Distribuição

O poder do discount

Por a 10 de Janeiro de 2006 as 18:00

APED

Se dúvidas houvesse, o balanço da APED relativo ao ano de 2005 confirma em pleno o crescimento exponencial dos conceitos de desconto alimentar, que praticamente monopolizaram as inaugurações de lojas alimentares ocorridas durante o exercício. Já na vertente não-alimentar, é a Sonae quem dá as cartas, através do desenvolvimento das suas insígnias de retalho especializado.

Segundo a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), registaram-se 104 aberturas durante o exercício de 2005, curiosamente igualmente divididas a rigor em lojas alimentares e não-alimentares. A associação estima que o investimento total tenha ascendido aos 300 milhões de euros, através de um aumento de 125.000 metros quadrados de área de venda. Na análise destes números, fica claro o potencial dos conceitos de discount, pois a Plus abriu 20 lojas enquanto a Lidl inaugurou mais 14 pontos de venda. Ao mesmo tempo, a Modelo abria apenas cinco e a Pingo Doce quatro. A tendência é, portanto, perfeitamente clara e visível, com excepção da cadeia Minipreço, outro conceito de desconto que, porém, apenas viu nascer mais quatro unidades durante o ano.

Por outro lado, confirma-se igualmente o menor fulgor dos grandes formatos: inauguraram dois Continente e um hipermercado Auchan, bem como uma loja Feira Nova, mas mesmo assim com uma dimensão mais reduzida do que os habituais hipers, naquilo que constitui uma estratégia assumida por parte do grupo Jerónimo Martins. Ao leque de aberturas, resta juntar uma unidade Modelo Bonjour, também na esfera da Modelo/Continente.

O grupo liderado por Belmiro de Azevedo regista um comportamento relativamente modesto na área alimentar, mas domina por completo na não-alimentar, pois de um total de 52 novos espaços que entraram em funcionamento, 38 pertencem-lhe. O maior destaque vai para a Sportzone (11 novas unidades), logo seguida da Worten (10), Vóbis (7), Modalfa (6) e Max Mat (4). Pelo meio, a empresa apresentou ainda a insígnia Max Garden, que verá a luz do dia durante o primeiro semestre de 2006.

O universo APED, referiu a Associação, ascende já aos 1.575.000 metros quadrados de área de venda, índice que durante 2005 cresceu oito pontos percentuais. No mesmo registo, ou seja, com evolução de 8%, situa-se o número de lojas, que chegam agora às 1.330. Quanto aos efeitos no emprego, o sector viu a sua massa laboral crescer 7%, empregando já cerca de 53.000 pessoas. No âmbito do novo regime de licenciamento, a APED divulgou que os seus associados detêm qualquer coisa como 250.000 metros quadrados de área de venda licenciada, 180 mil dos quais em formatos alimentares. Falamos de mais 210 lojas e 14 expansões, sendo que 129 serão alimentares e 81 não alimentares.

A Associação referiu ainda os licenciamentos fora do âmbito dos seus associados, que rondam os 75.000 metros quadrados de área de venda. Contudo, neste caso apenas 1/3 são unidades de índole alimentar. Esperam-se, fora da APED, mais 98 pontos de venda, dos quais apenas serão 17 alimentares.

Pouca concentração

Outro ponto de interesse analisado por Luís Vieira e Silva foi o rácio de habitantes por grande formato, calculado em Portugal em 150.000 pessoas por hipermercado. De acordo com o presidente da APED, estes valores estão ainda abaixo de Espanha (110.000) e especialmente de França, onde existe uma loja de grande dimensão por cada 50.000 cidadãos. Neste último caso, e dado ter sido em França que nasceu o conceito de hipermercado, é natural o maior desenvolvimento do formato. Curiosamente, poder-se-ia pensar que Portugal teria aqui bastante espaço de crescimento, mas a própria estratégia dos operadores está hoje em dia mais centrada no desenvolvimento dos médios formatos, existindo poucos pedidos para as lojas de maior dimensão no âmbito do actual regime de licenciamento em vigor.

