FMCG Marcas

Horeca permanece estagnado

Por a 19 de Setembro de 2005 as 15:43

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De acordo com o Barómetro Nielsen 2004, o sector Horeca sentiu na pele as dificuldades económicas das famílias durante todo o ano de 2004. Nem o campeonato europeu de futebol evitou que a maioria dos segmentos de mercado mostrasse estagnação ou mesmo ligeira quebra no consumo, com excepção das águas, impulsionadas pelas gaseificadas com sabor, e dos vinhos aperitivos, que revelam uma alteração do comportamento do consumidor no canal.

Apesar do Euro, 2004 foi um ano onde o consumo no canal Horeca revelou um comportamento bastante moderado, com excepção dos vinhos aperitivos e da água. De facto, estas duas categorias mostraram ser as grandes responsáveis pelo atenuar de um cenário de contracção de consumo quase generalizado. No caso da água, a subida de três por cento em volume nem é assim tão significativa, mas uma variação de oito pontos em valor revela a forte dinâmica que foi imprimida ao sector, nomeadamente através do desenvolvimento da categoria águas com sabor, que acabou por impulsionar o mercado, particularmente em termos de valor. Durante o exercício de 2004, reporta o barómetro da AC Nielsen, as vendas de água no INCIM (Índice Nielsen Consumo Imediato) cifraram-se nos 227 milhões de euros, sendo esta a terceira categoria mais importante em termos de vendas.

Os vinhos aperitivos foram a outra categoria que mostrou um comportamento francamente positivo durante o ano, depois de uma evolução de oito pontos em volume e de 13% em valor, a maior subida durante o período em análise. Não será correcto relacionar este crescimento com o fluxo de turismo que se verificou durante o campeonato da Europa, na medida em que o consumidor típico que veio a Portugal nessa altura, por regra, era consumidor de cerveja. Por outro lado, se é verdade que houve grande afluência durante o Euro, o restante turismo decresceu consideravelmente no resto do ano. Nesse sentido, a variação nos vinhos aperitivos tem que ser conotada com uma mudança de hábitos de consumo.

Neste universo, os aperitivos propriamente ditos (a Nielsen considera neste segmento referências como Aliança, Alijó, Campari e Ricard, por exemplo) subiram 23% em volume e 27% em valor, enquanto o moscatel demonstrava igualmente grande dinamismo, ao crescer no período 18% em quantidade e 17% em valor. No primeiro caso, todavia, as vendas representam somente três por cento do total da categoria – estimada em 33,7 milhões de euros – em volume e cinco em valor, enquanto o moscatel atinge uma participação a rondar os 25 pontos nos dois índices. O maior subsegmento, representando cerca de 70% do total de vendas, quer em volume quer em valor, e onde se incluem os vermutes (Martini, Gancia, Cinzano, entre outras marcas) também evoluiu favoravelmente, desta feita cinco pontos em volume e 12% em valor, confirmando em pleno o dinamismo da categoria.

Baixas importantes

Curiosamente, o consumo de cerveja, sempre muito associado ao futebol, teve um comportamento negativo durante 2004, pois decresceu cinco por cento em volume e três em valor. Sendo esta a maior categoria, com vendas anuais superiores a 580 milhões de euros no canal, a performance em baixa deixa bem clara a recessão de que os empresários do sector se foram insistentemente queixando. De facto, e contrariamente ao previsto, o campeonato da Europa de futebol não terá sido assim tão decisivo e importante para o sector Horeca.

Aliás, o mesmo facto fica comprovado igualmente quando observamos o comportamento da segunda maior categoria, as bebidas refrescantes. Neste caso, as vendas de 392 milhões de euros corresponderam a um decréscimo de três por cento, enquanto nas quantidades comercializadas a categoria também descia, desta feita quatro pontos. Ou seja, também aqui não se notou qualquer impulso e, bem pelo contrário, regista-se uma quebra particularmente significativa se tivermos em atenção que os sumos e refrigerantes são produtos que vinham evoluindo favoravelmente desde há muitos anos. Em 2004, aliás, inverte-se a tendência de crescimento, tanto no canal Horeca como no Alimentar, factor que revela, e bem, as condicionantes de consumo que marcaram o exercício.

