Distribuição

Nove mil milhões em expansão

Por a 10 de Novembro de 2005 as 18:37

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Deixados para trás os condicionalismos legais ao crescimento dos operadores, o sector da Distribuição prepara a recuperação da dinâmica de evolução que sempre o caracterizou. Em extensa entrevista, Luís Vieira e Silva, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), faz um balanço objectivo deste universo, congratulando-se com a oportunidade de desenvolvimento de novos negócios, mas criticando duramente outras matérias, com o aumento do IVA, a taxa de modernização do comércio e as limitações horárias em primeiro plano.

Hipersuper – Num cenário de retracção de consumo, a Distribuição cresceu 7,3% em 2004, de acordo com o Ranking apresentado pela APED. Como é que analisa estes resultados?

Luís Vieira e Silva – Os resultados anunciados no Ranking são um espelho da tendência que já vinha do ano anterior. É importante assinalar que são números com alguma solidez, precisamente tendo em atenção um mercado que dá sinais de alguma recessão, quando a confiança dos consumidores está em baixo e onde as expectativas são bastante sombrias. Não há dúvida que haver um sector que vale nove mil milhões de euros e que consegue crescer a quatro por cento na área alimentar e a 7,3% no total deixa claro o dinamismo que existe na área da Distribuição.

H – E tendo também em atenção que o crescimento das cadeias ainda esteve condicionado durante o exercício…

L.V.S – Particularmente por isso, porque de facto estávamos balizados por duas questões centrais: a macroenvolvência e as restrições administrativas ao crescimento da Distribuição nos últimos anos, as quais impediram, de facto, as empresas de distribuição de crescer em Portugal.

H – As novas licenças confirmam a predominância do retalho especializado e dos médios formatos. Há muito poucos grandes formatos autorizados. Como vê a situação?

L.V.S – É uma tendência histórica. Mas em primeiro lugar gostaria de realçar o dinamismo e a reacção que se verifica, uma vez liberalizada a questão das aberturas do ponto de vista legal. Os últimos indicadores de que dispomos apontam para cerca de 180 lojas autorizadas, com uma área de venda na casa dos 250 mil metros quadrados. O que mostra precisamente uma reacção muito positiva por parte do sector. Por outro lado, também não há dúvida que os formatos de médias superfícies têm tido maior procura, facto a que não será estranha alguma maturidade em relação aos hipermercados, que no entanto continuam a ter índices de rentabilidade que comparam muito bem em termos europeus. As médias superfícies permitem neste momento uma optimização do capital investido na medida em que não há limitações administrativas sobre o horário de funcionamento e, em segundo lugar, a expansão está actualmente canalizada para zonas onde a concorrência era menor e onde há mais oportunidades de obtenção de quota de mercado.

H – Os grupos especializados nos grandes formatos já anunciaram publicamente terem muito dinheiro para investir. Tendo em atenção o cenário que colocou, considera que terão necessidade de readaptar a própria estratégia?

L.V.S – Cada grupo tem a sua estratégia e, sem dúvida, continua a haver espaço para licenciamento de formatos de grande dimensão. Mas o número de pedidos está de facto centralizado na média dimensão. Há espaço para hipermercados e conjuntos comerciais, particularmente nas cidades de província, que ainda estão muito deficitárias nessa matéria. Por outro lado os formatos não alimentares têm igualmente demonstrado grande ambição e dinamismo na procura de expansão.

Cadernos reivindicativos

H – A propósito do IVA, ironizou que o Estado era a única entidade que conseguia resolver os seus problemas à custa do aumento de preços. Passados alguns meses, o que tem a Distribuição a dizer sobre esta questão?

L.V.S – Ainda é prematuro fazer grandes balanços. A nossa posição de fundo mantém-se inalterada. Somos frontalmente contra o aumento do IVA, com base na mesma argumentação que apresentámos desde o início. Há uma preocupação do lado das receitas em vez de um esforço de contenção na despesa por parte do Estado, o que dá sinais errados ao mercado. Por outro lado, há igualmente outros aspectos muito importantes, como o aumento da nossa descompetitividade fiscal face a Espanha. Quanto ao impacto directo que a medida teve na nossa actividade, como disse, ainda é cedo para fazer um balanço, mas isto sem prejuízo de estarmos a conduzir um estudo que permita tirar conclusões objectivas sobre esta questão, e que a seu tempo será divulgado.

