Distribuição

Venda no Brasil impulsiona lucros

Por a 5 de Abril de 2006 as 10:27

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A venda dos activos no Brasil permitiu à Modelo/Continente catapultar os lucros de 2005 para 215 milhões de euros, num universo de vendas brutas que ascendeu a 4,5 mil milhões de euros no exercício, e reduzir substancialmente a dívida, fixada agora em valores anormalmente baixos. As perspectivas de futuro, capitalizada que está a SGPS, apontam para um reforço dos níveis de investimento, aumentando a área de venda já disponível em cerca de 20%.

A performance financeira da Modelo/Continente foi alavancada pela alienação dos activos no Brasil, o que levou a um crescimento dos lucros consolidados de 78%, passando de 121 milhões de euros em 2004 para 215 milhões em 2005, ou seja, mais 94 milhões de euros. Esta variação considera um montante de 89 milhões de euros resultante da venda das operações no mercado brasileiro, impactando de forma extremamente positiva o resultado final do exercício.

A empresa contabilizou vendas brutas de 4,5 mil milhões de euros, dos quais 3,1 mil milhões são relativos à actividade doméstica (crescimento de 5% face ao ano anterior) e 1,4 mil milhões ao mercado brasileiro. Contudo, salienta a administração, «este valor não é directamente comparável com 2004, na medida em que apenas diz respeito a 11 meses de actividade da empresa naquele mercado, reflectindo ainda a alienação de 10 lojas ocorrida em meados do ano», desta feita tendo como comprador o grupo francês Carrefour, que ocupa a segunda posição no ranking retalhista brasileiro.

Ainda na vertente financeira, é de destacar o facto de o cash flow operacional ter atingido 289 milhões de euros, o que corresponde a 7,5% das vendas líquidas. O contributo de Portugal cifrou-se nos 235 milhões de euros, sobrando 55 milhões para o Brasil. Por outro lado, a Modelo Continente concretizou um investimento global significativo de 360 milhões de euros, esforço quase três vezes maior do que em 2004 e que incluiu 55 aberturas e ainda a preparação do plano de expansão para o crescimento futuro, declarou a empresa em comunicado.

A 31 de Dezembro, a companhia dispunha de um endividamento líquido de 196 milhões de euros, valor especialmente baixo e que resulta do impacto obtido com a venda no Brasil. De facto, a Modelo/Continente aproveitou parte dos 640 milhões de euros encaixados para reduzir a dívida, como aliás foi anunciado desde a primeira hora quando se soube que o negócio com os líderes mundiais da distribuição estava concretizado. Dívida essa que, recorde-se, estava calculada em 512 milhões de euros em 2004.

Expansão acelerada

A actividade em Portugal continuou marcada pelas dificuldades no grande consumo, mas em sentido inverso o ano decorreu já sob o estigma do novo regime de licenciamento, o qual permitiu às empresas de distribuição concretizarem as oportunidades de expansão identificadas. Segundo o comunicado dado a conhecer pela Modelo/Continente, durante o exercício foram inaugurados 90.000 m2 de área de venda, a que corresponde um acréscimo de 6% face à base instalada. Contudo, assinala a administração, «o aumento da oferta superou o ritmo de crescimento nominal da procura».

A Modelo/Continente obteve vendas de 3.115 milhões de euros em solo nacional, um crescimento de 5% face ao registado em 2004 e que foi bastante influenciado pelo comportamento dos formatos de base não alimentar, que contribuíram com 771 milhões de euros para as contas finais, numa evolução de 13% face ao ano anterior. No ramo alimentar, os volumes são bem maiores (2,3 mil milhões de euros) mas a evolução ficou-se pelos três pontos percentuais.

