Distribuição

Distribuição evolui 7,3%

Por a 7 de Outubro de 2005 as 15:26

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A maior abertura dos grupos retalhistas tem reflexo directo no Ranking da Distribuição, apresentado pela segunda vez pela APED no passado dia 13 de Setembro. Num sector que terá investido 200 milhões de euros durante o exercício de 2004 e crescido 7,3%, inaugurando 50 novos espaços comerciais, a posição relativa dos operadores mantém-se inalterada, com os activos da Sonae a mostrarem a sua força.

O último exercício completo foi ainda condicionado legalmente ao nível do crescimento, o que terá limitado uma eventual evolução mais acentuada no sector da distribuição retalhista. Apesar disso, a inauguração de mais 50 pontos de venda durante o ano, num investimento calculado pela APED em 200 milhões de euros, fez com que este universo crescesse a ritmos de 7,3%, marca particularmente assinalável num contexto de retracção de consumo. O volume de negócios ascendeu assim aos nove mil milhões de euros, muito impulsionado pelos formatos de retalho especializado, uma vez que as insígnias de índole alimentar evoluíram na ordem dos quatro pontos percentuais.

A variação verificada no volume de negócios relaciona-se directamente com os crescimentos sentidos ao nível da área de venda e do número de lojas, os quais, respectivamente, situaram-se nos 6,5 e nos 5,8 por cento. Nesse sentido, é de assinalar que o volume de negócios subiu mais 0,8% do que a área de venda e mais 1,5% relativamente ao número de lojas. Numa base comparativa face ao parque de lojas existente no final de 2003, portanto, os ritmos de evolução são bem mais lentos do que os 7,3%, confirmando as dificuldades sentidas no grande consumo.

O universo APED apresenta agora um total de 1,226 unidades comerciais e 1,4 mil milhões de metros quadrados de área de venda. A este propósito, saliente-se que, decorrendo directamente da nova lei do licenciamento comercial, a Associação calcula que o espaço já licenciado ao abrigo do novo regime ronde 10% da área instalada em território nacional. Sobre esta matéria, a APED continua a recomendar que o sistema faseado de atribuição de licenças passe para contínuo, mas até agora não tem qualquer sinal de que tal vá acontecer.

A análise dos dados agora apresentados em comparação com a evolução 2002/2003 mostra que os níveis de crescimento se mantiveram “em linha” com o que já se havia registado no exercício anterior, com natural excepção para o número de lojas, uma vez que em 2003 o acréscimo situara-se apenas em 2,9 por cento, em plena fase de condicionamento ao crescimento das cadeias de distribuição.

Sonae na liderança

Quanto à posição de mercado dos diferentes grupos retalhistas, a operação da Sonae continua a mostrar a sua força, liderando tanto no retalho especializado como no alimentar. A nível global, a Modelo Continente apresentou um volume de negócios de 2,2 mil milhões de euros no conjunto das suas insígnias, assumindo alguma distância face ao segundo colocado, o grupo Jerónimo Martins, desta feita com uma facturação estimada em 1,7 mil milhões de euros.

O terceiro posto é ocupado pelos Mosqueteiros, com 1,3 mil milhões de euros registados no exercício, seguindo-se a Auchan (mil milhões de euros) e a Lidl, com perto de 900 milhões de euros. Neste último caso, porém, os números revelados são apenas estimativas, uma vez que o grupo Schwarz não permite a divulgação dos resultados financeiros das suas operações no exterior, justificou a APED.

A cadeia Minipreço, líder em número de pontos de venda, surge na 6ª posição, logo seguida do Carrefour. Ainda que estes dois negócios sejam separados para efeitos contabilísticos, é de referir que ambos pertencem ao mesmo grupo internacional. Os franceses, que adquiriram a Minipreço por via da compra da espanhola Dia, conseguem um volume de negócios de 1,1 mil milhões de euros, separados em 500 milhões para o formato de hipermercados e cerca de 600 milhões para as lojas de desconto.

