FMCG Marcas

Concentração no sector

Por a 7 de Outubro de 2005 as 15:22

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O exercício de 2004 veio demonstrar, de acordo com a AC Nielsen, uma evolução no volume de vendas no mercado dos ovos face a período homólogo, registando-se situação inversa no valor das vendas. A nível internacional, um estudo efectuado para a Comissão Europeia coloca o nosso país com uma quota de dois por cento na UE dos 25, revelando uma quebra na produção nos últimos dez anos.

Os últimos dados disponibilizados pelo Agra Ceas Consulting referentes à indústria de ovos na Europa dos 25, vêm apresentar uma produção de 6.349 milhões de toneladas de ovos para consumo humano no ano de 2003, correspondendo a um aumento de dez por cento desde 1995. O ano de 1999 marca a passagem da fasquia das seis mil milhões de toneladas, registando-se um aumento de produção até ao ano 2001, exercício a partir do qual a curva de evolução começa a apresentar uma queda, muito devido ao aparecimento do vírus Influenzae A(H5N1) ou “gripe das aves” em países como Itália, Holanda ou Bélgica. Para esta evolução, muito contribuiu a performance da UE 15, demonstrando maior vitalidade e uma produção bem superior à dos dez estados-membro recém chegados, cuja participação na actual produção europeia ronda os 16 por cento. Analisando mais detalhadamente os resultados do estudo efectuado para a Comissão Europeia, o período entre 1995 e 2003 apresenta a Espanha como o maior produtor no espaço comunitário, representando 20 por cento da produção da UE 15. França (17%), Alemanha (15%), Itália (14%) e Reino Unido (13%) completam o quadro dos maiores produtores de ovos no espaço europeu durante os oito anos em análise, equivalendo a produção destes cinco países a 79 por cento da totalidade da Europa dos Quinze. Muito distante das quotas anunciadas por estes cinco países aparece Portugal com dois por cento, revelando produções similares à de países como a Áustria, Grécia e Suécia, situando-se porém ligeiramente acima dos números apresentados pela Dinamarca, Finlândia e Irlanda. Quanto ao último ano em análise neste estudo – 2003 – verifica-se que a nossa vizinha Espanha perde o primeiro lugar para a França, país que com 18 por cento de quota se situa à frente do Reino Unido (15%), Alemanha, Espanha e Holanda (14%) e Itália (13%). Portugal mantém os dois pontos de quota, descendo no “ranking” em que somente a Irlanda apresenta uma quota inferior com um por cento. No que diz respeito aos dez novos estados-membro, saliente-se a importância da Polónia neste sector de actividade, apresentando quase metade da produção total dos países de Leste, com 45 por cento. Se juntarmos aos resultados da Polónia a quota da Hungria (18%) e República Checa (16%), conclui-se que estes três países são responsáveis por 80 por cento da produção dos dez países agora integrados na União Europeia.

No global, e analisando os dados fornecidos pelo estudo da Agra Ceas para o ano 2003 – tendo por base a produção na UE 25 –, a Espanha volta ao primeiro lugar com uma quota de 17 por cento, perfazendo com a França (15%) e a Alemanha (12%), 44 por cento da produção europeia. No que diz respeito ao consumo, é a Alemanha que aparece como líder, consumindo 20 por cento da produção europeia em 2003, seguida da Espanha com 18 e da França com 17 por cento. No consumo per capita, a situação regista nova alteração, aparecendo a nossa vizinha Espanha com maior consumo por habitante durante 2003, com aproximadamente 25 quilos, muito distante dos pouco mais de 16 quilos da Dinamarca, figurando Portugal na cauda da tabela com menos de dez quilos.

Ovos portugueses

Quanto à situação portuguesa, o estudo da Agra Ceas refere que, em Janeiro de 2003, o nosso país transpôs na totalidade a directiva 1999/74/EC e que a partir de 2012 implementará a legislação comunitária quanto à política de produção de ovos em baterias, isto para além de já ter adoptado medidas no sentido de identificação da origem dos ovos, concretamente com as indicações a serem impressas na casca de ovo.

Se excluirmos as produções próprias, a Agra Ceas revela que Portugal produziu cerca de 100 mil toneladas de ovos no exercício de 2003, salientando o estudo que as produções provêm de 175 empresas (com mais de 350 galinhas poedeiras) e empacotados em 93 “estações”, das quais mais de metade estão directamente ligadas ou pertencem aos produtores. Quanto aos locais de produção, estes estavam concentrados nas regiões da Beira Litoral e Ribatejo, possuindo um total de 7,5 milhões de galinhas poedeiras, o que corresponderia a uma média de 43 mil galinhas por unidade de produção. Em 2003, revela o estudo, 98,5 por cento da produção nacional processava-se em sistemas de baterias tradicionais, ficando o restante entregue a galinhas do campo, constituindo a produção biológica um número ainda muito reduzido. Com o país a ser auto-suficiente, exportando ainda cerca de duas mil toneladas, a indústria portuguesa de avicultura produziu, em 2003, 100.700 toneladas de ovos, correspondendo a uma descida de aproximadamente cinco mil toneladas face a período homólogo. De resto, Portugal tem mantido uma produção equilibrada, verificando-se que, de 1990 a 2003, somente por uma vez – precisamente em 1990 – a produção ficou abaixo das 100 mil toneladas. Os dados apresentados pela Agra Ceas revelam que, de 1990 a 1994, a produção de ovos cresceu mais de 30 por cento em Portugal, chegando a atingir em 1994 as 122 mil toneladas. A partir desse ano, a produção de ovos começou a registar uma ligeira quebra, chegando em 2003 às já referidas 100.700 toneladas, correspondendo a aproximadamente 1,6 mil milhões de ovos.