No mercado nacional contabiliza-se 235 milhões de euros em cash flow operacional (8,6% das vendas líquidas). Os formatos de índole alimentar somaram 196 milhões de euros para este indicador, enquanto o retalho especializado ascendia a 38 milhões de euros. Já no Brasil, para uma operação que movimentou 1.391 milhões de euros, o cash flow operacional situou-se nos 55 milhões. A Modelo Continente justifica a saída daquele mercado da seguinte forma: «Foi uma decisão baseada na percepção de que, com elevadíssima probabilidade, a operação não apresentaria níveis de rentabilidade compatíveis com o respectivo custo de oportunidade».

Durante o ano, a empresa inaugurou 55 novas lojas e efectuou mais de 30 intervenções. Assim, o parque de unidades sofreu um acréscimo de 62.000m2, o que reflecte um crescimento de 14% face às lojas já existentes. Abriram três hipermercados (Antas, Loures e Covilhã, desta feita uma reconversão da anterior unidade Modelo), cinco lojas Modelo e ainda uma Bonjour. Contudo, o principal foco de investimento esteve mesmo no retalho especializado, onde abriram mais 47 lojas, incluindo 11 Worten, 6 Modalfa, 11 Sportzone, 4 Maxmat, 8 Vobis e 7 Zoppi Kidstore. A Sonae desenvolveu ainda durante o exercício a insígnia Maxgarden.

As perspectivas de futuro, capitalizada que está a SGPS, apontam para um reforço dos níveis de investimento, tanto na área alimentar como não alimentar. É certo que não existe qualquer pedido para hipermercados – o formato tem vindo a ser substituído por unidades de média dimensão na estratégia dos retalhistas – mas ao todo a Modelo/Continente tem já garantidos mais 100.000 metros quadrados de área de venda para inaugurar nos próximos tempos, o que significa mais 20% da área já disponível, acrescenta a empresa em comunicado.

Segundo a companhia, «a actividade da empresa centrar-se-á ao longo de 2006 em Portugal. Os objectivos passam pela consolidação da sua quota no sector de base alimentar através da cobertura de mercados regionais com potencial por explorar.

Nesse sentido, a empresa prosseguirá uma estratégia de rápida abertura de lojas e requalificação do parque físico actual, devendo manter um elevado ritmo de investimento».

A Modelo/Continente declarou ainda pretender «tirar partido do aumento de escala de operação alcançado com o acelerado processo de expansão em curso» e «potenciar o reconhecimento alcançado ao nível da gama de marcas próprias e primeiros preços». Mais uma vez, como se vê, confirma-se a estratégia dos principais operadores de distribuição em estabelecer diferenciação através da marca própria e entrar nas linhas de produtos com preços mais acessíveis, o que a Sonae fez de forma sustentada e em diversas categorias de produto há alguns meses atrás.

Internacionalização à vista?

Quanto ao ramo não alimentar, será igualmente alvo de forte investimento nas diferentes insígnias. O programa de expansão contempla 40 novas unidades entre as várias marcas, «quer estejam localizadas em galerias comerciais Modelo quer estejam presentes em novos centros comerciais de grandes dimensões», acrescentou a administração.

O objectivo passa por criar uma escala logística mais eficiente e por diluir os custos fixos de operação, aumentando os níveis de rentabilidade, que já se têm revelado bastante positivos. Sem abrir o jogo, a Modelo/Continente declarou também que «paralelamente, serão aprofundados os estudos de suporte à possibilidade de alargamento dos negócios actuais para novas geografias de actuação, bem como o desenvolvimento de novas áreas de negócio».

Ou seja, a companhia está a raciocinar sobre a possibilidade de expansão interna das suas insígnias e igualmente a ponderar a hipótese da sua internacionalização, ao mesmo tempo que estuda negócios como a instalação de postos de combustível e a comercialização de medicamentos não sujeitos a receita médica, área onde já entrou mas ainda sem a força que se esperava devido às sucessivas complicações que têm surgido no mercado.

Finalmente, é ainda de destacar o facto de ir ser proposto em assembleia-geral uma distribuição de dividendos de 0,05 euros por acção, num total de 55 milhões de euros. Boas notícias para os accionistas, que não recebiam mais valias desde o exercício de 2000, ou seja, em 2001.