FMCG Marcas

Inovação agita mercado

Por a 17 de Fevereiro de 2006 as 10:05

Estudo Nutricao

Apesar da reduzida taxa de natalidade em Portugal, o sector da alimentação infantil registou um comportamento de vendas positivo, com destaque para as formulações líquidas, quer em farinhas quer em leites. A Inovação tem sido a fórmula encontrada pelas marcas para amenizar a tendência generalizada para quebra de preços.

O sector da nutrição infantil aumentou as vendas, quer em volume quer em valor, em quase todos os segmentos. A excepção vai para as farinhas, bolachas infantis e leite em pó. De acordo com dados referentes ao ano móvel Outubro/Novembro da AC Nielsen, o segmento que regista maior crescimento são os leites líquidos infantis. Apesar de as vendas em quantidade não superarem os 63 mil quilos, este segmento subiu 46% em volume e 55 pontos em valor, registando 140 mil euros. Quanto aos homogeneizados, (que incluem sopas, boiões de refeição e fruta) estes apresentaram um volume de vendas de 28,4 milhões de unidades, o que representa uma subida de 13%. Em valor atingiu 20 milhões de euros, o que representa um cenário semelhante ao ano anterior, ou seja, o preço por unidade baixou de forma significativa.

No que diz respeito às farinhas infantis, de longe o maior segmento da nutrição infantil, o mercado registou um volume vendas na ordem dos 12,2 milhões de quilos, o que equivale a um variação negativa de 0,9 pontos. O segmento apresenta já níveis de penetração elevados no mercado nacional, razão pela qual se assiste a um comportamento mais modesto deste índice. Em valor, e apesar do esforço de segmentação das empresas, a Nielsen aponta um decréscimo de quase quatro pontos percentuais, num montante global a rondar os 54 milhões de euros.

Líquidas em alta

Dentro a categoria farinhas, as líquidas constituem o único subsegmento onde o comportamento de vendas se revelou positivo, quer em volume (18,5%), quer em valor (9,3%), tendo sido vendidos 2,9 milhões de quilos, o que significa um montante global de 7,8 milhões de euros. Contudo, o diferencial entre volume e valor mostra que, também aqui, houve necessidade de adaptar os preços de venda ao cliente final. No que diz respeito às farinhas não lácteas, a consultora divide o segmento em duas áreas: Populares (que necessitam de ser cozinhadas) e Outras (prontas a servir). Quanto às primeiras, registaram vendas na ordem dos 2,3 milhões de euros, apresentando variação negativa de 4%. Em quantidade, a gama estagnou as vendas, muito próximas dos 600 mil quilos. Por sua vez, o subsegmento Outras quebrou 8% em volume e 6% em valor. O total de 4,2 milhões de quilos vendidos representa um montante de 16 milhões de euros.

Em relação às farinhas lácteas, registaram em quantidade 4,6 milhões de quilos, o que representa uma variação negativa de quase 4%. Em valor, caíram 6%, cifrando as vendas em 28 milhões de euros.

Da análise destes indicadores, fica claro – considerando a estagnação do mercado em termos globais – que as quebras verificadas nas farinhas lácteas e não lácteas representam uma transferência de consumo para o segmento líquidas, atendendo ao comportamento positivo desta linha de produtos.

Tendência positiva

O mercado de nutrição infantil está saudável, não só ao nível da formulação dos produtos como do comportamento dos diferentes segmentos. De facto, os homogeneizados continuam um percurso evolutivo bastante favorável, como foi referido acima, tal como as sobremesas lácteas, as quais evoluíram 10 por cento em volume e 6,2 pontos em valor, comercializando-se no período em análise cerca de 22 milhões de euros. Estes dois segmentos, retirando as farinhas, que significam quase metade deste universo de nutrição infantil, constituem as duas outras grandes áreas de consumo, com a vantagem de estarem em nítido crescimento.

Também com luz verde, encontramos os leites líquidos e os iogurtes sólidos. No primeiro caso, é possível fazer uma analogia com as farinhas, verificando-se uma clara tendência para a procura de alimentos líquidos. No segundo, variações de quase 20% nos dois indicadores mostram alguma dinâmica, mas falamos de um segmento com pouca expressão face ao total de mercado. Por sua vez, os leites crescimento, que já valem 12 milhões de euros por ano, crescem na ordem dos cinco pontos percentuais em quantidade e registam uma evolução de 3,5 por cento em valor.

Em contra-ciclo encontramos as bolachas (quebra de 16% em volume e 10 pontos em valor, sendo um segmento marginal que movimenta somente 500 mil euros por ano) e o leite em pó, que desceu 13,5% em quantidade e 16,4% em valor. O leite em pó para lactentes, todavia, evoluiu 5,8 por cento em valor para uma variação de dois pontos em volume. Significa isto que o segmento, para além de representar montantes anuais na ordem dos 12 milhões de euros, foi o único que conseguiu acompanhar a taxa calculada da inflação, pois apesar do comportamento positivo na grande maioria dos segmentos, regista-se com nitidez uma quebra nos preços dentro deste universo da nutrição infantil.

Evolução do sector

O crescimento do sector da nutrição infantil está dependente do número de nascimentos no País. Como explica Fernando Duarte, da Nestlé, «no caso de Portugal, pelo facto de ser um país muito pequeno, as constantes baixas de natalidade começam a influenciar o mercado, dado que cada vez mais produtos e marcas disputam entre si a “quota de estômago” dos bebés e das crianças». Além deste factor, também a «importância que a categoria tem na Distribuição e o peso que alguns segmentos têm na relação distribuidor/consumidor, levam à execução de estratégias que influenciam a evolução do mercado em valor, que em 2005 registou ligeiros decréscimos», acrescenta.