H – A Distribuição, quase em uníssono, assumiu este diferencial…

L.V.S – Esse foi mais um esforço num mercado que não cresce, cada vez mais concorrencial. Foi um sinal de contenção do lado das margens da Distribuição, na perspectiva de manutenção das quotas de mercado. Mas naturalmente isso tem a ver com a definição das políticas comerciais de cada um dos operadores.

H – Outra questão polémica é a taxa de modernização do comércio, que apelida de subsídios cruzados. Antes de mais, porquê esta terminologia?

L.V.S – Há um sector eficiente que quer investir, progredir, criar empregos e que acaba por pagar uma taxa que é verdadeiramente um subsídio a um outro sector que normalmente não se moderniza, que tem poucas perspectivas de investimento e de criação de emprego e que sofre até problemas de conflitos geracionais. É um pouco como se quisermos construir um hotel termos que estar a financiar as pensões, por exemplo. Não faz qualquer sentido que um sector que tem altos índices de produtividade, de investimento e de criação de emprego tenha que subsidiar outro com quem concorre.

H – A APED afirmou que vai estar particularmente atenta à utilização da taxa, pois ainda não se sabe muito bem onde vai ser aplicada…

L.V.S – A Lei do licenciamento comercial foi publicada no Verão de 2004 e só muito recentemente é que começa a haver algumas movimentações no sentido de se perceber realmente qual é o impacto e o sistema deste processo de modernização do comércio. Agora, sendo a Distribuição o principal pagador dessas taxas, e falamos de verbas que já ultrapassaram os 15 milhões de euros, um valor que no fundo acaba por ser o consumidor a pagar, consideramos que devemos ter uma palavra a dizer e uma avaliação crítica do que está a ser feito com estas verbas.

H – Ainda no âmbito no regime de licenciamento, referiu também recentemente que já se justificaria acabar com o sistema faseado. Pode concretizar a ideia?

L.V.S – Por uma questão muito simples e operacional. Trabalharmos num processo contínuo ao longo do ano acaba por gerar eficiências em todo o circuito, ao invés de ciclos de actividade curtos e intensos seguidos de outros de relativa acalmia. Quer para o sector público, que tem que fazer a avaliação dos projectos, quer para o sector privado, que tem que os preparar e apresentar atempadamente, seria um processo muito mais eficiente para todas as partes. É uma questão puramente técnica. Neste momento, creio que já não faz sentido existirem as fases, embora as tenhamos compreendido durante o primeiro ano do novo regime.

H – Mas tem algum sinal de que a situação possa vir a ser alterada?

L.V.S – Não, o único sinal que temos são as reivindicações que oportunamente temos apresentado junto das entidades competentes.

Novos negócios

H – Colocado preto no branco, e com os operadores já a trabalharem esta área de negócio, como analisa a possibilidade de comercialização de medicamentos não sujeitos a receita médica?

L.V.S – Do ponto de vista do princípio, esta é uma medida que aplaudimos pelo seu significado político de descartelização, num sinal que é dado à própria sociedade. Entendemos esta medida como sendo um primeiro passo dentro de uma almejada liberalização do sector da saúde, mas também não é uma actividade que vem resolver os problemas de rentabilidade ou até criar um impacto significativo para a Distribuição. Estamos a falar de cerca de sete por cento do mercado global de medicamentos, de uma verba estimada à volta dos 250 milhões de euros e de uma quota de mercado que acreditamos poder chegar a 15 ou 20 por cento. Ou seja, estamos a falar de verbas relativamente pequenas para o número de operadores que já manifestaram interesse em entrar neste negócio. Mas também considero que é um mercado com algum potencial a prazo, à medida que a liberalização se vá concretizando. Acreditamos que é do interesse do consumidor ter alternativas fora do canal tradicional de venda destes produtos e que haverá vantagens ao nível do preço e da competitividade, mas também sabemos que o negócio terá um impacto marginal no curto prazo, até porque a portaria que regulamenta a actividade tem alguns aspectos de cautela ao nível da supervisão, do armazenamento, de dedicação exclusiva do pessoal, venda assistida, etc, que são restritivas do próprio interesse económico do negócio.

H – Mas a Distribuição está de acordo com esses condicionalismos ou, pelo contrário, acha que a liberalização deveria ser mais acentuada?