Até 2003, verificou-se igualmente alguma concentração no sector da produção, com a maior parte a possuir mais de 30 mil galinhas poedeiras. De acordo com o estudo realizado para a Comissão Europeia, o número de produções com menor número de galinhas tem vindo a diminuir, com mais de 65 por cento da produção a sair de unidades com mais de 30 mil galinhas, enquanto que em 1990, essas unidades representavam cerca de 45 por cento da indústria dos ovos em Portugal. De resto, em 1990 existiam, de acordo com o estudo da Agra Ceas, 387 mil locais de produção de ovos, das quais somente 290 possuíam mais de três mil galinhas poedeiras, constituindo estas as reais unidades de produção profissionais.

No ano 2000, o número de locais de produção decaiu para 235 mil, registando-se que somente 200 possuíam mais de três mil galinhas. O estudo revela ainda que no início do século XXI, 90 empresas com mais de 30 mil galinhas poedeiras detinham cerca de 70 por cento do total das galinhas poedeiras em Portugal. Na sua maioria, as unidades de produção – 89,1% ou 156 das existentes – possuíam baterias tradicionais, com 98,5 por cento das galinhas poedeiras a colocarem os seus ovos nesses mesmos sistemas.

Quanto ao mercado, o estudo refere que somente 49 por cento dos ovos eram colocados à venda na Moderna Distribuição, em 2003, ficando 24 por cento para o sector da transformação, 14 para o sector Horeca e os restantes 13 para a exportação, constituindo as vendas directas uma fracção muito reduzida.

Super dominam nos ovos

No que diz respeito ao mercado dos ovos em Portugal no canal Alimentar, e de acordo com os dados fornecidos pela AC Nielsen (não englobando a estimativa da Jerónimo Martins) para o ano 2004, verifica-se que o total das vendas em valor registaram uma queda de pouco menos de dois milhões de euros face ao exercício transacto. Enquanto o ano de 2003 registou vendas no valor de 27,3 milhões de euros, esse número baixou para os 25,2 milhões no exercício passado, cabendo a grande fatia comercializada em Portugal aos ovos de galinha, com outros tipos de ovos a valerem somente 124,8 mil euros, no final de 2004, correspondendo a uma subida de vinte mil euros face a 2003.

O domínio nos ovos de galinha pertence claramente aos ovos de classe M (médios – 53 a 63 gramas), com 12,5 milhões de euros, em 2004, registando-se uma ligeira subida de pouco mais de 100 mil euros face a 2003. As classes L (grande – 63 a 73 gramas) e XL (gigante – mais de 73 gramas) registaram, por sua vez, uma quebra nas vendas em valor, passando de 9,3 para 8,1 e 5,2 para 4,2 milhões de euros, respectivamente.

Analisando as vendas na Moderna Distribuição, os dados da AC Nielsen apontam o canal dos supermercados como dominante na comercialização de ovos, vendendo mais seis milhões de euros que os hipermercados, registando uma quebra de pouco mais de 1,7 milhões de euros. Os 15,6 milhões de euros de ovos vendidos nos supermercados correspondem a uma quota de aproximadamente 61 por cento, uma descida de dois pontos face aos resultados apurados pela consultora no exercício de 2003. Também nos supermercados, são os ovos de galinha de classe M os que apresentam maior venda, com mais de 8,6 milhões de euros, secundados pelos ovos de classe L e XL, respectivamente com 5,1 e 1,6 milhões de euros.

Quanto aos hipermercados, a quebra das vendas foi mais ligeira que a verificada nos supermercados, passando a sua totalidade de 9,8 para 9,5 milhões de euros. Tal como nos supermercados, são os ovos de classe M que dominam as vendas, com cerca de 3,8 milhões de euros, apresentando, no entanto, um comportamento diferente do referido canal, com uma ligeira subida de 400 mil euros. Seguindo a situação verificada nos supermercados, as classes L e XL apresentam-se como “segundas forças”, apesar de neste canal a diferença em relação à classe M ser bem mais reduzida, apresentando ambas as classes quedas no valor de vendas. De referir ainda que, ao contrário do que é verificado nos ovos de galinha, onde dominam os supermercados, são os hiper que mais comercializam a categoria de outros ovos, registando uma quota de 59 por cento, com mais de 74 mil euros, uma descida de quatro por cento face a 2003.

Comportamento diferente das vendas em valor teve o volume de vendas, apresentando o exercício de 2004 uma subida face ao período homólogo, significando isto que os portugueses estão a comprar os seus ovos a preços mais baratos. A maior subida foi registada pelos ovos de classe M, passando de 107 para 124 milhões de unidades. Se no quadro das vendas em valor os ovos de classe M representavam cerca de 49 por cento, no volume de vendas essa quota sobe para os 54 pontos percentuais, concluindo-se que esta é de facto a classe de ovos preferida dos portugueses. A distância considerável aparece a classe L com aproximadamente 72 milhões de unidades comercializadas em 2004, menos seis milhões que em 2003. Comportamento negativo registou também a classe XL, perdendo perto de cinco milhões de unidades de 2003 para 2004, fixando-se contudo acima das 30 milhões de unidades vendidas. Além da classe M, a outra subida no mercado dos ovos foi registada pelos ovos especiais, passando de 1,212 para 1,269 milhões de unidades.

Se em relação às vendas em valor o mercado foi dominado, em 2004, pelos supermercados, esse domínio é ainda mais evidente nas vendas em quantidade com uma quota de 64 por cento, correspondendo a mais de 87 milhões de unidades comercializadas, secundadas pelas 45 milhões da classe L e das 11 milhões da classe XL. Já nos hipermercados, o domínio da classe M é ligeiramente menor, apesar de vender mais dez milhões de unidades que a classe L.