Por sua vez, Raul Simão, director de marketing da Danone Internacional Brands Portugal, conta a evolução das categorias nos últimos anos: «O segmento das farinhas já atingiu a maturidade, tem uma taxa de penetração superior a 90% nos lares portugueses. Além de ser um produto consumido diariamente». Com efeito, o elevado grau de penetração acaba por condicionar o crescimento em volume. Trata-se de «um segmento pouco dinâmico, no sentido em que não há novidades no ponto de venda e onde a inovação é reduzida», acrescenta.

Com o objectivo de “agitar” a área das farinhas infantis e de conseguir uma presença mais forte neste segmento, a Danone lançou recentemente, através da marca Blédina, a gama Blédipapa. Concebida ao gosto dos bebés portugueses, a gama permitiu criar um novo segmento de mercado com o lançamento das farinhas crescimento.

Por outro lado, o segmento dos leites crescimento, onde a Danone não está presente no mercado português, «tem apresentado evoluções de duplo dígito. A introdução deste segmento, sobretudo na referência a partir dos doze meses, agitou o mercado», esclarece Raul Simão. Quanto aos outros segmentos, sobretudo aqueles onde têm presenças fortes, «ainda há muito a fazer, para que o consumidor dê mais importância a estes produtos», sublinha.

Os hábitos de consumo deste tipo de produtos diferem consoante o mercado. Como explica o responsável da Nestlé, «por exemplo, no Norte da Europa, os Baby-Foods BIO são praticamente o tecto do mercado. Por sua vez, na maioria dos países europeus as refeições são a maior fatia. Em Portugal, aproximadamente 80% do mercado é fruta. Também nos mercados europeus as farinhas infantis têm um período de vida limitado aos três anos de idade. Em Portugal, o consumo estende-se por vários anos».

Marca centenária

«A Blédina está com presença muito forte nos segmentos dos boiões de fruta, das sobremesas e das refeições pré-preparadas. Nas sobremesas trabalhamos com a marca Sabores do Pomar e temos posições de liderança», esclarece o director de marketing da Danone. Em Portugal, a quota de mercado da Blédina nos homogeneizados era de 37% em 2005, indica o responsável.

Em 2003, a Danone estreou o mercado das sopas, com referências a partir dos quatro, seis, oito e doze meses. Apesar de «até há bem pouco tempo não ter concorrência», é um «segmento que se está a desenvolver exponencialmente». E é nesta área que Raul Simão acredita existir maior potencial de crescimento. «No entanto, ainda há muito para mudar, porque há o “fantasma” de que os produtos feitos na hora oferecem mais qualidade. Embora, cada vez mais, as mães comecem a perceber que podem aproveitar o tempo dispendido na cozinha para brincar com o bebé», o que abre espaço para os produtos que apostem na conveniência. Assim como, começam a «depositar mais confiança nos especialistas de nutrição infantil», e nomeadamente nas marcas. Mas as potencialidades de crescimento são enormes, não só porque a «sopa é um produto muito recomendado para as crianças», como porque «desde de que entraram no mercado, estão a crescer a triplo digito», acrescenta.

Desempenho Nestlé

A Nestlé está presente em todos os segmentos da nutrição infantil. Os produtos comercializados incluem as áreas das farinhas infantis (lácteas e não lácteas), dos cereais infantis lácteos (prontos a tomar), dos leites de crescimento, dos boiões (homogeneizados), dos sumos e das bolachas infantis. De acordo com Fernando Duarte, «a marca está presente desde o nascimento na maioria dos lares portugueses com crianças, com produtos de todos os segmentos». Desta forma, avança o responsável, «a taxa de penetração dos vários produtos é muito elevada». A marca tem revelado bons resultados ao longo dos anos. «Crescemos em todos os segmentos, quer em valor quer em volume. No entanto salientamos o comportamento positivo da gama cereais lácteos prontos a tomar, das sobremesas, dos sumos e leites de crescimento».

De acordo com a Fernado Duarte, «quer por segmento, através das várias marcas, quer no global, a Nestlé é a principal marca neste mercado. Se isolarmos a produção, a Nestlé continua a ser o principal fabricante, quer no global, quer por segmento, com excepção de fórmulas infantis, mercado liderado por outra companhia de alimentação infantil»

Posicionamento

Desta forma a Nestlé lançou recentemente as fórmulas infantis para a gama NAN. Actualmente, as fórmulas «cientificamente mais avançadas do mercado», garante Fernando Duarte. Assim como, «a introdução de um novo conceito, muito prático e inovador, o BEBÉ GO, 100% fruta, comercializado em bolsas, que permite às crianças comerem sozinhas, sem necessitarem de colher».

O responsável revela ainda que «a categoria da nutrição infantil representa cerca de 14% das vendas totais da Nestlé Portugal». Questionado sobre o segmento com maior potencial de crescimento, aponta «a categoria Baby Foods, refeições e bebidas, pela constante inovação e adaptação à nossa evolução social».

No que diz respeito ao posicionamento, a Danone esclarece que este passa por «estar ao lado das mães. Ajudá-las a ultrapassar as exigências deste difícil papel e ajudar o bebé a crescer de forma saudável. O que nos distingue das restantes marcas é que apenas desenvolvemos produtos de nutrição infantil e somos especialistas nesta área». Por sua vez, o posicionamento da Nestlé é «proporcionar aos bebés e às crianças a nutrição mais adequada para cada etapa do seu desenvolvimento e ajudar a fornecer as bases para um crescimento saudável, aliado ao bem-estar».