Na oitava posição surge a primeira insígnia de retalho especializado. A Worten apresentou um volume d negócios de 380 milhões de euros, o que a coloca como número um no ranking do retalho de índole não alimentar e numa posição bastante considerável em termos globais. A insígnia, recorde-se é também pertença da Sonae, confirmando a liderança de mercado do grupo comandado por Belmiro de Azevedo. O El Corte Inglés, com apenas uma única loja de grandes dimensões e mais um espaço Supercor, atingiu a cifra de 275 milhões de euros, posicionando no nono lugar. A terminar o top ten, encontramos a segunda marca de retalho especializado, neste caso a Fnac, com facturações na ordem dos 200 milhões de euros.

Ao nível do retalho não alimentar, a liderança pertence à Worten, como se disse, seguida pelo El Corte Inglês, que a APED coloca nesta categoria, apesar das vendas da loja alimentar também contribuírem para a facturação global apresentada. Vem depois a Fnac, colocando-se o Office Centre no quarto posto, à frente da Aki, Sport Zone, Ikea, Modalfa, Vobis e Max Mat, insígnias que, por ordem decrescente, completam o leque das maiores marcas nesta área de negócio específica.

Modelo mais rentável

A análise de mercado dada a conhecer pela APED permite, paralelamente, retirar uma série de interessantes conclusões acerca deste universo da Distribuição nacional. Em primeiro lugar, o volume de vendas por loja é naturalmente liderado pelo El Corte Inglés, uma vez que contabiliza apenas uma grande de unidade, para a qual contribuem todas as vertentes de negócio. O segundo posto é ocupado pelo IKEA, que também com apenas uma unidade comercial factura cerca de 80 milhões de euros.

Das insígnias que possuem parques de lojas alargados, os formatos hiper são obviamente as unidades que mais vendem, sendo igualmente este ranking liderado pela Sonae, através da Continente, com uma média de 75 milhões de euro por loja. Seguem-se Carrefour (72 milhões), Auchan (68), Fnac (28) e Feira Nova (26). Neste último caso, a média baixa consideravelmente face às restantes insígnias de hipermercados porque o grupo Jerónimo Martins está a apostar estrategicamente no desenvolvimento de médios formatos dentro da chancela Feira Nova, o que naturalmente faz baixar o volume de vendas médio por unidade.

Nos supermercados, a Sonae volta a destacar-se, uma vez que a Modelo apresenta uma facturação por unidade na ordem dos 12 milhões de euros, contra seis milhões da Lidl, 5,6 milhões da Pingo Doce e três milhões por parte da Plus. É de salientar, neste particular, que a Worten também merece realce, situando-se mesmo acima de algumas insígnias de distribuição alimentar, pois cada unidade, em média, perfaz seis milhões de euros por exercício.

Por outro lado, os níveis de serviço dos conceitos de desconto ficam expressos no facto de ser a Lidl quem comanda ao nível do volume de vendas por empregado. Calcula-se uma facturação de 400 mil euros por cada colaborador, sendo a ideia reforçada pelo quarto posto ocupado pela Minipreço. Neste particular, o retalho especializado também aparece “bem classificado”, uma vez que Worten e Vobis ocupam a segunda e terceira posições. Os hipermercados também fazem parte deste universo, ao introduzirem duas insígnias nos dez primeiros, concretamente Carrefour e Continente.

A rentabilidade da loja face aos recursos humanos é naturalmente uma vertente de análise interessante, tal como a mesma lógica mas face à área de venda. Aqui, os líderes são os supermercados Modelo, que apresentam uma facturação média por área de venda de 163 mil de euros, seguindo-se outro conceito semelhante, o Pingo Doce (146 mil), a Lidl (143), Continente, Feira Nova, Auchan, Minipreço e Carrefour. Ou seja, são as insígnias de retalho alimentar quem, claramente, apresenta maior rentabilidade por área de venda. As primeiras unidades de retalho especializado aparecem apenas na nona posição (El Corte Inglés) e na décima (Worten).