L.V.S – Temos a nossa opinião, mas entendemos que devem ser os próprios técnicos a opinar sobre a questão. O Infarmed teve um papel determinante na elaboração destes condicionalismos. Bem ou mal, é o Instituto que regula a actividade e, portanto, pensamos que é a opinião das entidades reguladoras que, neste momento, interessa prevalecer.

H – O facto de a ANF (Associação Nacional de Farmácias), por via de aquisição, dominar agora 65% da distribuição grossista dos medicamentos poderá colocar entraves à actividade?

L.V.S – Pode! Nós sabemos que há grupos de distribuição que estão em negociações com os laboratórios e com os grossistas e temos a consciência clara de que não estamos numa situação de concorrência perfeita. Existem, de facto, várias imperfeições do ponto de vista económico. Basta citar o caso de um dos principais grossistas, que afirmou não pretender ver a sua actividade diversificada por outro canal que não o tradicional. Portanto, o que posso dizer é que estamos à espera que as negociações fiquem concluídas, para depois tirarmos a nossas conclusões e actuarmos em conformidade.

H – Mudando de negócio, que balanço faz da possibilidade de implementação de postos de combustível junto das superfícies comerciais?

L.V.S – Faço um balanço muito positivo. É um crédito que deve ser atribuído ao anterior Governo, mas que o actual reiterou, que alterou uma legislação que era a todos os títulos completamente retrógrada e que mais não fazia do que a manutenção dos interesses instalados. É uma actividade que todos os grupos de distribuição estão a encarar com muito interesse e a prática diz-nos que isso acaba por se concretizar numa efectiva vantagem para o consumidor, através de uma baixa de preços e da maior disponibilidade dos locais de abastecimento. E, contrariamente aos medicamentos, diria que este é um negócio que tem um impacto significativo a nível operacional. Não ao nível dos resultados, porque a Distribuição trabalha esta área com margens mínimas, mas para o volume de negócios.

H – Mas em termos concretos o processo ainda não avançou…

L.V.S – Sabemos que os licenciamentos estão em curso, são processos pesados e complexos. Um posto já abriu e outros se seguirão. Esperamos que até final do primeiro trimestre de 2006 já haja algo mais significativo. O feed back que temos dos nossos associados é que há muitos processos de licenciamento a decorrerem.

Sector em mudança

H – Do ponto de vista da internacionalização, e tendo em atenção que o sector trabalha com metodologias das mais avançadas a nível europeu, acha que existem, de facto, condições para os grupos portugueses reforçarem posições fora de portas?

L.V.S – A história recente diz-nos que os grupos maioritariamente detidos por capital português têm tido experiências de internacionalização de uma forma geral bem conseguidas. Concordo quando diz que a Distribuição em Portugal se posiciona com as melhores práticas a nível europeu, apesar do nosso deficit de escala. E em cima disto, temos um mercado particularmente competitivo e dinâmico, onde estão praticamente todos os grandes operadores internacionais.

H – Mas considera que a internacionalização é uma hipótese viável?

L.V.S – Bom, ao falarmos de grandes grupos de origem portuguesa, estamos a considerar dois. Qualquer um deles já deu provas de que a internacionalização pode ser um caminho de crescimento e uma forma de gerar dimensão e valor.

H – Ainda na lógica de este ser um sector particularmente moderno, a APED teve um iniciativa de enorme sucesso na Alimentaria, a Loja Inteligente. Em relação ao desenvolvimento tecnológico do ponto de venda, o cenário da Distribuição portuguesa está de facto a mudar?

L.V.S – Há uma tendência para mudar, sem prejuízo de estarmos num mercado extremamente competitivo e que obriga todos os operadores a posicionarem-se para trabalharem num cenário de margens cada vez mais reduzidas. Portanto, com as devidas ilações a nível de contenção de custos, há uma grande dinâmica de diferenciação, de criação de soluções eficientes, que é notória nas lojas que têm aberto mais recentemente.

H – Obviamente, não se vai acabar com as tradicionais caixas de saída…

L.V.S – Claro que não, mas temos algumas indicações a nível europeu de que, por exemplo o self checkout, poderá representar nalguns casos 20% do movimento de uma loja. Estamos numa fase de experimentação e inovação que mais uma vez mostra o dinamismo dos operadores da Distribuição em Portugal.

