Distribuição

Distribuição concentra forças a Leste

Por a 10 de Janeiro de 2006 as 18:00

Discount

A Europa Central e de Leste é hoje palco para a movimentação dos principais retalhistas europeus, que olham para estes mercados como a grande hipótese de reforço das operações a nível internacional, face a mercados domésticos demasiado saturados. O desconto lidera esta campanha expansionista, mas hipermercados e supermercados vão manter-se na liderança, uma vez que os planos de inauguração a cinco anos são igualmente ambiciosos.

O grupo Carrefour deverá manter a liderança nos mercados do Leste e Ocidente europeus. De facto, de acordo com as estimativas Planet Retail, os franceses deverão aumentar a sua quota de mercado de 6,8 para 7,2 por cento em 2009, após um crescimento do número de lojas até às 12.000 unidades, contra as actuais 9.500. O desenvolvimento, segundo os especialistas, será conseguido tanto através do formato hipermercado como no desconto, uma vez que este último conceito tem vindo a florescer um pouco por todo o continente.

A mesma previsão aponta para que os alemães da Metro mantenham a segunda posição no ranking europeu em 2009, tendo por base a sua divisão de cash & carry, onde pontifica a insígnia Makro, também presente em Portugal. Segundo se sabe, a estratégia passa igualmente pelo reforço da operação não-alimentar no país de origem, paralelamente ao desenvolvimento internacional, concentrado na Europa Central.

O terceiro posto pertence à Tesco, que continua a diversificar formatos no Reino Unido e nas presenças externas, ao mesmo tempo que os hipermercados continuam a desempenhar um papel central no desenvolvimento do grupo. Prevê-se que em cinco anos a Tesco, de acordo com os planos de expansão, possa vir a aumentar as suas vendas em cerca de 25 por cento, aproximadamente.

Por seu turno, os “grandes senhores” do desconto europeu irão prosseguir níveis de crescimento acelerados. O grupo Schwarz, por exemplo, deverá ver as suas duas insígnias, Lidl e Kaufland, aumentarem a sua participação de mercado, enquanto a Aldi, pioneira no desenvolvimento do conceito de hard discount, consolidou uma posição de elevado prestígio no mercado doméstico e prepara agora uma nova vaga expansionista, com a entrada em dez mercados, entre os quais o português. Esta maior agressividade vem contrastar com três anos em que a companhia esteve parada na internacionalização.

Desconto em grande

Não existem grandes dúvidas sobre a evolução futura do sector europeu da Distribuição, reconhecendo-se que os conceitos de desconto alimentar continuarão a espalhar os seus “tentáculos” por todo o território, incluindo as novas economias emergentes do Leste. As previsões apontam para um crescimento de 35 por cento da actividade até 2009, calculando-se que nesse período possam surgir mais 10.000 pontos de venda neste formato. Recorde-se que estes níveis têm vindo a ser impulsionados quer pelos dois grupos citados (Lidl e Aldi) quer pelo Carrefour e pela Tengelmann, também já presente em Portugal.

O Carrefour, assinale-se, detém neste momento a rede Minipreço ao nível nacional (por via da aquisição da espanhola Dia), estando igualmente presente com conceitos de desconto no país de origem, na Grécia e em Espanha. Da mesma forma, a Rewe e o grupo Os Mosqueteiros, através da cadeia Netto, que já detém uma licença em solo lusitano, também deverão continuar os seus processos de expansão. Nesta análise, deve-se igualmente considerar o grupo Jerónimo Martins, não só pelos planos de expansão da rede Biedronka, para a qual as perspectivas apontam para chegar ao milhar de lojas – já ultrapassaram as 700 – mas também pela possível entrada em novos mercados, como o ucraniano.

Contudo, o domínio continuará a pertencer aos hiper e supermercados, apontam as previsões. Até 2009, estes formatos deverão também aumentar qualquer coisa como 8.500 unidades de venda, com particular dinâmica por parte do Carrefour, Tesco e Auchan, para além do gigante Wal-Mart, que tem planos cada vez mais sérios para o “Velho Continente”. Líderes mundiais, os norte-americanos têm a operação muito baseada no país de origem, mas pouco a pouco vão alargando horizontes um pouco por todo o globo. A expansão internacional do grupo, aliás, deverá acelerar nos próximos tempos, falando-se, entre outras hipóteses, da possível aquisição dos activos da Sonae Distribuição no Brasil.

Paraíso a Leste

As novas economias emergentes do Leste são os principais alvos de desenvolvimento para os grandes grupos de Distribuição, face a contextos já bastante saturados nos mercados do Ocidente. Adicionalmente, o fraco desenvolvimento dos modernos conceitos de distribuição deixa supor que estratégias bem definidas e a criação de massa crítica suficiente poderão dar vantagem a quem se aventurar rapidamente.

Os níveis de concentração estão já a crescer nesses países, e a entrada dos maiores operadores internacionais só deverá acentuar a tendência. Prevê-se, portanto, que o domínio dos retalhistas ocidentais na Europa Central venha a ser ainda mais forte num futuro bem próximo, sem que os operadores locais possam contrariar esta avalanche competitiva, baseada em negócios de dimensão muito mais ampla e em estruturas profissionais que não encontramos nas cadeias desses países.

O ambiente favorece claramente os grandes operadores, noção que marca de forma decisiva o futuro da Distribuição na Europa. Por outro lado, a integração dos países da Europa Central e de Leste no espaço europeu irá facilitar sobremaneira a localização das estruturas dos retalhistas ocidentais, desbloqueando dificuldades que existiam até há bem pouco tempo a vários níveis, incluindo burocracia excessiva, leis proteccionistas, acentuadas diferenças fiscais e complicações ao nível cambial.

Nesta fase, existe espaço para o desenvolvimento dos vários formatos de loja, desde que o preço seja uma variável central, na medida em que falamos de populações com baixo poder de compra. Com o crescimento condicionado nos mercados mais desenvolvidos, devido à elevada carga competitiva que já existe, o Leste afigura-se precisamente como a grande alternativa de crescimento dentro do espaço europeu. Paralelamente, o Oriente é também encarado de forma particularmente atenta, mas neste caso os retalhistas deparam-se com hábitos de vida e de consumo muito diferentes, o que reduz o know how aplicável, e com operações logísticas mais complexas.

Nesse sentido, o esforço de investimento dos grandes retalhistas europeus deverá ser canalizado para os novos estados membros, onde o potencial é reconhecido por todos, não obstante o fraco poder de compra das famílias. Este aspecto, aliás, constitui até um terreno fértil para os conceitos que apostam mais em preço, como é o caso do discount. Estas lojas, tendo em atenção o cenário de expansão já referido acima, são talvez a fórmula que mais hipóteses tem de vencer em tais países, como aliás fica comprovado pelo sucesso da Jerónimo Martins na Polónia, onde o grupo português decidiu alienar os seus hipermercados e os cash & carry para se concentrar exclusivamente na Biedronka, insígnia que lidera claramente aquele mercado e vai já a caminho do milhar de pontos de venda.