Pingo Doce emprega mais

Voltando aos recursos humanos, é de salientar que, por insígnias, a Pingo Doce constitui o maior empregador, com um total de 7.876 colaboradores nos seus 178 pontos de venda (números referentes a 31 de Dezembro de 2004, ou seja, sem contar com as unidades que entretanto entraram em funcionamento). A Auchan consegue neste particular uma performance de destaque, pois dá emprego a 6.500 pessoas, enquanto a Modelo atinge 6.197 e o Continente 5.635. A cadeia Minipreço detém o maior número de lojas mas são unidades de pequena dimensão, o que faz com que surja apenas no sexto lugar em termos de número de empregados, concretamente com 2.565. A Lidl, comprovando o processo de expansão, surge com 2.246 profissionais agregados ao seu parque de lojas, ao mesmo tempo que a unidade do El Corte Inglés, pela sua dimensão já comprovada noutros elementos de análise deste artigo, tem contratualizados 1.896 colaboradores.

No que diz respeito ao número de lojas, e tal como já foi referido, lidera a Minipreço, com um parque de 344 unidades, seguindo-se a Pingo Doce (178), Lidl (147) e a Modelo (92). No retalho especializado, a Worten surge com a quinta posição e um parque de 63 unidades, significativo tendo em atenção o conceito explorado, pois naturalmente são as insígnias do ramo alimentar que apresentam mais pontos de venda espalhados pelo território português.

Aberturas limitadas

Como já foi referido, 2004 foi um ano moderado ao nível de aberturas, tendo em atenção que a nova lei, a qual eventualmente desbloqueia os condicionamentos, só foi publicada no final do exercício. Assim sendo, foram inaugurados 49 pontos de venda, num investimento que a APED calcula à volta dos 200 milhões de euros. Estes números, assinale-se, são referentes apenas ao universo APED, que entre outras insígnias de menor expressão não contabiliza o grupo Os Mosqueteiros. De qualquer modo, a Associação é representativa da grande maioria do sector, até porque os próprios Mosqueteiros também estiveram condicionados durante o exercício.

Exemplo prático das limitações impostas legalmente é o facto de apenas ter aberto portas um hipermercado durante o ano, concretamente o Jumbo de Vila Real. É certo que, face à saturação dos grandes centros urbanos, muitos dos operadores procuram agora outros formatos, como é o caso do Jerónimo Martins através dos médios formatos Feira Nova. No entanto, os franceses da Auchan provam que ainda há espaço para mais unidades hiper, na medida em que concentram as suas forças nesse formato e já anunciaram terem cerca de 350 milhões de euros para investir em novas lojas.

Os supermercados foram igualmente modestos nas aberturas, tendo em atenção que são pontos de venda com dimensões mais adaptáveis a outras localidades que não os grandes centros urbanos, e portanto com algum espaço de crescimento. Durante o exercício, O Feira Nova, com a recente configuração de médios formatos abriu três lojas, cada uma com menos de dois mil metros quadrados, enquanto a insígnia Modelo só localizou uma unidade em Vila Nova de Gaia. O Pingo Doce, tal como o Feira Nova pertencente ao grupo Jerónimo Martins, conseguiu quatro espaços comerciais, ao mesmo tempo que a Supercor, dos espanhóis do El Corte Inglés, estreou-se com a sua loja de Sintra.

Com muito maior dinâmica estiveram os conceitos de desconto alimentar e o retalho especializado. No primeiro caso, destaca-se a performance da Plus, que abriu sete novas lojas. Este número continua muito longe dos planos de expansão anunciados pelo grupo aquando da sua entrada no País, mas configura o maior crescimento deste conceito, pois a Lidl abriu apenas cinco lojas e a Minipreço quatro. Curiosamente, verifica-se que a área de venda inaugurada nos conceitos de desconto é semelhante à dos supermercados, numa relação de 13.490 m2 para 12.136 m2.