Variações moderadas

Outro dado interessante na análise do INCIM é o crescimento em valor das pastilhas elásticas (6%), apesar da quebra em volume de um ponto percentual. As modernas tendências de consumo apontam para uma maior penetração de produtos identificados como saudáveis, onde esta categoria não se inclui. Não estando a aumentar os níveis de penetração, contudo, a inova inovação e diversificação permitiu gerar valor no mercado, ao registar a terceira maior subida do ranking em termos de valor. Claramente, isto deve-se às novas propostas que as empresas do ramo deram a conhecer.

A quarta categoria, e muito importante para o sector devido às margens que deixa, é o café torrado, que desceu um por cento em quantidade e aumentou, em valor, dois pontos percentuais. É um segmento com níveis de maturidade elevados e, como tal, com poucas oscilações, como seria de esperar. De qualquer forma, vale mais de 200 milhões de euros anuais, o que só por si deixa evidenciada a importância decisiva para a facturação do sector.

A estagnação foi sentida em diversas categoria de produto, entre as quais encontramos os vinhos, excluindo, portanto, os aperitivos. Neste caso, regista-se uma variação zero em termos de volume e um ligeiro decréscimo de um ponto em valor, para um volume de negócios a rondar os 178 milhões de euros. O sector tem vindo a ser acusado de praticar preços demasiado elevados, concretamente abusando das margens de lucro. Em consequência, o consumo de vinho acaba por ser condicionado, face a uma “concorrência” feroz do ponto de vista do marketing e que constitui alternativa viável e mais em conta, o que por alturas de crise se torna um elemento muito importante.

Por outro lado, e tendo em atenção toda a pressão que tem sido feita sobre a condução sob efeitos de álcool, a inexistência da venda de vinho a copo de forma generalizada também contribui para que a cerveja e outras bebidas sejam muitas vezes preferidas em detrimento daquele que constitui um dos produtos mais emblemáticos da nossa cultura. O consumo de vinho, como tal, está condicionado por razões de estratégia comercial, nomeadamente quanto ao vinho a copo e as margens praticadas na restauração.

Com uma evolução positiva, ainda que discreta, encontramos o whisky, depois de um crescimento em volume de dois por cento e um aumento de três pontos no valor de mercado, que rendeu durante o período em análise cerca de 50 milhões de euros, revela o Barómetro. Em valor, também a categoria brandy/aguardente de cor evoluiu 3%, apesar de um ligeiro decréscimo de um ponto em volume. Estas bebidas representam para o universo Horeca cerca de 25 milhões de euros por ano.

Em termos genéricos, e considerando as excepções dos vinhos aperitivos e das águas, neste último caso com uma evolução particularmente sentida em valor, o cenário de consumo de bebidas no canal pode ser caracterizado por alguma estabilização, pois as variações, sendo positivas ou negativas, são pouco expressivas. Mesmo a vodka, bebida da moda que apresentava crescimentos sucessivos, apresenta agora vendas moderadas, sendo certo também que neste universo estudado pela Nielsen, e que não inclui o canal Noite, falamos de valores pouco expressivos, tanto que não chegam a colocar a bebida no top ten de vendas. No ano em análise, refira-se, venderam-se cerca de 64 mil garrafas, num valor aproximado de 520 mil euros.

Já nos produtos não líquidos, encontramos o caso favorável das pastilhas (em valor) e também dos chocolates (crescimento de 3% em valor apesar da quebra de 4% em quantidade) e dos drops e caramelos, aumentando 4% em valor, ainda que no volume se tenha verificado um decréscimo de um por cento. Face à relativa estabilidade do mercado, são de salientar os decréscimos sentidos nos aperitivos e nos cafés solúveis em carteirinhas, ainda que sejam categorias com muito pouco significado face ao global de mercado. No primeiro caso, falamos de valores na ordem dos seis milhões de euros, em quebra face a uma descida de 14% em valor e de sete pontos em volume. No segundo, os montantes cifram-se nuns insignificantes 610 mil euros, após uma descida de 12%, correspondendo quebras de nove pontos em volume.

Em suma, o ano não foi particularmente animador para um sector que se via, ainda, na possibilidade de aumentar a carga fiscal, facto que faria subir os preços e que, numa fase de contracção de consumo, certamente iria acentuar ainda mais as dificuldades. As perspectivas para 2005 também não são particularmente animadoras, na medida em que o ambiente económico continua extremamente complicado. Assim sendo, o sector irá continuar a viver tempos difíceis, aguardando ansiosamente a anunciada e sucessivamente adiada retoma.