Outras Opiniões

O dilema do FED

Por a 7 de Maio de 2007 as 16:00

 alexandre mota

Os mercados financeiros acabaram por resistir bem à crise iniciada no final do mês de Fevereiro. Na altura, um conjunto de circunstâncias conduziram a perdas significativas nos principais índices accionistas, anulando, em alguns casos, os ganhos anuais registados até então. Recordemos os motivos que levaram à queda dos mercados em finais de Fevereiro e inícios de Março:

– crise no mercado de crédito americano, visível através do aumento dos créditos mal parados ao nível do sector “subprime”;

– receios de recessão nos EUA, potenciada pelo sector imobiliário;

– aumento da instabilidade política no Médio Oriente, designadamente no Irão;

– instabilidade no mercado chinês com rumores que dão conta de possíveis restrições à entrada de capitais, devido à excessiva especulação.

Se passarmos em revista cada um dos motivos invocados para a queda dos mercados, verificamos que os problemas estão longe de estar resolvidos. Senão vejamos:

– a crise no mercado de crédito é agora confirmada pelas dificuldades de várias empresas de referência nesse sector, assim como pelos dados macroeconómicos agregados que continuam a sinalizar uma tendência negativa no sector;

– os receios de recessão tiveram algum acolhimento na última reunião da FED, que considerou que tinha ocorrido um aumento do risco nesta matéria;-

– no Médio Oriente a situação está cada vez mais tensa, com reflexos económicos imediatos ao nível do aumento do preço do crude

Portanto, não há razões para optimismos exagerados. Conforme referimos no último artigo, os períodos de queda podem representar boas oportunidades de investimento em títulos com os fundamentos adequados à situação macroeconómica previsível. Acertar na situação macroeconómica previsível é obviamente uma tarefa de difícil concretização, especialmente numa altura em que as analistas se encontram divididos sobre inúmeros assuntos, mas principalmente na definição do maior risco económico global.

Qual o maior risco neste momento? Inflação ou Recessão. Aparentemente este é o pomo da discórdia dos analistas e também o grande dilema do FED.

Uns argumentam que o principal risco económico global é a inflação, induzida por uma procura crescente de matérias-primas em particular e por um excesso de liquidez em geral que tende a criar bolhas especulativas de vária ordem (no imobiliário, nas matérias-primas, nas acções, etc).

Outros argumentam que, em grande parte, a remoção de liquidez excedentária já ocorreu com as sucessivas subidas de taxas de juro por parte dos principais bancos centrais e, neste momento, há um risco real de contágio da crise do imobiliário aos consumidores, depois às empresas e finalmente aos trabalhadores/consumidores, gerando-se um ciclo vicioso recessivo.

Esta discussão é importante, porque tem consequências em termos de condução de política monetária. No segundo semestre de 2006 o FED parou o ciclo de subida de taxas de juro nos 5.25%, dando a entender que os riscos continuavam a manter-se no sentido de uma subida adicional. Desde essa altura, com muito poucas alterações pelo meio, o FED manteve sempre a tónica na manutenção de taxas, mas sempre apontando riscos de uma subida adicional. Por sua vez, o mercado de futuros, que antecipa as decisões do FED, desde há alguns meses incorpora, com maior ou menor probabilidade, a expectativa de uma descida de taxas de juro este ano. Este facto foi particularmente significativo após a última reunião do FED em Março, a partir da qual os futuros sobre os fed funds começaram a incorporar quase a 100% um corte de taxas na próxima reunião de 9 de Maio (de 5.25% para 5.00%).

Contudo, o presidente da reserva federal americana mantém a ideia de que o maior risco económico é a inflação, que se mantém a níveis indesejáveis e que a crise no imobiliário está contida, não havendo riscos sérios de contágio ao resto da economia. Será assim?

Aparentemente não é bem assim. O que acontece é que o FED está a fazer uma gestão de expectativas procurando atrasar ao máximo a inversão da política, garantindo que a inflação está mesmo sob controlo antes de atacar os sinais recessivos. Esta obsessão pela inflação pode implicar mais dor para os mercados de activos, sejam eles acções, obrigações ou casas. O efeito destruição de riqueza pode levar a que o ritmo de descida de taxas, quando ocorrer, seja mais rápido e profundo.

Na zona euro as dúvidas são de outra ordem. Apesar das subidas de taxas de juro, não há sinais recessivos à vista, a não ser o potencial contágio de uma crise americana. As taxas de juro devem subir pelo menos até 4.00%, mas o ciclo parece-nos próximo do fim caso a nossa situação macroeconómica previsível se concretize.

Concluindo, em 2007 as taxas de juro devem começar a descer nos EUA e em 2008 na Europa.

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