Em grande estiveram os formatos de retalho especializado, aumentando a área em quase 50 mil metros quadrados e o número de lojas em 23 unidades. Não existe uma insígnia que se tenha destacado especialmente, mas a Sonae, que lidera claramente o segmento, conseguiu uma boa performance, na medida em que pôs em funcionamento quatro Sportzone, três Modalfa, duas Worten e uma Vobis, ou seja, quase metade do total de espaços que abriram portas durante o exercício.

Perspectivar o futuro

A generalidade dos grupos de distribuição tem vindo a reivindicar possibilidade de desenvolver os seus planos de expansão, anunciando avultados investimentos e vontade de crescimento. O novo enquadramento legal, tendo acabado com as quotas, abre realmente novas possibilidades, mas também é certo que não garante a concretização de todos os projectos de expansão, pois poderá até criar zonas de crescimento zero. Ainda assim, está já autorizada área que, segundo a APED, representa cerca de 10% do actual parque instalado, sendo que a Sonae, muito por força das insígnias de retalho especializado, lidera igualmente nas novas atribuições.

A última actualização da Direcção-geral da Empresa, datada de 4 de Julho de 2005, contabiliza já um total de 344 novas unidades autorizadas, mais 92 do que se tinha verificada em finais de Março. Ou seja, em apenas três meses criaram-se quase uma centena de novas licenças ao abrigo do regime de licenciamento comercial agora em vigor. O processo tem tido os seus atrasos, mas o cenário é agora totalmente diferente para os grupos de distribuição.

Por insígnias, o destaque vai claramente para os conceitos de desconto, com um total de 35 atribuições para a Plus, 33 para a Lidl e ainda 21 lojas Minipreço. Nos supermercados, a Modelo consegue abrir 23 espaços, mas o Pingo Doce apenas contabiliza autorização para sete novos espaços. Contudo, e tendo em atenção a aposta estratégica nos médios formatos sob chancela Feira Nova, o grupo Jerónimo Martins prepara-se para colocar em funcionamento mais 14 unidades, ao que se junta a redução de área prevista para o Feira Nova de Mirandela, comprovando precisamente a aposta em dimensões mais reduzidas que o grupo está agora a fazer. Os Mosqueteiros, por seu turno, dividem-se entre 10 novos Intermarché, 5 Ecomarché, 4 Bricomarché e ainda 5 Vetimarché, ao que se junta a autorização para a estreia no conceito de desconto através da insígnia Netto, que no entanto apenas conta com autorização de abertura para uma unidade (em Valongo), por enquanto.

No segmento hipermercados, confirma-se plenamente o menor dinamismo do formato, pois a listagem da DGE apenas inclui três Jumbo, um Carrefour e nem uma unidade Continente. O crescimento das superfícies de grande dimensão, portanto, estará praticamente reduzido às licenças de que os grupos já dispunham, pois o novo regime, seja por estratégia dos operadores e portanto por falta de pedidos, seja pela própria natureza do processo de atribuições, parece não favorecer os hipermercados.

Em relação ao retalho especializado, a Sonae mostra a sua força, pois prepara-se para “dar a conhecer” mais 25 Worten, 21 Modalfa, 9 Sportzone e 8 Vobis, 8 Zippy Kidstore e 6 Max Mat, ou seja, um total de 77 unidades. Mesmo que de forma mais moderada, outras marcas estão também a desenvolver os seus projectos, com destaque para os oito Staples Office Centre já autorizados. Aliás, refira-se que o retalho especializado tem sido precisamente um conceito impulsionador desta nova lógica de abertura de unidades, concentrando boa parte dos esforços de investimento dos operadores, e em particular da líder Sonae.