H – No caso da tecnologia RFID, as etiquetas ainda estão demasiado caras. Mas é este o futuro?

L.V.S – Poderá ser, mas vai depender muito da resposta que vai ser dada quer do lado da Produção quer do lado da Distribuição. Mas não tenho dúvidas de que se houver um movimento agregado na pesquisa destas tecnologias e que isso leve a uma redução dos custos associados, esta possa ser uma nova revolução de processos.

H – Falámos, por exemplo, dos self checkouts, que são matérias que se relacionam com o Serviço. Isso leva-nos a uma outra questão, que é a limitação horária. Ou seja, a Distribuição está a fazer um esforço no sentido de facilitar a vida ao cliente e, por outro lado, continua condicionada a nível horário, gerando grandes fluxos em determinados dias quando poderiam ser mais distribuídos. A posição da APED é conhecida, mas como é que analisa, neste momento, a situação?

L.V.S – Há pouco falámos do sistema de fases nos licenciamentos e podemos extrapolar o raciocínio para esta questão. No fundo, estamos a obrigar as pessoas a trabalharem em sistemas de fases, obrigando o consumidor a concentrar as suas compras. É, no nosso entender, mais uma infeliz intromissão da área legislativa em aspectos que não devia regular e que devia deixar à liberdade de cada um dos operadores. Porque os grandes penalizados são de facto os consumidores, os quais, por outro lado, também não têm alternativas porque o comércio tradicional continua maioritariamente fechado ao Domingo. E veja o ridículo de entrarmos em grandes centros comerciais e estarem as lojas todas abertas menos o hipermercado. Tudo isto cria distorções no mercado e não nos conformamos com este tipo de limitação administrativa.

H – Tem algum sinal de que o cenário possa vir a mudar?

L.V.S – Não. Temos vindo consistentemente a apresentar as nossas argumentações junto das entidades públicas competentes e esperamos que neste dossier, como em outros, nos seja dada razão. Mas não sabemos é quando.

H – E depois há dois meses em que essa limitação deixa de existir…

L.V.S – Esta é uma questão eminentemente política. Bastará recordar que já fez cair um ministro. Sendo questões com esta envolvência, tenta-se dar algumas justificações do ponto de vista religioso. Ora bem, então qual é a lógica de estarem abertas em Novembro e Dezembro, os meses de maior significado religioso? São argumentos que não colhem.

H – Outra das questões polémicas é a Unicre. Por ano, o universo APED paga cerca de 50 milhões de euros. Fizeram queixa junto da Autoridade da Concorrência. Como está o processo?

L.V.S – Sim, a queixa já tem mais de dois anos, mas acreditamos que o processo está a seguir os trâmites normais, mas como está em segredo de justiça, não temos muito mais informações. Aguardamos ansiosamente a decisão.

H – De qualquer forma, já há jurisprudência na Europa…

L.V.S – Sim, e esse é mais um factor que alicerça a nossa confiança numa solução que venha a contemplar a posição que defendemos. Também é verdade que, muito recentemente, apareceu um novo operador, situação que, de forma puramente teórica, nós saudamos. E aguardamos também para ver até que ponto o grau de ambição deste operador e a sua luta por quota de mercado possa vir efectivamente a ter repercussões na redução das taxas que pagamos, e a que a nosso ver são de todo insustentáveis.

H – Tendo em atenção o cenário de contracção no consumo, colocando pressão sobre margens, e também sabendo que os grupos estão precisamente a centrar comunicação na vertente preço, alguns até a gerar deflação e analisando o sucesso dos conceitos de desconto, para além de estarmos perante um consumidor particularmente táctico e inteligente na compra, de um ponto de vista mais técnico, quais considera serem actualmente as variantes de gestão de negócio mais importantes?

L.V.S – O mercado está, de facto, a dar sinais de estagnação macroeconómica. O cenário no sector da Distribuição antevê um aumento de competitividade em virtude das licenças e da emergência do formato discount, em Portugal como em muitos países da Europa, na Distribuição e em muitos outros sectores, como hotéis, viagens, etc,. O discount veio para ficar e em Portugal até tem uma quota inferior aos seus benchmarks em termos internacionais. Portanto, isto provocou uma reacção dos outros operadores que tem reflexo em algumas questões: em primeiro lugar, uma fortíssima pressão sobre o preço de venda para dar resposta a um consumidor cada vez mais racional e menos fiel, o que gerou contenção de margens e uma deflação. Tudo isto implica uma dinâmica permanente de reinvenção de soluções, reestruturação de custos, de pressão na produtividade, que é certamente o cenário que nos vai acompanhar durante os próximos cinco anos.