Ainda na mesma linha de raciocínio, é de salientar o facto de Portugal ter seis lojas de grande dimensão por milhão de habitantes, 27 médias superfícies (considerando aqui áreas de venda entre os 1.000 e os 2.500 metros quadrados) e 63 pequenas unidades (entre 400 e 1.000m2). O número de hipermercados por milhão de habitantes em Portugal é bastante baixo face ao contexto europeu, pois apenas a Holanda (3) e a Grécia (4) têm índices menores. No topo da lista, encontramos a Finlândia (26 hipers por milhão de habitantes), França (20), Alemanha (20) e Reino Unido (18). Os países do Sul, culturalmente mais próximos de Portugal, apresentam taxas relativamente idênticas: Grécia (4) e Portugal (6), como se disse, Itália (8) e Espanha (9).

Hipers duplicam

Será curioso igualmente analisar a quota em valor dos diferentes tipos de comércio a nível europeu, num estudo elaborado pela AC Nielsen que a APED divulgou. Em 1985, altura em que nasce o primeiro hipermercado em Portugal, o comércio tradicional europeu dispunha de uma quota de 41,1%, que desceu para 22 pontos dez anos mais tarde e para 14,2% em 2004. Inversamente, as lojas de grande dimensão (que a Nielsen considera acima dos 2.500 metros quadrados neste estudo), detinham há 20 anos uma participação de 18,2 pontos, a qual evoluiu para 31,2% em 1995 e para 36,1% em 2004, ou seja, duplicando durante o período.

As lojas entre 400 e 1.000 metros quadrados (pequenos supermercados) mantiveram sensivelmente a mesma quota de mercado ao longo destes últimos 20 anos, sempre na ordem dos 25%, enquanto os espaços comerciais com dimensão entre os 1.000 e os 2.500 metros quadrados evoluíram de forma positiva, passando de 17 pontos para 24, ao longo das duas décadas, ou seja, variações positivas, mas menos pronunciadas do que as unidades com mais de 2.500 metros quadrados.

Por países, é de destacar que a participação dos hipermercados em Portugal é a terceira maior da Europa (33%), apenas ultrapassada por França (53%) e Reino Unido (56%) e lado a lado com os hipermercados espanhóis, que têm a mesma quota em valor do que a registada em Portugal, revela o estudo da AC Nielsen. Curiosamente, a quota do comércio tradicional é também semelhantes nos dois países ibéricos, calculada em 22% para Portugal e 23 pontos para Espanha.

Em França, o pequeno retalho perdeu praticamente toda a sua importância, pois a Nielsen calcula uma participação de apenas quatro pontos percentuais, a mais baixa a nível europeu e tendo apenas paralelo com a Holanda (8%) e com a Bélgica (7%). Outra curiosidade europeia é o mercado holandês, onde as superfícies de média dimensão, juntando aqui os dois segmentos entre 400 e 2.500 metros quadrados, conseguem simplesmente uma participação de mercado em valor de 88%, sobrando muito pouco espaço quer para o comércio tradicional, como foi referido, quer para os hipermercados, que significam apenas 4% das vendas a retalho.

No nosso país, os formatos de distribuição apresentam uma quota bastante equilibrada, de acordo com a classificação definida pela Nielsen. Na liderança temos as lojas acima dos 2.500 m2, com 33%, mas seguidas de perto pelo segmento entre 1.000 e 2.500 (24%), pelos espaços entre 400 e 1.000m2 (21%) ou pelo denominado comércio tradicional, que como já foi referido, obtém uma quota de valor de 22%. Tendo em atenção que o conceito de desconto alimentar está situado entre os 400 e os 2.500 m2, que em conjunto representam 45% das vendas e que também poderiam ser considerados os supermercados, verificamos que os médios formatos, quando unidos os dois subsegmentos, significam quase metade do universo de retalho, o que vem comprovar ainda mais a força desta tipologia de loja e confirmar o advento das lojas de discount, as quais, como referido no início, têm sido alvo de planos de expansão mais acelerados ao nível das aberturas.