na venda, defende Jorge Oliveira, administrador da Ernesto e Morgado. “Há um forte desequilíbrio entre dois ou três vendedores e os produtores que os fornecem. Não há dimensão suficiente para a competição em Portugal. Só aumentando o número de vendedores pode haver competição. E é a competição que resolve os problemas, muito mais do que a regulamentação”.

Este desequilíbrio leva a outro problema, sugere Oliveira. “Este desequilíbrio é um desincentivo à inovação. Porque é muito difícil recuperar os custos dessa inovação quando a indústria nem sequer tem capacidade para vender com estratégias comerciais, de preço, porque o preço é ditado pelos vendedores. E parte desses custos está na venda, na entrada de linha”.

Além de procurar novos distribuidores, é preciso ainda conhecer bem quem vai vender, como e em que condições, aconselha o administrador da Ernesto e Morgado.

“As marcas do distribuidor têm supostamente preços mais baixos porque são os distribuidores quem decide os preços, quer dos seus produtos quer dos produtos dos outros, e qual o seu lugar na prateleira”.

Jorge Oliveira lança um desafio à distribuição. A solução para este problema “pode passar pela criação de fileiras envolvendo toda a cadeia, desde a produção até à venda, com partilha de riscos e custos. Isto é feito na Alemanha, com o Lidl e a Aldi. Os distribuidores lideram as fileiras e todos saem a ganhar, incluindo os produtores”.

Desequilíbrio entre oferta e procura

As matérias-primas são um dos principais desafios do sector agro-alimentar. O desequilíbrio entre a oferta e procura tenderá a ampliar-se, sublinha António Simões,  presidente do Grupo Sovena. Para contornar os problemas de abastecimento (rastreabilidade), especulação (controlo sobre a cadeia) e de migração de valor para montante, a Sovena criou dois projectos: plantou cerca de 10 mil hectares de olival em Portugal e aproximou-se dos produtores de óleo de girassol. Como lidar com esta volatilidade nos mercados? “É preciso uma constante análise do mercado, ter recursos humanos formados e preparados para agir localmente e criar parcerias com o sector primário para melhor gestão da cadeia de valor”.

Um total de 55% das vendas da dona da Oliveira da Serra é feita na Península Ibérica. Por isso, um dos principais objectivos é saltar as fronteiras de Portugal e Espanha. A tarefa não se avizinha fácil devido “ao desequilíbrio de preços em relação aos concorrentes estrangeiros. Este problema não se resolve só com a exportação. É preciso regulamentar. Vão-se começar a sentir barreiras proteccionistas em alguns países”, sublinha António Simões.

O mundo não está em crise

A economia mundial vai crescer 4%, refere Daniel Bessa, director-geral da COTEC Portugal. “O Mundo não está em crise, a Europa é que está a passar mal”. Enfrenta problemas de crescimento e financiamento. A escassez financeira é um dos principais desafios que enfrentam as Pequenas e Médias Empresas (PME). “As empresas grandes devem procurar financiamento mais barato fora do rectângulo e libertar o capital para as PME. “Cuidar da dívida e do cash-flow é muito importante no futuro. As empresas portuguesas trabalham com grandes défices de capitais próprios”.

Sendo a inovação um dos negócios mais arriscados, que exige à empresa volume e dimensão para diluir os custos, Bessa aconselha a inovação de custo controlado, ou seja apostar em parcerias com as universidades e os centros de investigação e desenvolvimento. Propõe que se passe a uma nova geração de apoio com a inclusão de “capitais públicos nas empresas portuguesas. Resolve-se o problema do capital, porque ninguém vai fazer inovação com crédito bancário. Se correr mal, o Estado perde, se correr bem ganhamos todos”.

Flexibilidade é principal vantagem das PME

No tecido empresarial português existem 297 mil PME, são cerca de dois milhões de empresas que são responsáveis por 75% dos empregos totais do sector privado. A flexibilidade é a maior arma das PME, “a capacidade de responder rapidamente às novas oportunidades neste mercado onde ganham aqueles que se adaptam mais facilmente”, explica Clara Moura Guedes, administradora-delegada da Queijo Saloio. “Portugal é uma

PME no Mundo”.

A Saloio tem vindo a apostar na especialização (queijos de especialidade), ou seja trabalhar nichos de mercado que podem ser globais e atingir grandes dimensões com a exportação. Mas também na diferenciação através de certificações. Há quatro anos, a Saloio vendia apenas em Portugal. Actualmente, exporta 10% da produção. As principais barreiras à venda dos queijos no exterior são “a dimensão da empresa e o tempo e investimento necessários”.

O reinado do preço

Num País que “não tem estrutura económica para crescer” – fraca competitividade, estado da justiça, desemprego, fraco investimento nos bens transaccionáveis –  o sector agro-alimentar deve “pegar naquilo que tem e tentar expulsar os elementos mais caros e oferecer ao consumidor aquilo que ele quer”, defende Mira Amaral, CEO do Banco BIC. O mercado doméstico “não vai crescer, os portugueses vão perder perder de compra ainda durante alguns anos e vamos manter o mesmo nível de consumo físico pagando menos”.

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