H – O sector é muitas vezes acusado de praticar margens superiores por comparação com outros países europeus. Isso corresponde à realidade?

L.V.S – Há uma grande pressão nas margens, tanto do lado da Distribuição como até da Indústria. Mas não tenha dúvidas que lado da indústria há margens mais elevadas do que na generalidade dos países europeus.

H – A necessidade de optimização operacional tem levado a Distribuição a estabelecer parcerias junto da Produção, como clubes de produtores, fileiras qualidade, lógicas de gestão conjunta de categoria, etc. Aquilo que antes pareciam ser interesses inconciliáveis transformaram-se, hoje, em noções claras de parceria ao nível de todo o circuito alimentar. É este o caminho a seguir?

L.V.S – Há um conjunto saudável de iniciativas entre a Produção e a Distribuição, por exemplo na área dos perecíveis, ao nível das poupanças do lado do back-office, em termos de supply chain e da logística, e mesmo em termos negociais. Hoje há mais clareza sobre o que são as políticas e os objectivos de um lado e do outro. Neste momento, eu diria que há um cenário relativamente equilibrado, porque as próprias forças também o estão.

H – O cenário é, de facto, totalmente diferente hoje em dia. Nesta lógica de trabalho conjunto, não poderemos deixar de abordar a questão das marcas próprias. A Distribuição conquista quota crescente e entra em categorias que até há bem pouco tempo seriam impensáveis. O desenvolvimento da marca do distribuidor é para continuar?

L.V.S – Claramente! A marca própria é neste momento uma das principais alavancas estratégicas de muitos grupos distribuidores, assumindo-se como um veículo de competitividade e fidelização de clientes e desencadeando adicionalmente uma saudável pressão sobre a competitividade das marcas da Indústria. A marca própria está aí para continuar e vai ter desenvolvimentos muito significativos nos próximos tempos, entrando em áreas que normalmente não eram o seu território.

H – Ainda nessa lógica, a marca própria é também um elemento de diferenciação e até de credibilidade, conquistando inclusivamente espaço nobre em linear…

L.V.S – O tempo das marcas brancas já lá vai. A proposta de valor da marca própria é oferecer a um consumidor cada vez mais informado e exigente, produtos com níveis de qualidade elevados, mas a preços muito mais apelativos. Naturalmente, isto gera uma dinâmica muito importante ao nível da credibilidade, da confiança e de inovação, até em termos de packaging. E é claramente um instrumento de fidelização às insígnias.

H – Muitos analistas consideram que, no futuro, estarão em linha um primeiro preço, a marca própria e mais uma ou duas referências em cada categoria. Ou seja, o espaço para as marcas tradicionais está a ser reduzido…

L.V.S – Sem prejuízo dos operadores que continuam a configurar uma estratégia de oferta de amplos sortidos, há um esforço muito mais exigente sobre as marcas do que havia no passado. Neste momento, uma marca tem um custo de oportunidade de presença na prateleira que tem que ter uma contrapartida clara ao nível da rentabilidade e da rotação. As marcas têm um papel específico junto dos distribuidores. Ou cumprem esse papel ou verão o seu caminho ser tomado por outros.

H – Para finalizar: o sector cresceu 7,3% num cenário de limitação à expansão, como falámos no início. Com o novo contexto em que estão atribuídas muitas licenças e que deverá revelar a entrada de novos operadores, como a Aldi ou o desenvolvimento da cadeia Netto, como perspectiva o futuro próximo do sector?

L.V.S – Durante este ano, acreditamos que os números vão ser semelhantes a 2004. Para 2006, vai haver um jogo entre duas forças contraditórias: por um lado, uma maior dinâmica e maior competitividade, mas por outro, uma pressão sobre a necessidade de deflação e contenção de preços, o que também pode reduzir em termos nominais a própria actividade. Do balanço destas duas forças vai surgir o crescimento do sector. Mas não tenho dúvidas que em termos reais vamos ter um ano de crescimento claramente acima do PIB.